Arroz, feijão e biscoitos. A Camil (CAML3) anunciou a compra da Mabel e do licenciamento da marca Toddy para a categoria de cookies (ambas da PepsiCo), marcando a entrada da companhia no mercado de biscoitos e gerando mais uma concorrente para a M. Dias Branco (MDIA3) nesse nicho.
O mercado local reagiu positivamente à notícia e as ações da fabricante de alimentos chegaram a valorizar mais de +6% após o comunicado na terça-feira, 23.
Na visão do analista da Nord Research, Victor Bueno, o movimento tende a ser bastante positivo para a Camil diversificar ainda mais o seu portfólio de produtos espalhados nas gôndolas de todo o país.
Atualmente, além do tradicional “arroz com feijão” da Camil, a empresa também possui marcas líderes em açúcar (União), pescados (Coqueiro), massas (Santa Amália), entre outros 20 nomes bastante conhecidos no Brasil e em outros países, como Chile e Uruguai.
Segundo o comunicado disponível na CVM, “a aquisição reforça a estratégia de expansão geográfica para crescimento da Camil em regiões complementares às operações atuais”.
Estratégia de diversificação
Fundada por dois imigrantes italianos, a Mabel é líder em vendas de rosquinhas no país e conta com outras marcas relevantes de biscoitos, como Doce Vida e Mirabel. Enquanto isso, a marca Toddy possui o segundo maior faturamento nacional em cookies.
De acordo com os termos da negociação, a aquisição da Mabel custará a Camil cerca de R$ 200 milhões a serem pagos à PepsiCo — que, em 2011, havia desembolsado 4x mais pela empresa que, até então, faturava pouco menos de R$ 500 milhões (~1,6x receita).
O nosso analista destaca que, agora, o plano da Camil é de dobrar esse faturamento, podendo adicionar mais de 1 bilhão de reais em sua receita no médio prazo.
Novas frentes incorporadas
A aquisição ainda contempla as duas plantas industriais da Marabel (uma em Goiás e outra em Sergipe), que se somam às 33 que a Camil possui atualmente em suas operações. As duas fábricas operam atualmente com 50% de sua capacidade — o que faz com que as vendas possam dobrar sem grandes investimentos, avalia o nosso analista.
Com o grande alcance geográfico de suas operações e a escala obtida ao longo dos últimos anos, vemos que a Camil tem capacidade de fazer bom proveito dessa e de outras aquisições realizadas recentemente.
Vale ressaltar que a companhia possui um plano de crescimento inorgânico bastante aquecido e ainda possui espaço em seu balanço para mantê-lo por mais tempo.
Além da Mabel, a Camil já havia realizado outras seis aquisições no ano passado.
Mesmo que os movimentos aumentem a diversificação operacional da companhia, achamos prudente acompanhar como as adquiridas serão integradas e os futuros ganhos de sinergia, que poderão ser capturados no futuro, para ver se os resultados da empresa permanecerão sustentáveis e ascendentes.
Camil (CAML3) ou M. Dias Branco (MDIA3)?
Uma de suas principais concorrentes na frente de biscoitos é a M. Dias Branco (MDIA3).
Questionado se a nova entrante possui um potencial de valorização maior, o nosso analista pontua que, ao integrar o portfólio de marcas adquiridas, a Camil está tornando o seu portfólio cada vez mais robusto e ganhando resiliência para enfrentar os vários ciclos do mercado.
No entanto, diante do período de inflação elevada, o cenário atual é desafiador tanto para a Camil quanto para a M. Dias Branco, tendo em vista que seus resultados variam muito de acordo com a oscilação de preço de commodities atreladas aos seus produtos e das condições de consumo da população em meio à alta da inflação e dos juros.
Sendo assim, ainda que a Camil negocie a 8x lucros atualmente (contra 23x lucros da M. Dias Branco) e que os movimentos recentes sejam positivos, o momento ainda é de cautela.
Na nossa avaliação, é preciso aguardar por uma maior visibilidade de crescimento por parte da Camil no longo prazo.