Hoje pela manhã foi divulgada a atualização do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, referente ao mês de maio, ou seja, o mais novo dado da inflação brasileira. Já era esperado que tal número viesse mais baixo que o do mesmo mês do ano anterior, gerando uma queda na inflação acumulada nos últimos 12 meses (11,73%), mas ele foi ainda menor (0,47%), corroborando para a afirmação de que o pico da inflação para 2022 já passou.
A inflação, nada mais é que o aumento dos preços dos bens e serviços de uma economia ou de um país. Esse processo de aumento de preços, por muitos anos, se encontrava “adormecido” dado o efeito desinflacionário do desenvolvimento da tecnologia via ganho de produtividade, e da globalização via o aumento das trocas entre países e do uso de mão de obra mais barata.
De 2020 para cá essa dinâmica mudou devido ao choque que a pandemia causou às cadeias produtivas. O efeito explosivo nos preços foi gerado diante da impossibilidade da produção de operar em plena capacidade, do aumento da demanda por alguns produtos, além da disponibilidade de recursos pelo consumidor. Posteriormente, esse movimento foi mais agravado pelos conflitos no continente Europeu, que também afetou diretamente o comércio entre os países, assim como o fornecimento de materiais chave para a manutenção da produtividade ao redor do mundo.
No Brasil, tudo isso fez com que o nosso índice de preços ao consumidor, que antes variava entre 3 e 5% ao ano, chegasse a alcançar 12,1% em abril de 2022 (número divulgado em maio) o que, em minha análise, foi o pico da inflação para este ano já que os principais pontos de pressão aos preços praticados por aqui já estão se normalizando e/ou recuando.
Quando falamos dos alimentos, por exemplo, grande parte dos fertilizantes, que subiram de preço pelo conflito na Europa, já voltaram para os preços pré-guerra. Claro, patamar ainda alto historicamente, mas insuficiente para gerar novos picos de preço. Inclusive, o próprio preço dos alimentos no varejo brasileiro já tem recuado, mesmo que ainda de forma lenta.
Outro ponto de grande pressão para a inflação foi o custo dos fretes marítimos, que também vem apresentando uma representativa queda nos últimos meses, como é o caso do BDI (Baltic Dry Index) que voltou para o mesmo patamar de junho de 2021. Um último exemplo de ponto de pressão, e que ainda está sendo muito discutido, é a possibilidade do corte do imposto ICMS sobre os combustíveis, o que afetaria diretamente um item de grande peso para a inflação, o transporte.
Se tivesse que apontar o maior fator de risco para a descaracterização desse cenário de topo, seria pela variação (aumento) do preço do petróleo que, em minha opinião, é o que está mais pressionado, afetando direta e indiretamente o preço de todos os outros insumos.
Mas, para que a inflação atinja um novo topo já no próximo mês, dado que o IPCA de junho de 2021 foi de 0,53%, teríamos que ver o número divulgado em julho (referente a junho) acima de 0,90%, o que só aconteceu uma vez de 2000 para cá.
Nícolas Merola, analista CNPI na Inv Publicações