Assim como no mês anterior, a confiança empresarial evoluiu no sentido contrário à dos consumidores em março, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Só que desta vez houve alta empresarial e queda dos consumidores. A alta da confiança empresarial foi concentrada no Setor de Serviços. Do lado dos consumidores, a queda revertendo quase todos os ganhos da alta expressiva de 3,8 pts observada no mês anterior.
A melhora das percepções sobre a situação corrente em março está inteiramente relacionada ao fim do surto da variante ômicron e a normalização das atividades nos setores de Serviços e no Comércio. Apesar disso, as expectativas empresariais voltaram a piorar, sugerindo que a alta de março pode ter sido pontual. Colaboram para a cautela o quadro de inflação elevada, juros ascendentes e aumento da incerteza com a guerra Rússia-Ucrânia e as eleições.
A confiança dos Serviços subiu 3,0 pontos em março, com o aumento da atividade proporcionado pela melhora do quadro sanitário. A confiança na Indústria recuou pelo oitavo menos consecutivo, enfrentando os problemas conhecidos de perda de fôlego da demanda interna e escassez de insumos em alguns segmentos.
A confiança do Comércio andou de lado em março, mas seus subíndices variaram expressivamente na margem: o ISA-COM subiu 9,5 pontos no mês e enquanto o IE-COM caiu 10 pontos, a maior queda desde março de 2021, pior momento da segunda onda de Covid-19. A confiança da Construção segue oscilando entre 93- 97 pontos desde julho de 2021.
Em março, houve piora das avaliações sobre a situação corrente e das expectativas dos consumidores. Os níveis dos indicadores permanecem muito baixos e retratam um clima de pessimismo. O novo cenário externo adiciona dificuldades ao controle da inflação ao longo de 2022 e ao retorno à meta em 2023. O aumento da incerteza contribuirá para a postura de cautela dos consumidores nos próximos meses.
Em março, o nível médio da confiança dos consumidores com renda mais baixa caiu 3,2 pts.; para 69,4 pts., e a dos consumidores com renda mais alta caiu 4,0 pts., para 80,8 pts. A distância entre as duas faixas extremas de renda vem se aproximando nos últimos meses e é agora de 11,5 pts, a menor desde março de 2021 (11,3 pts).
O nível de demanda por bens industriais vem se reduzindo gradualmente nos últimos meses. O movimento é tão expressivo que, mesmo aos níveis baixos de produção atuais, possibilitou à indústria recompor seus estoques, cujo nível esteve abaixo do normal durante boa parte de 2021.
O Indicador de Incerteza do FGV IBRE subiu 4,2 pontos em março, para 121,3 pontos, influenciada pela deflagração da guerra entre Rússia e Ucrânia. Ao longo do mês foi possível acompanhar dois momentos do indicador: uma forte alta nos primeiros 10 dias após o início da guerra e uma calibragem nos dias posteriores, devido a uma percepção menos pessimista dos impactos que o choque externo poderia trazer a economia nacional. A coleta de dados para o IIE-Br ocorre entre os dias 26 do mês anterior e 25 do mês corrente.
A média semanal do IIE-Br subiu fortemente entre os dias 24 de fevereiro (início da invasão russa) e 3 de março. Ainda ficou bastante elevada até o dia 11 mas mantendo uma tendência de queda até o dia de fechamento do índice mensal. A calibragem para baixo foi influenciada por uma visão menos pessimista em relação ao impacto potencial do conflito e pela identificação de fatores favoráveis da nova conjuntura à economia nacional, como o aumento no preço das commodities e o redirecionamento de fluxos financeiros da Rússia e países próximos para países emergentes como o Brasil.
Entre dezembro e fevereiro houve queda da confiança em todos os grandes segmentos do Setor de Serviços. Em março, a confiança voltou a subir nos segmentos de Serviços Prestados às Famílias, de Transportes (ambos relacionados ao alívio com a ômicron) e em Informação e Comunicação.
A percepção sobre a situação atual melhorou em todos os grandes setores econômicos pesquisados em março, exceto na Indústria. Já o ISA dos consumidores caiu mais de 2 pontos e permanece em nível muito baixo.
As expectativas de todos os setores continuaram piorando, exceto a do setor de Serviços em março. As expectativas dos consumidores voltaram a piorar.