Por Anatricia Borges, Especial para Plurale (*)

É jornalista pela UFF e diretora ESG-Brasil da LLYC. Atua há mais de 18 anos em projetos e estudos em Comunicação de Sustentabilidade, e tem como uma de suas principais atividades ser mãe dos gêmeos, Gabriel e Sofia Bruno, de 16 anos.



Assisti ao painel da futuróloga, Amy Webb, CEO do Future Today Institute, na SXSW 2022, e seu conceito de Re-percepção que norteia o tão esperado relatório de trends anual FTI, que, em 2022, traz 574 tendências, entre elas a Web3 e o Metaverso. Ouso aqui numa reflexão associada à pauta ESG e sua comunicação, a partir da provocação feita por Amy: “Tendências por si só não são suficientes, mas precisamos usá-las para nos ajudar a re-perceber o futuro e a influenciá-lo, ressignificando o que entendemos sobre inovação”.

Estamos num momento desafiador e ao mesmo tempo muito positivo para coletivamente evoluirmos na principal pauta, para mim, que pode nos conduzir ao capitalismo consciente, verde ou seja lá o nome que vamos adotar, mas será que estamos tratando ESG como mais uma tendência, como fizemos com o conceito de sinergia no passado? Ou, neste mundo disruptivo, no qual a aceleração do tempo exige que participemos imediatamente da conversação para marcar posicionamento, não estejamos esvaziando, por meio de ressignificações, interpretações e distorções, sua narrativa de influência e relevância nesta transição global, repetindo equívocos que cometemos no passado, partindo do princípio que o termo ainda não é entendível nem está democratizado na sociedade?

Amy Webb conceitua re-percepção como a capacidade de enxergarmos algo em um cenário ou, a partir de uma informação existente, perceber algo que os outros não alcançam, como grande habilidade essencial para a criatividade, a inovação e a boa gestão. Se pensarmos nesta ótica em ESG, estamos longe do que queremos como legado de futuro na mudança de percepção que se faz necessária para a transição a um capitalismo consciente, em função de muitos fatores e riscos ainda não entendíveis pela maioria da humanidade, como nossas práticas hoje como indivíduos e empresas, que impactam no relógio do aquecimento global ,na ordem de 2 graus centígrados, assim como na concentração de riqueza, que gera um abismo de desigualdade social e nos atrasa na construção de um novo possível “admirável mundo novo”, desde que encaremos gestão ESG e sua comunicação com os compromissos inegociáveis com a transparência, autenticidade, integridade e empatia.

Cito, como exemplo, um fato recente com pouca repercussão no Brasil, do vazamento de um e-mail de uma reunião entre executivos do BlackRock – maior fundo de investimento do mundo, que tem como CEO, Larry Fink, o precursor do investimento ESG e autor da famosa carta que pauta a estratégia do mercado financeiro anual – que expôs os sentimentos de um dos diretores do órgão regulador do setor de petróleo e gás do Texas: “Foi bom ouvir que a BlackRock não quis dizer – ou não acredita mais – em muitas das coisas desagradáveis ??que a empresa e seu CEO, Sr. Fink, disse sobre a indústria de petróleo e gás”. De acordo com o Bureau of investigative of journalism, a BlackRock se une a vários grandes bancos – incluindo Barclays, Citigroup e Wells Fargo – que discretamente minimizaram seus compromissos ambientais para que possam continuar fazendo negócios com estados americanos de grande porte com negócios de grande impacto em ESG.

Como as duas disciplinas da Comunicação Social que sempre me fascinaram são Linguística e Semiótica, o que trago aqui não é uma crítica a estas empresas, porque estamos no momento de aprendizado, e vejo muito positivo o despertar do segmento financeiro a um olhar que inevitavelmente, não há retorno se não preservarmos o planeta e seus recursos, mas chamo a atenção de como devemos re-perceber este mundo em transição para avançarmos neste conhecimento em ESG, a partir deste convite de Amy Webb à re-percepção.

Vivenciamos a meteórica ascensão do ESG em 202e que se mantém como “tendência” em 2022, como uma das pautas mais mencionadas em posts e conversações no Linkedin, que motivaram a criação de editorias ESG em grandes mídias clássicas. Sim, são efeitos muito positivos desta transição, mas, como nem tudo é céu de brigadeiro, surgiram os termos desconhecidos ainda pela maioria, como greenwashing ou esgwashing, levando empresas e governos a gerirem crises, por não adotarem autenticidade e transparência na sua comunicação e gestão ESG, muito por não re-perceberem a mudança da forma de fazermos e comunicarmos neste mundo em transição, fiscalizado por um grande observatório global voluntário, via redes sociais. ESG é uma grande oportunidade para nos unirmos, que nos clama ao diálogo e a geração de soluções. Pensemos nisso e Re-percebamos porque ainda há tempo!

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