(*) Geraldo Soares
Os profissionais de Relações com Investidores enfrentam desafios crescentes. O ano de 2022 se inicia com olhar atento para acompanhar a situação política e macroeconômica, além da pandemia. Desde março de 2020, com o início da pandemia, cresce a importância do processo de digitalização nas atividades dos profissionais de RI.
De modo geral, o presente artigo abordará três desafios para os profissionais de RI em 2022. São eles: o aumento da utilização de plataformas digitais; a comunicação segmentada com stakeholders; e a importância da padronização dos indicadores ESG (do inglês Environmental, Social and Governance ou, em português, ASG – Ambiental, Social e Governança).
Os dois grandes momentos que propiciaram esses três principais desafios para Relações com Investidores foram: a queda da taxa de juros Selic, que fez muitos brasileiros (especialmente pessoas físicas) ampliarem a participação no mercado acionário; e, em um segundo momento, a pandemia.
A redução nas taxas de juros estimulou as pessoas físicas a diversificarem suas aplicações, buscando rentabilidade e ampliando a participação nos negócios em Bolsa. Houve, também, destaque para o desenvolvimento de casas de análise independentes, que já falavam para um grande público, incentivando pessoas físicas a procurarem mais o mercado de capitais. Nesse contexto, as pessoas físicas que compravam ações começaram a buscar ainda mais informações dos influenciadores e casas de análise independentes.
Além de atender de forma técnica os investidores institucionais nacionais e internacionais, esse processo impactou na área de Relações com Investidores, pois surgiram novos públicos com a necessidade de atendimento de forma didática.
A comunicação deve ser segmentada. O profissional de RI precisou adaptar a linguagem para se comunicar adequadamente com os diversos públicos, transmitindo a mesma informação para todos os públicos.
O uso da tecnologia colabora na forma de atendimento a novos públicos do mercado de capitais. A pandemia acentuou esse cenário, especialmente em um momento de isolamento social. Agora, a tendência parece ser a adoção de um modelo híbrido (presencial e on-line). Ao mesmo tempo em que algumas reuniões voltaram a ser presenciais, há, também, muito interesse em manter eventos totalmente digitais. Portanto, a tendência é de convivência entre os modelos.
Além disso, com o sucesso das lives, as videoconferências passaram a ocupar mais espaço que as teleconferências, assim como há crescente uso de novos meios de comunicação como podcasts, publicações no YouTube, no Twitter e trocas de mensagens no WhatsApp com diferentes públicos.
É preciso deixar claro, entretanto, que não há obrigatoriedade de adoção desse ferramental tecnológico por nenhuma companhia. O profissional de RI deve provocar essa discussão interna na empresa e, com base no momento específico de maturidade de Comunicação da companhia e da cultura organizacional, ajudar a definir se é interessante – ou não – aderir, por exemplo, às mídias sociais. Há necessidade de formar uma equipe qualificada para essa atividade, eventualmente adequar o discurso, ter estrutura, além de conteúdo frequente para obter bons resultados no mundo digital. Nem todas as companhias se enquadram nesse perfil e isso precisa ser avaliado antes de participar do ambiente das redes sociais conectadas.
Por fim, mas não menos relevante, é preciso ressaltar o aumento da importância da pauta ESG nos últimos tempos. Questões que eram pouco discutidas antes, passaram a ser debatidas com mais frequência e os reguladores (como Comissão de Valores Mobiliários e Securities and Exchange Commission) estão criando novas exigências de divulgação de informações. A agenda ESG foi intensificada e os órgãos que discutem informações Ambientais, Sociais e de Governança no mundo estão em uma fase acelerada de padronização. IFRS (International Financial Reporting Standards) e SASB (Sustainability Accounting Standards Board) estão desenvolvendo trabalhos, que devem impactar a divulgação ESG no mundo.
O IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) completa 25 anos de fundação em 05 de junho de 2022. Diante de tantos desafios, o Instituto reforça sua missão de contribuir com o aperfeiçoamento e com a valorização do profissional de RI, estimulando e promovendo atividades junto às companhias e aos profissionais para a adoção das melhores práticas do mercado de capitais.
(*) Geraldo Soares é presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).