A confiança de empresas e consumidores caiu em janeiro, aprofundando a tendência observada nos meses anteriores, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ambos os indicadores estão agora abaixo de fevereiro de 2020, mês anterior à pandemia de Covid-19. Entre as empresas, o avanço da variante Ômicron e a pouca tração da atividade econômica colaboraram para a queda mais forte no mês.
A percepção empresarial continua piorando nos dois horizontes de tempo das sondagens, com o Índice de Situação Atual e de Expectativas se afastando do nível de neutralidade de 100 pontos. A atual tendência vem sendo motivada principalmente por fatores econômicos mas foi amplificada em janeiro pelo aumento no número de casos da pandemia com a chegada da variante ômicron ao país.
As quedas mais intensas do mês foram registradas na confiança dos setores de Serviços e da Construção. A Indústria inicia o ano aprofundando a tendência de desaceleração iniciada em agosto de 2021 e registra um nível de confiança abaixo dos 100 pontos pela primeira vez desde agosto de 2020. A confiança no Comércio recuou pouco no mês mas ainda apresenta o menor nível entre os setores.
As avaliações sobre a situação corrente pelos consumidores melhoraram um pouco em janeiro, mas o indicador permanece em patamar muito baixo. Já as expectativas voltaram a piorar. O IE do consumidores gira em torno de 81-84 pontos desde setembro de 2021. Os baixos níveis dos indicadores refletem preocupações com a inflação persistente, aumento das taxas de juros, maior endividamento das famílias e situação o mercado de trabalho ainda fraco.
O Indicador de Incerteza do FGV IBRE cedeu 0,2 ponto em janeiro, para 122,1 pontos. A ligeira queda do indicador no mês reflete uma acomodação em patamar elevado do nível de incerteza da economia, contabilizando as incertezas já conhecidas em torno da atividade econômica, do cenário político e da pandemia, agora renovadas com a variante Ômicron. O indicador está 7,0 pontos acima do nível de fevereiro de 2020 (115,1 pts), último mês antes da chegada da pandemia de covid-19 ao país e ainda registra nível superior a 120 pontos.
Em janeiro, a percepção sobre a situação atual piorou em todos os setores econômicos pesquisados. O ISA dos consumidores subiu ligeiramente, após dois meses em queda. Inflação e mercado de trabalho debilitado são os principais motivos para a insatisfação dos consumidores.
Em janeiro, todos os setores, exceto o Comércio, registraram piora da expectativas em relação aos próximos meses. Os consumidores voltaram a registrar piora das expectativas, após melhora discreta no mês anterior.
Os indicadores que medem o otimismo empresarial com a evolução da Situação dos Negócios nos seis meses seguintes e as expectativas que miram os três meses seguintes recuaram em janeiro, acumulando três quedas consecutivas. A piora nos dois horizontes de tempo é um sinal de que o setor produtivo está preocupado com a desaceleração da atividade econômica. O indicador de Emprego Previsto para os próximos três meses, também recuou em janeiro.
Em janeiro, o nível médio da confiança de consumidores com renda mais baixa (faixas 1 e 2) subiu 3,8 pts., para 68,8 pts., enquanto a dos consumidores com renda mais alta (faixas 3 e 4) caiu 3,3 pts., para 82,3 pts. Com isso, a distância entre as duas faixas extremas de renda se reduz pela primeira vez desde outubro de 2021, para 13,6 pontos.
A situação financeira familiar continua sendo um dos fatores mais preocupantes para os consumidores no momento e o número de pessoas usando recursos de poupança para quitar despesas correntes é muito alto em termos históricos. Este último indicador recuou 0,5 pt., após quatro meses consecutivos em alta. O indicador se mantém próximo ao patamar de abril de 2020, pior momento da pandemia no Brasil, e 1,1 p.p. abaixo da máxima histórica de abril de 2016, período recessivo.
Incerteza em 2022 deverá permanecer elevada
A incerteza econômica manteve trajetória de queda gradual no Brasil em 2021 com o quadro de gradual controle da pandemia e recuperação econômica. Em 2022, temos três desafios: a pandemia, o cenário econômico menos favorável do país e as eleições presidenciais de outubro. Em Baker et al (2020), os autores concluem que quanto mais polarizada e acirrada for a eleição, maiores serão as incertezas econômicas.
Analisando o Indicador de Incerteza em ano eleitoral, o único ano em que a incerteza se reduziu foi o de 2010. Para as eleições de 2022, diversos outros fatores vão complementar o cenário das disputas eleitorais, como por exemplo o cenário econômico e social do país, podendo adicionar ainda mais ruídos de incerteza.