Se o estudo da International Chamber of Commerce (ICC) em parceria com a WayCarbon estiver correto, o Brasil poderá ter receitas de US$ 100 bilhões com créditos de carbono, até 2030. O mesmo trabalho aponta ainda que o país tem potencial para suprir de 5% a 37,5% da demanda global do mercado voluntário e de 2% a 22% da demanda global do mercado regulado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). A discussão, que já permeia as pautas de conselhos e administrações de várias organizações públicas, privadas e do terceiro setor, certamente ganhará mais força entre os dias 1º e 12 do próximo mês, em Glasgow, Escócia, durante a COP26 – Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU.
Avançar com a Agenda da Descarbonização parece questão pacificada hoje, a exemplo da retomada da economia, em caráter internacional, no pós-pandemia. A ICC, que representa 45 milhões de empresas de 100 países, mais a WayCarbon, consultoria com foco em sustentabilidade e mudança do clima na Améria Latina, têm apoio da Suzano, Microsoft, Shell, Natura, Bayer e bp no desenvolvimento do estudo, que pode gerar oportunidades para o Brasil com as receitas de crédito de carbono. Para se mensurar isto, em termos físicos, seria equivalente a 1 Gigaton (1 bilhão de toneladas de CO2), ao longo da próxima década, para os setores do agro, florestas e energia.
Neste mesmo trabalho – que identifica um acumulado superior a 14.500 projetos de crédito de carbono ao redor do globo, correspondendo à geração de quase 4 Gigatons de tCO2 de créditos até 2020 – é recomendada especial atenção a dois pontos: 1) entender os mercados de carbono como potencial de destravar oportunidades financeiras para planos de recuperação econômica e aceleração do crescimento sustentável da economia brasileira; 2) desenvolver sistemas de monitoramento, relato, verificação e redução de emissões robustos que abarquem todos os setores produtivos da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira.
Dividido por setor, o estudo projeta o seguinte potencial de receita via crédito de carbono: i – Agropecuária entre 10 e 90 Milhões tCO2e (até US$ 9 bi em cenário otimista); ii – Florestas entre 71 e 660 Milhões tCO2e (até US$ 66 bi em cenário otimista) ; iii – Energia entre 27 e 250 Milhões tCO2e (até US$ 25 bi em cenário otimista).
“Precisamos de uma força-tarefa imediata entre os setores público, privado e a sociedade para adotar medidas efetivas que contribuam com a redução das emissões globais de carbono”, sugere Júlio Natalense, executivo de Iniciativas de Carbono da Suzano.
Alea jacta est. A sorte está lançada!
EMISSÕES
Para se ter ideia sobre o quanto representa uma viagem, em termos de emissão, a Agência Ambiental Europeia calculou que uma pessoa é responsável por 14 gramas de dióxido de carbono (CO2) por Km, quando se desloca de trem.
Mas se o meio de transporte for avião, o índice (individual) sobe para 285 gramas. Isto se a aeronave transportar 150 passageiros. Em caso de embarcações maiores, o consumo cairá, na média, para 170 gramas de CO2/Km.
NAVIOS
Os navios (de passageiros e de carga, juntos) emitem quase 20% de todos os gases do efeito estufa no mundo. Somente no Velho Continente, calcula a Agência Europeia de Segurança Marítima, são produzidas 140 milhões de toneladas de CO2/ano.
ETANOL
A Schneider Electric Brasil decidiu utilizar somente o etanol para abastecimento de sua frota no país. Mais que isso, distribui, a partir deste mês, vale combustível a todos empregados e colaboradores para uso exclusivo de etanol.
Com isto, a empresa de gerenciamento e automação de energia espera evitar a emissão de 550 toneladas/ano de CO2.
PACTO
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Eletrobras firmaram um “Pacto de Energia” para atuarem conjuntamente na busca de soluções para a geração de energias renováveis na Amazônia. O pacto ocorre no âmbito da chamada global da Organização das Nações Unidas (ONU) para a apresentação de “Pactos de Energia” (Energy Compacts), formalizados durante o Diálogo de Alto Nível sobre Energia da ONU, evento realizado na semana anterior, entre os dias 22 e 24.
O Pacto do BNDES/Eletrobras, apresentado à ONU, assume o compromisso de preparar diagnósticos sobre os aspectos econômicos, tecnológicos, legais e regulatórios a serem considerados em um plano de substituição da geração a diesel por energia limpa nos Sistemas Isolados da Amazônia, regiões remotas ainda não atendidas por Sistemas Interligados. Atualmente, mais de 90% da capacidade energética instalada nessas regiões, onde vivem cerca de 3 milhões de pessoas, tem por base térmicas a diesel, fonte fóssil altamente poluente.
ENCONTRO
Começa nesta 2ª, 27, e vai até o dia 29, o 22º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, que tem apoio do Portal Acionista, na divulgação. Promovido pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), o evento será no formato digital.
A abertura será feita por Marcelo Barbosa, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Durante os três dias serão discutidos temas como Desafios do ESG; Transformação digital e Comunicação financeira; Relacionamento; Alterações na ICVM 480 e cases envolvendo as relações com investidores.
IPO
A companhia Environmental ESG Participações (ticker EESG3), filhote da Ambipar, tem agendada sua estreia na B3 para o dia 11 próximo.
ACESSO
A Multilaser, companhia brasileira que abriu capital em julho último, anuncia parceria com a chinesa ZKTeco para incrementar a comercialização de controles de acesso com reconhecimento biométrico.
MILHO
Associados à Associação Brasileira de Proteína Animal comemoram a MP 1701 que suspende, até 31 de dezembro, a cobrança de alíquotas do PIS-COFINS sobre a importação de milho.
A ABPA representa 140 empresas e várias entidades da avicultura e suinocultura no país, com exportações acima dos US$ 8 bilhões.
CARNES
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) aprovou a aquisição de ações da BRF pela Marfrig.
Anunciada em junho, a operação elevou a participação da Marfrig em 31,66% no capital da BR Foods (fusão da Sadia e Perdigão, consolidada em 2013), gigante de alimentos com mais de 30 marcas de valor em seu portfólio.
RASTRO
Líder global em produção de hambúrgueres e uma das maiores do mundo em processamento de carnes, a Marfrig conclui etapa de seu programa Verde+ que rastreia toda a cadeia de fornecedores de bovinos.
Objetivo é melhorar o monitoramento para não correr riscos ao adquirir matéria-prima de localidades suscetíveis a desmatamento, irregularidades trabalhistas e demarcação de terras indígenas.
RATING
A M. Dias Branco emitiu comunicado, no fechamento da última semana, informando que a agência de classificação de risco Fitch Ratings reafirmou o Rating Nacional de Longo Prazo ‘AAA (bra)’ com perspectiva estável.
COOPERAÇÃO
A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) e o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), parceiros desde a criação deste último, assinaram convênio de cooperação técnica para propor e realizar treinamentos e pesquisas voltadas à área de relações com investidores.
Moderninhas, as entidades assinalam que a iniciativa propõe a promoção da cultura de mindset digital…
VALOR
No último dia 20, o valor de mercado das companhias listadas na B3 estava abaixo dos R$ 5 trilhões. O valor era exatamente R$ 4,87 trilhões, bem abaixo do pico de 7 de junho quando chegou a R$ 5,67 TRI.
Os números são da Economática, que aponta o Ibrasil (IBRA) como o índice mais valorizado, com suas 203 ações e cálculo de R$ 4,6 trilhões na carteira. Já o Ibovespa é o quinto mais valorizado da B3, em setembro, reunindo 87 empresas e valor de R$ 4,11 TRI.
ARTIGO
Inflação Ambiental: um problema que preocupa
(*) Eduardo Werneck e Lincoln Camarini
Ou inflação verde, como chamou Roberto Campos Neto, é uma nova expressão que vai exigir da macroeconomia muito esforço de reformulação dos seus fundamentos. Ao mesmo tempo em que o meio ambiente é reconhecido como fonte de extração de recursos naturais, a mesma ciência econômica reconhece a existência das externalidades, que significam custos não apropriados que, não raramente, criam distorções nos preços. Isso é um problema, e sua solução depende de como reescrever a cadeia de eventos que permitam a integração de todos os custos. Parece fácil, mas precisamos limpar nosso mindset para reescrever algumas partes da “ciência econômica”, e ainda há resistências para tal.
Lembramos aqui o trabalho pioneiro de William Nordhaus, Prêmio Nobel de Economia em 2018, com suas extensas pesquisas sobre integração das mudanças climáticas com crescimento econômico no longo prazo. Um dos importantes resultados de suas pesquisas refere-se ao chamado “ótimo social que requer menos produção, menos poluição e mais conhecimento”. Reforça ainda que a questão climática é uma falha de mercado decorrente da preocupação, nos processos de inovação, com os ganhos privados, desconsiderando os impactos do processo produtivo.
E como tudo isso se conecta com a questão inflacionária? Na medida em que desconsideramos questões ESG, internalizar custos pode pressionar os preços dos produtos. Isso tende a se transformar em um problema estrutural de alta complexidade que terá de ser enfrentado pela ciência. Se isto não for feito, continuaremos a “varrer as externalidades e suas consequências para debaixo do tapete”, pois não caberão na estrutura de preços “inflation as usual”, exigindo ações de correção paliativa resultando paradoxalmente em mais crescimento econômico e também mais poluição, pressão em florestas, no sistema hídrico, na biodiversidade, nos oceanos, isto é, mais externalidades.
É por isso que os órgãos reguladores (em especial o Bacen) estão preocupados os riscos climáticos e naturais que geram eventos e expectativas que desestabilizam os preços. Quanto mais recorrente maior é a desorganização do sistema econômico.
Tomemos o IPCA como um exemplo. Os 3 principais grupos de itens, que somam aproximadamente 55%, são de alimentos e bebidas, transportes e habitação. Os impactos da escassez hídrica atual, um evento climático extremo, aparecem de diversas formas: diretamente, commodities que alimentam o primeiro grupo podem ter suas safras ameaçadas, por conta da falta de abastecimento de água ou por conta de queimadas naturais, provenientes do baixo volume pluviométrico. Grupos que dependem do consumo de minérios também estão expostos a um aumento de custos no cenário de escassez hídrica, uma vez que o transporte hidroviário fica ameaçado em virtude de o nível dos rios diminuir (e outros meios de transporte são mais onerosos). O aumento de custos na indústria por conta do despacho de termelétricas também é um problema que gera pressão nos preços.
De forma geral, impactos ambientais acabam alimentando a inflação, e como dito anteriormente, o Banco Central tem mostrado a mesma preocupação. É necessário também que as empresas de cada setor entendam o seu papel, seus riscos ambientais e que envidem esforços para mitigá-los, sendo possível mitigar os efeitos desse fenômeno adverso.
(*) Eduardo Werneck, CNPI, é presidente do Conselho Diretor da Apimec Brasil e diretor da Resultante ESG.
Lincoln Camarini, CNPI, é Head of Research da Resultante ESG.