O último um ano e meio trouxe muitos aprendizados para os profissionais de Relações com Investidores (RI). Se por um lado o mundo virtual conseguiu ampliar o alcance das comunicações, por outro dificultou a relação interpessoal com investidores institucionais relevantes.
Com o aumento surpreendente no número de investidores pessoa física que passaram a investir na bolsa de valores durante a pandemia, número que hoje já ultrapassa os 3,8 milhões de CPFs, segundo dados da B3, cresceram a oferta de cursos digitais de avaliações de ações, as interações em grupos nas redes sociais e o acesso a influencers digitais focados no mercado financeiro, o que tem contribuído significativamente para popularizar as discussões sobre os papéis da Bolsa.
Todas essas transformações abriram oportunidades para os RIs aprimorarem sua forma de comunicação e se adaptarem às necessidades desse novo público, seja treinando as equipes e se disponibilizando para responder os questionamentos desses investidores ou produzindo apresentações institucionais, com conteúdo mais educativo e específico, para explicar de forma prática e simples o negócio de suas empresas. Além disso, desde o início da pandemia, todos os aspectos de sustentabilidade e ESG (Sigla para Environmental, Social and Governance) passaram a ser avaliados com lupa pelos investidores, que cada vez mais buscam se aproximar das empresas e entender qual o propósito de cada uma delas.
A forma de se comunicar é fundamental para o sucesso e a captação de novos investidores e a ferramenta de comunicação mais utilizada ainda é o site de Relações com Investidores. Entretanto, para que essa comunicação seja assertiva, o site precisa estar bem estruturado e com o maior número possível de informações sobre a Companhia desde sua história e governança, até informações operacionais e financeiras, que precisam ser atualizadas periodicamente, com rigor técnico, mas linguagem acessível.
A Comunicação atual ainda engloba outras ferramentas importantes como webinars, podcasts e vídeos de curta duração para se conectar com o investidor. As mídias sociais também podem ser grandes aliadas na construção desse relacionamento, pois geram confiança e proximidade. Entretanto, é preciso ter cautela na divulgação de informação, certificando-se de que a estratégia esteja realmente alinhada aos interesses do investidor e, mais importante, não infringindo as regras da Instrução CVM (Comissão de Valores Mobiliários) 358/02 e 480/09.
O grande desafio até aqui é aproveitar as novas ferramentas de comunicação para capturar as necessidades dos novos e potenciais investidores sem deixar de cuidar dos investidores institucionais. E esse desafio fica ainda maior com a substituição dos encontros presenciais por reuniões virtuais. Apesar de toda a otimização de processos com viagens, deslocamento e diferenças de fusos horários, o que possibilita a maior participação do Senior Management, o modelo virtual restringe as possibilidades de troca interpessoal.
O relacionamento vem da construção de uma relação de confiança e fidelidade, estabelecida a partir de sinais físicos como um simples aperto de mão. A confiança e o comprometimento assumidos em uma reunião presencial, olho no olho, não podem ser substituídos por telas de computadores, que muitas vezes ficam com as câmeras desligadas, deixando a impressão de que estamos falando com a máquina, sem termos a certeza de que a pessoa do outro lado conseguiu captar exatamente a mensagem desejada.
O novo modelo de comunicação será balanceado. É inegável que a relação criada durante a pandemia com os investidores pessoa física através das lives, webcasts e podcasts trouxe muitos ganhos e oportunidades. Mas os investidores institucionais anseiam pelos roadshows presenciais, que, aliás têm um enorme potencial de captação de investidores estrangeiros que buscam maior aproximação com as empresas.
Marília Nogueira
Executiva com mais de 15 anos de experiência em Finanças, Controladoria e Relações com Investidores. É Diretora de Relações com Investidores da EDP Brasil, onde atua desde 2011. Adicionalmente é Diretora de Comunicação e Eventos do IBRI desde 2020. É formada em Economia pela FACAMP, com MBA em Finanças e Controladoria pela FGV.