Ao escrever esta 52ª publicação, estamos completando o 1º ano de aniversário de Via Sustentável. Atentos à gestão ambiental, social e governança (ESG, em inglês), tivemos desde o início a preocupação com o país como um todo e não apenas com as organizações. Por isso mesmo abrimos o primeiro post com a questão da Amazônia, tratando dos contornos de uma agenda inadiável (https://acionista.com.br/contornos-de-uma-agenda-inadiavel/), como segue:
“Recentemente, Hamilton Mourão, vice-presidente da República e coordenador-mor do Conselho da Amazônia, esteve reunido com investidores estrangeiros (representando cerca de 30 Fundos, gestores de US$ 3,7 trilhões) e, sequencialmente, com um grupo de 36 empresários brasileiros. Depois disso, 17 ex-ministros e ex-presidentes do Banco Central aproveitaram a ocasião e também assinaram carta, dirigindo-a a Brasília.
Objetivo: conhecer os planos do governo brasileiro para evitar queimadas e desmatamentos na Amazônia, sem o que os investimentos podem ser ainda mais reduzidos e ir à míngua. O planejamento nacional para uma economia de baixo carbono, portanto, é agenda premente”.
Um ano se passou desde então e a Amazônia continua preocupando, bem como a pandemia e a gestão governamental. Temos, neste espaço, procurado cobrar as companhias abertas (em especial estas) sobre o seu grau de comprometimento com os stakeholders. Apertar só as companhias não basta, sabemos. Déficit fiscal, inflação, uso dos recursos públicos, desemprego recorde, competitividade, inovação e políticas públicas afirmativas dependem da mão do governo, daí cobrarmos a Governança de governo também.
Ao mesmo tempo em que solicitamos dados e inquirimos algumas posturas das organizações públicas e privadas, temos o interesse em mostrar o que estas fazem em seu dia a dia. É agradável sentir a sensação de contribuir com o país de forma objetiva. Em seus mais de 20 anos, o Portal Acionista tem avançado na qualidade e no leque de serviços. A coluna Via Sustentável é parte desse processo, abraçando a questão ESG, a exemplo do que fazem Sonia Favaretto (SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU) e Fábio Colletti Barbosa (ex-presidente da Febraban e conselheiro de várias empresas). A Sonia, profissional extraordinária, estreou artigo (“Pelo Grande Reset”) com a coluna, na primeira edição. O Fábio, um dos precursores de toda essa discussão no país, meteu a mão na massa, firme, quando muita gente ainda desdenhava do tema. Ele, que é uma das figuras empresariais mais respeitadas no Brasil, nos dá a honra de assinar artigo nesta edição de 1 ano. Veja, abaixo, “O caminho de desenvolvimento do ESG”.
À direção do Acionista, à parceira de primeira hora Sonia Araripe (diretora de Plurale), à Gláucia Terreo (Head do GRI no Brasil), às companhias, ONGs e demais Organizações, bem como a seus assessores que nos prestigiam editorialmente o muito obrigado pelo apoio e convivência. Demos apenas o primeiro passo de uma longa caminhada e a todos convido para continuarmos melhorando mais e mais o caminho.
IPO
Está tudo pronto para o IPO da Raízen (RAIZ4) na B3. Joint venture entre a Cosan e a Shell, a companhia deverá fazer a maior oferta de ações do ano na Bolsa brasileira.
A previsão é que a companhia levante R$ 7 BI, disponibilizando 810,8 milhões de ações no mercado. Se atingir o valuation de R$ 70 bilhões, a valoração da Cosan também será sentida. O toque da campainha deverá ocorrer em 5 de agosto próximo.
BOMBADO
O IPO da Smart Fit (SMART FIT ON) foi concluído nesta semana. Com demanda cerca de 20 vezes superior o volume ofertado, a rede movimentou R$ 2,3 BI (com investidores-âncora) na B3.
AGRO
A 3tentos (TTEN3) é mais uma companha do agronegócio a negociar papéis na Bolsa de Valores. Nesta semana a companhia levantou R$ 1,35 BI em operação de IPO.
DESCIDA
Em Fato Relevante publicado, a General Shopping e Outlets do Brasil (GSHP3) comunicou o mercado sobre decisão da AGE de sair do Novo Mercado e ir para o Segmento Básico de listagem da B3.
Essa descida na escada do mercado não foi detalhada no FR. A companhia pediu dispensa de realização de nova oferta pública de ações.
DEBÊNTURE
A companhia Aeris, produtora de pás eólicas para turbinas de usinas elétricas, informa que emitirá R$ 500 Milhões em papéis, via debêntures.
A operação será um tiro curto, com vencimento 60 dias após a emissão. Segundo a própria companhia, “os recursos obtidos por meio da emissão serão destinados à quitação de financiamentos contraídos pela emissora”.
TRIBUTAÇÃO
A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) faz plantão em Brasília, de olho no PL 2337/21 que trata do Imposto de Renda para empresas, Pessoas Físicas e Investimento.
De acordo com a associação, “as alterações propostas ao projeto de tributação sobre a renda sinalizaram um avanço em relação ao projeto original, mas ainda trazem distorções que impactam a atração de investimentos ao país, tão importantes num momento de necessária retomada econômica”.
PLEITO
Colocando-se à disposição do Congresso para eventuais esclarecimentos sobre a posição das companhias abertas, a Abrasca destaca: “Reiteramos a importância da uniformização da alíquota do IRRF sobre dividendos com a tributação das aplicações financeiras, que a nova cobrança seja aplicável apenas para lucros apurados de 2022 em diante, além de ser restrita ao investidor pessoa física, e que seja mantida a dedutibilidade dos JCP – sem prejuízo de aprimorações no instituto – para a atração do investimento via mercado de capitais”.
VALORIZAÇÂO
Um ano após o IPO, com captação de R$ 1,1 BI, e 17 empresas incorporadas depois, as ações da Ambipar valorizaram mais de 50%.
DEXCO
No ano em que celebra sete décadas de atuação e registra os melhores resultados de toda sua história, a Duratex – detentora das marcas Deca, Portinari, Hydra, Duratex, Ceusa e Durafloor – dá mais um passo em sua trajetória e passa a se chamar Dexco que, segundo a própria companhia, simboliza o novo momento de crescimento.
“Nasce uma empresa de 70 anos, que se orgulha de todas as conquistas do seu passado e de toda a transformação cultural vivida ao longo dos últimos quatro anos, cujos impactos na companhia nos fizeram alcançar resultados históricos. Essa jornada e toda a nossa agenda interna pavimentaram o caminho para, agora, focarmos em um novo ciclo de crescimento. Dexco é, portanto, uma nova companhia: mais digital, aberta, dinâmica e integrada. Ela já chega com vários projetos de investimentos, como parte de um plano multinegócios, comprometida com a rentabilidade ao mesmo tempo que busca uma ligação cada vez mais próxima com seu consumidor”, destaca Antonio Joaquim de Oliveira, presidente da Dexco.
SACO
Expressão antiga, “saco sem fundo” deixou de frequentar o linguajar coloquial há tempos. Mas só a expressão caiu no desuso, pois a práxis não. Na semana que passou, os ilustres congressistas decidiram dar uma bicuda no bom-senso e autorizaram o Fundo Partidário a pegar no caixa da viúva R$ 5,7 bilhões para que os partidos políticos nos façam o grande favor de participar das eleições de 2022.
Na última eleição (2020), já com pandemia presente e desemprego galopante, os mesmos parlamentares autorizaram R$ 2 BI para o Fundo. Mas como a vida ficou mais difícil nesses últimos tempos, decidiram praticamente triplicar o valor.
MENSAGENS
A Coluna recebeu, e agradece, as seguintes mensagens (por ordem de chegada):
Via Sustentável completa um ano. Que dádiva termos essa publicação em um cenário de pandemia onde Sustentabilidade e ESG se tornaram assuntos urgentes. Parabéns Via Sustentável! Luiz Fernando Bueno, diretor de Sustentabilidade do Ciesp-Campinas.
“Sensacional acompanhar o aniversário de um ano da Coluna Via Sustentável, pioneira na discussão de importantes temas como ESG (em inglês, Ambiental, Social e Governança). Sem dúvida, no que depender da coluna, o Brasil irá caminhar mais rápido para alcançar as melhores práticas mundiais. Parabéns a todos por um espaço tão nobre e diferenciado”.
Angélica Consiglio, CEO da Planin Comunicação.
A cada semana, Nelson Tucci segue nos contemplando com conteúdo de alta qualidade em sua coluna Via Sustentável, no portal O Acionista. São notas rápidas e artigos que nos deixam a par do que está acontecendo no mercado e que usei como referência de leitura para os meus alunos de Relações com o Mercado e Investidores no Master em Comunicação Empresarial Transmídia da ESPM-SP. Vida longa à coluna e ao Tucci! Parabéns pelo primeiro aniversário.
Tatiana Maia Lins, professora as ESPM e CEO da Makemake-A Casa da Reputação.
Nossos votos de vida longa à coluna Via Sustentável, que entra no primeiro ano de existência, porém, com uma experiência de muitas laudas e vivência profissional de seus articulistas que a credencia como leitura obrigatória quando o tema sugere sustentabilidade e responsabilidade social. Parabéns!!
Marco Antonio Panza, Superintendente Executivo no Instituto Não Aceito Corrupção.
“Parabéns para o Portal Acionista e o jornalista Nelson Tucci pelo aniversário de um ano da prestigiada Coluna Via Sustentável. Parceiros nesta trilha da sustentabilidade, Plurale acompanhou de perto o crescimento e a valorização de tão relevante trabalho jornalístico. Ao longo deste ano, Via Sustentável noticiou alguns dos principais temas deste debate tão importante, muitas vezes antecipando tendências e movimentos. Orgulho de sermos parceiros nesta jornada”.
Sonia Araripe, jornalista, diretora de Plurale.
“A Coluna Via Sustentável completa 1 ano de relevante contribuição para quem, como eu, busca leituras qualificadas, notícias que trazem ângulos e abordagens diferenciados. Vida longa à coluna e parabéns, Nelson Tucci, por mais esta realização!”
Sonia Consiglio Favaretto, SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU
Há um ano, minhas segundas-feiras passaram a ter mais informação de qualidade, furos jornalísticos e artigos, de quem respeito, sobre ESG e sustentabilidade A Coluna Via Sustentável, escrita pelo querido e competente jornalista Nelson Tucci, faz uma cobertura incrível do tema, contribuindo com a pauta do meu trabalho no dia a dia. Parabéns!!
Anatricia Borges, diretora da Dostô Multimídia.
Conheço a seriedade do Nelson Tucci há muito tempo. Como RI, participei ativamente no tema de sustentabilidade no Bradesco e, por ter conhecido pessoas formidáveis neste campo, utilizo a coluna Via Sustentável para me atualizar, me informar, saber de tudo que está acontecendo. Parabéns por este primeiro ano da coluna e ao Nelson, um profissional muito sério e dedicado.
Jean Philippe Leroy, Business Development na Cielo.
Em nome da Comissão de Mercado de Capitais da Abrasca parabenizo o Portal Acionista por um 1 ano de Via Sustentável. Sustentabilidade não só entrou na estratégia dos investimentos, como migrou para a sua essência. Somente com conhecimento será possível estar antenado com as múltiplas gerações de valor que o tema traduz. E a Via Sustentável traz a experiência de anos do Portal Acionista conectado com as novidades ESG. Parabéns!
Rodrigo Maia, presidente da COMEC.
ARTIGO
O caminho de desenvolvimento do ESG
(*) Fábio C. Barbosa
No ano passado, escrevi um artigo sobre a força que o tema ESG (da sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) estava ganhando entre as empresas, muito provocado por uma mudança geracional. As novas gerações têm uma consciência ética, social, ambiental e cidadã que as gerações anteriores não tiveram. As empresas que querem estar conectadas com seu consumidor, investidor e/ou funcionários precisam entender esses novos anseios.
“A cada dia entra no mercado um jovem que acredita que as questões de ESG são muito relevantes nas suas decisões de consumo, investimento e carreira, e se aposenta uma pessoa que achava tudo isso uma bobagem”
Como alguém engajado na causa da sustentabilidade há muitos anos, posso dizer que já avançamos muito, por outro lado sei que a estrada é longa. Como transito em diversos fóruns, observo que há muitas empresas comprometidas com planos de ação bem elaborados e avançados. É muito curioso porque sempre recebo muitas perguntas sobre os riscos do chamado greenwashing (uma espécie de maquiagem ambiental para uso como marketing), no entanto vejo também muitas empresas tão preocupadas em avançar com os projetos que envolvem ESG que acabam comunicando pouco ao mercado tudo que fazem, sem aproveitar o potencial de conexão com essas novas gerações. Ainda acrescento que a melhor ferramenta para combater o greenwashing é a transparência, no mundo de hoje não há mais “ON” e “OFF”, estamos “ON” o tempo todo. Não embarque nessa, pois, como disse antes, os jovens estão muito mais conscientes e a emenda pode sair pior que o soneto.
Vejo que cada dia mais pessoas percebem a sustentabilidade como um caminho de oportunidade do que uma série de restrições. Com isso, surgem muitas oportunidades de negócios, novo modelos comerciais e inclusive novos instrumentos de crédito. Vejam quantas empresas têm conseguido melhores taxas de financiamento com a emissão de títulos atrelados à metas de sustentabilidade. Isso é caminhar para uma economia de baixo carbono, compreendendo que precisamos passar por um período de transição. Sem esquecer que o mercado tem exigido metas cada vez mais arrojadas como um sinal de um compromisso sério em prol do combate as mudanças climáticas.
Outro ponto que tem avançado bastante são os projetos que envolvem o social, o “S” do ESG. Há muitos anos eu digo “não dá para ir indefinidamente bem num país que vai mal” e a pandemia deixou esse cenário ainda mais evidente. Precisamos de projetos que trabalhem por mais inclusão e diversidade pois, ademais é bom para a criatividade, inovação e oxigenação da empresa e que a diferença faz a diferença. Projetos que envolvemos chamados investimento de impacto também podem ter um espaço importante de desenvolvimento em um país tão carente como o Brasil.
Na ponta do que ainda precisa ser desenvolvido, acredito que precisamos trabalhar mais em uma padronização dos conceitos. No momento, as grandes casas de investimentos definem quais serão seus critérios e formas de auditoria e as empresas precisam correr atrás de se adequar à todas as exigências. Tudo isso faz parte do processo de evolução, eu me recordo que quando criamos o Fundo Ethical há 20 anos, ainda no Banco Real, precisamos criar um conselho de especialistas que nos ajudasse a estabelecer esses critérios. Hoje, a literatura no assunto avançou bastante, com uma importante contribuição de índices como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 ou o Sustainability Index, da Dow Jones e de certificações como a do Sistema B, por exemplo.
Fica claro que os profissionais que trabalham na área de relação com investidores, bem como atuais e futuros conselheiros de empresas, devem ler, se informar, fazer cursos a respeito do papel das empresas em relação às mudanças climáticas, inclusão social e transparência (o ESG), essa agenda é real e não é passageira. O profissional que não estiver atualizado, ficará para trás.
Por último, destaco que esta tendência do ESG ocupar espaços é irreversível, crescente e muito boa. Muitas oportunidades surgirão e as empresas terão uma jornada mais segura e duradoura, jogando junto com a sociedade e o mercado. Se cada um fizer a sua parte, chegaremos lá!
(*) Fábio Colletti Barbosa é ex-presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e conselheiro de várias empresas.