Ontem o Congresso aprovou o orçamento (LOA) de 2021, mas também referendou maquiagens nas contas públicas colocando o teto em risco e dando mais recursos para parlamentares em emendas. Esse foi o custo, além de outros já feitos, para obter o apoio do centrão e outros parlamentares. Com isso, o Brasil vive seu inferno astral, fazendo “piquenique à beira do vulcão”.
Temos a pandemia batendo à porta com recordes diários de mortes e contágio, há uma mega desvalorização do real, elevando custos e com repasses para a inflação. Além do desemprego e o subemprego, com restrições de contato, formando uma população de vulneráveis e miseráveis. O descontrole fiscal é crescente, assim como as expectativas inflacionárias. Assim, o Bacen terá que seguir escalando juros para conter a inflação, mas com custos crescentes de rolagem de dívidas e despesas com juros.
Essa, em resumo, é a percepção dos investidores sobre o Brasil. O déficit em conta-corrente de fevereiro foi baixo, em US$ 2,33 bilhões, mas contempla saída de importação de plataformas. O IDP (Investimento Direto no País) foi alto em US$ 9 bilhões, mas contempla empréstimos intercompany. Pelo que se enxerga para março, a situação deve seguir piorando, e será muito difícil chegar no final do ano com a projeção de IDP de US$ 60 bilhões, com investidores com seus problemas, com medo das dívidas de emergentes (a nossa é interna) e com o discurso produzido até aqui pelo governo sobre pandemia e mudanças climáticas.
No exterior, muita volatilidade na taxa de juros. Muitos desequilíbrios na relação entre moedas e muitas incertezas com a terceira onda do covid-19. A OMS, por sua vez, pede que países ricos doem 10 milhões de doses de vacinas para países pobres e o FMI pede para adiarem cobranças. A OMS mostra que essa foi a quinta semana seguida de alta da contaminação global, alongando períodos de isolamento. Os EUA que estão com ótima performance de vacinação dizem que o controle da pandemia levará tempo, mesmo com a vacinação massiva.
Nos EUA, tivemos a divulgação da renda pessoal de fevereiro encolhendo 7,1% e o gasto com consumo com -1%, ambos piores que o previsto. Já a inflação medida pelo PCE (deflator de preços), subiu 0,2%. Para complicar mais ainda, o custo de frete marítimo encareceu muito e o bloqueio do canal de Suez só complica mais. Os EUA ofereceram ajuda à Grécia para tentar o desencalhe.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 3,86% (já esteve maior), com o barril cotado a US$ 60,82. O euro era transacionado em alta para US$ 1,179 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,66%. O ouro em alta e a prata com queda na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro em Qingdao na China com alta de 0,91% e tonelada em US$ 161,30.
Aqui, São Paulo vai prorrogar a fase emergencial até 11/4, estados e municípios vão adotar o feriadão para tentar aliviar hospitais e outros problemas. Membros do Mercosul notaram o abandono de Bolsonaro da reunião, e o presidente do Senado quer votar as reformas administrativa e tributária ainda em 2021. O presidente também foi criticado por ignorar o Tesouro e o Orçamento ao sancionar o projeto de Michelle (sua esposa).
Seguindo com dados da nota do setor externo de fevereiro, os investimentos em ações no Brasil foram positivos em US$ 570 milhões, mas até o dia 23/3 estavam negativos em US$ 1,67 bilhão, incluindo fundos. Já o fluxo financeiro, até essa data, estava negativo em US$ 3,55 bilhões e o cambial total também com –US$ 1,21 bilhão.
No mercado, dólar bastante pressionado depois desses dados acabou fechando com +1,25% e cotado a R$ 5,74. Já na Bovespa, na sessão de 24/3, os investidores estrangeiros retiraram R$ 684,9 milhões, com março com balanço negativo em R$ 2,76 bilhões, porém o ano permanece positivo em R$ 14,0 bilhões.
No mercado acionário, dia de alta de 0,99% da Bolsa de Londres, Paris com +0,61% e Frankfurt com +0,87%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,95% e 0,72%. No mercado americano, dia de Dow Jones com +1,39% e Nasdaq com 1,24%. Na Bovespa, inversão de tendência no início da tarde para queda, para retomar alta e fechar com +0,91% e índice em 114.780 pontos.
Resumo da Semana
IBOVESPA -1,23%
DOW JONES +1,36%
NASDAQ -,027%
DÓLAR +5,03%
PETRÓLEO WTI -1,18%
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado