“Disseram que ser CEO não era para mim”, conta Aline Deparis, CEO da Privacy Tools, acelerado pela Obr.global e uma das pioneiras no Brasil na oferta de soluções para LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Mas erraram feio, porque ela não é apenas CEO de uma empresa, ela comanda um grupo de empresas, e é uma das poucas mulheres CEO no mercado de tecnologia que ainda é predominantemente dominado por homens.
Quem diria que Aline, que nasceu no interior do estado na cidade de Viadutos no Rio Grande do Sul, filha de agricultores que tiveram poucas oportunidades de estudo e que não tinha nenhum familiar da área da tecnologia, escolheria desbravar o mundo da tech e anos depois se destacaria como uma das poucas mulheres dentro de um mercado predominantemente dominado por homens.
Aline saiu muito cedo de casa e foi morar na casa da avó aos 8 anos para poder estudar, pois os pais moravam a 15 km de distância da cidade onde a escola era localizada. Da casa dos pais, mesmo indo a cavalo, era muito tempo de viagem. Por isso, morou com a avó até concluir o ensino médio, fez magistério e até chegou a dar aula. Passou em um concurso, mas quis apostar em cursar faculdade. Passou na UERGS para fazer pedagogia, foi morar em Porto Alegre, capital gaúcha, mas logo mudou para cursar administração com ênfase em análises de sistemas na PUCRS.
A CEO sempre foi de apostar alto para conquistar as coisas que desejou e ir para área de Tecnologia da Informação (TI) ser estagiária, foi uma escolha difícil para quem já tinha passado em um concurso e já tinha trabalho como CLT, para muitos estagiar era como retroceder. Mas foi na CAIXA RS que começou sua carreira na área de tech, e deixou de ser CLT na instituição bancária para se tornar novamente estagiária, só que dessa vez pela ADP. E assim Aline foi crescendo, e passando por outras empresas de tecnologia como Zero Defect, Develop, Sicredi, E-sales.
Logo após ser demitida pelo Sicredi, aos 24 anos, começou a MAVEN a partir de uma iniciativa da FINEP pelo programa Prime. Depois, fundou a Trubr – uma empresa que desenvolveu a identidade digital e teve uma joint venture com a Procivis, empresa de Zurique, do Cripto Valley, e depois a Privacy Tools com o objetivo de criar uma empresa para atender o mercado das Privacy Techs. Além de ter sido a presidente mais jovem do Brasil a assumir o cargo de presidente Regional Sul da (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação), hoje é voluntária do iColab (Instituto de Gestão, Tecnologia e Inovação), e mantém atuação na agricultura, com uma pequena produção no norte do estado e na serra Gaúcha, mantendo a origem e o legado da família.
Aline compartilha que, pelo fato de vir de uma família extremamente humilde, com pais analfabetos, e ter uma criatividade além das aceitas na sociedade, ouviu durante muito tempo que muitas coisas não eram para ela, como andar de avião, fazer faculdade ou atravessar o oceano.
“O maior desafio eu ainda não superei, mas continuo lidando com ele, que é ser uma mulher e CEO dentro de um mercado predominantemente dominado por homens. Ser mulher, jovem e estar em um cargo de liderança é um desafio diário. Nunca tive certeza de que algo poderia dar certo, mas sempre tive clareza que meu propósito é fortalecer pessoas a partir da sua história de vida. Defendo constantemente a bandeira de que se eu estou em alguma cadeira é por capacidade e não pelo que acharam que era ou não pra mim. Como sempre que já passei por dezenas de desafios, desde sair do interior, iniciar uma empresa, palestrar em grandes eventos, dirigir um caminhão, liderar um time, cuidar de uma safra e reiniciar ela a cada novo ano, e isso não é todos que fazem.”
Aline também relata que aprendeu ao longo da sua vida que toda vez que alguém diz que algo não é pra ela, sua resposta é sempre é: “você tem razão, não apenas isso, talvez muito mais do que isso. Não interessa o que te digam, se você quiser fazer algo você pode e vai fazer. Não existe nada que não seja pra ti. A cada software lançado na minha empresa, penso em cada safra do meu pai, que me ensinou a nunca desistir, pois se uma colheita não fosse boa, ele sempre me dizia que a gente ia plantar tudo de novo e na próxima ia ser, no meu mundo atual, temos que lançar a versão 2 ou quem sabe a versão 3, mas jamais desistir.”
Além de compartilhar sua história de vida, Aline Deparis deixa uma dica para mulheres que estão começando carreira no mercado de TI:
“O maior desafio já foi superado, pois hoje as mulheres lidam com a tech de forma muito mais natural, sem parecer um bicho de sete cabeças. Podemos ver o copo meio vazio ou meio cheio e tudo tem o ônus e o bônus ao mesmo tempo. Ser a única mulher em uma mesa de homens de tech pode ser muito difícil, mas agora, vamos observar por outra ótica? Simplesmente incrível, pois nesse momento levo comigo todas as mulheres que empreendem, levo comigo minhas antepassadas que não tiveram a oportunidade de voz, e isso me dá forças de seguir e fazer o meu melhor a cada dia.”
Foi assim que a Aline encarou e encara as coisas muitas vezes. Para ela “ser uma mulher na área de TI está se tornando cada vez mais estratégico, elegante, sensível, mas ao mesmo tempo forte, estratégico, com visão sistêmica e necessário para todos os negócios, desde uma pequena mercearia até a NASA.”
Colaboração de Miriã Antunes, CEO da Plural e co-fundadora do Minas de Propósito.