Num dia que já seria complicado por definição, depois da decisão do FED americano e Copom, o vilão acabou sendo o petróleo, com queda de mais de 8% para o WTI em NY, trazendo aversão para outros ativos de risco. Por trás disso, está a enorme volatilidade dos juros dos títulos americanos na sessão de hoje, a valorização do dólar perante outras moedas e o descontrole da covid-19 em alguns países. Com a valorização do dólar as commodities encarecem para países com outras moedas e reduz a pressão compradora.

Aqui, muitas questões relacionadas com a alta da Selic em 0,75%, elevando a taxa para 2,75%, e com a expectativa de repetição em próximas reuniões do Copom. Já há quem estime a Selic de final de ano em até 5,5%. De nossa parte, achamos que o Copom agiu certo no sentido de preservar o teto da inflação que estava ameaçado e reforça a credibilidade de atuação.

Num dia de agenda relativamente fraca, os investidores focaram nos títulos americanos e na volatilidade dos juros, mexendo com os mercados. Nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior cresceram 45 mil posições para 770 mil, quando o previsto era queda para 700 mil pedidos. Ainda nos EUA, o presidente Biden negocia enviar vacinas da AstraZeneca para o México e Canadá, e disse não estar arrependido de ter chamado Putin de assassino.

O dia foi também de decisão do BOE (BC inglês) na política monetária, mantendo a taxa de juros em 0,10% e o programa de relaxamento monetário de 895 bilhões de libras. Os membros indicam que não haverá aperto monetário até que a inflação esteja na meta.

Podemos considerar que FED e BOE estão na mesma sintonia, um pouco diferente do BCE (BC europeu), que ampliou a compra de ativos, por conta dos juros em alta. Aliás, o BCE defende a centralização do sistema bancário para lidar com a crise na zona do euro. Christine Lagarde, presidente do BCE, espera crescimento acelerado da região, no segundo semestre de 2021 e riscos melhor equilibrados.

O presidente do FED, Jerome Powell, diz estar fazendo experimentos com moedas digitais emitidas por bancos centrais, mas que elas precisam coexistir com o dinheiro físico. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 8,44%, com o barril cotado a US$ 59,15. O euro era transacionado em queda para US$ 1,191 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,723%. O ouro e a prata com leves altas na Comex e commodities agrícolas com desempenho negativo na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado em Qingdao na China teve leve alta de 0,26%, com a tonelada em US$ 166,62.

No segmento local, pressões sobre o ministério da Saúde do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cobrando maiores ações e colaboração dos demais poderes, e querendo coordenação do presidente. Bolsonaro voltou a falar sobre a covid-19, sem admitir erro na compra dos imunizantes e dizendo que em todo lugar está morrendo gente e, que aqui, virou guerra contra o presidente. Também voltou a criticar o isolamento social, coisa que seu novo ministro defendeu ontem.

O ministro Paulo Guedes também falou sobre projetos para a Amazônia, dizendo que a proposta de um fundo para a região foi acolhida pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Falou em extirpar a mineração e desmatamento ilegais. Bom discurso, mas precisamos passar para a prática. O IGP-M da segunda prévia de março subiu para 2,98%, vindo de 2,29%, acumulando no ano, 8,30% de inflação e, em 12 meses, chegando a 31,15%.

No mercado, dia de dólar voltando a oscilar forte, para encerrar com -0,30% e cotado a R$ 5,57. Na Bovespa, na sessão de 16/3, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos liquidamente no montante de R$ 324,7 milhões, deixando o saldo negativo do mês de março em R$ 2,77 bilhões, mas o ano de 2021 ainda positivo e com ingresso líquido de R$ 14 bilhões.

No mercado acionário, dia de alta nas principais Bolsas europeias. Londres registrou valorização de 0,25%, Paris com +0,13% e Frankfurt com +1,23%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,29% e 0,33%. No mercado americano, o Dow Jones com -0,46% e Nasdaq com -3,02%. Na Bovespa, dia de queda de 1,47% e índice em 114.835 pontos, com destaque positivo para o setor bancário. O afrouxamento do mercado americano na parte da tarde ainda prejudicou mais.

Na agenda de amanhã, nenhum indicador que possa mudar os mercados. Vamos ficar mesmo de olho no comportamento dos juros no mercado internacional e noticiário de momento.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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