O noticiário político tem causado tensões crescentes ao cenário econômico brasileiro, em ondas que já abalam os mercados. As incertezas trazidas pela perda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e a intensificação da disputa entre governo Federal com Estados e municípios em temas envolvendo a pandemia ganharam ingrediente extra nesta semana: a volta da condição de elegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É um cenário que tem levado a fortes oscilações no mercado de capitais, elevando o dólar e reforçando a tendência de alta na Taxa Básica de Juros (Selic), pressionada pela inflação. Um sinal de alerta é que as expectativas de longo prazo dos investidores foram afetadas pelo segundo mês consecutivo em fevereiro, mostra a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
O IMA-B5+, que reúne títulos indexados ao IPCA com vencimentos maiores do que cinco anos, recuou 2,33%, perda acumulada de 3,97% em 2021. A segunda maior queda foi a do IRF-M1+, que expressa uma carteira de prefixados com vencimentos acima de um ano, que contabilizou perdas de 2,01% no mês e 3,37% no ano. “As incertezas para os próximos meses, principalmente em relação aos indicadores macroeconômicos e às contas públicas, reduziram o retorno desses papéis, além do interesse dos investidores por eles”, afirma Hilton Notini, gerente de Preços e Índices da Anbima.
O ápice do intervencionismo do governo de Jair Bolsonaro nas estatais até o momento – com o anúncio de substituição do presidente da Petrobras – já foi marcado por uma fuga de capital estrangeiro do país. Em fevereiro, houve saída de R$ 6,784 bilhões em investimento estrangeiro da bolsa brasileira, o pior saldo mensal desde julho de 2020. Entre os dias 1º e 18 de fevereiro, antes de Bolsonaro dar o primeiro sinal de que interferiria na estatal, havia uma entrada líquida de R$ 4,6 bilhões, de acordo com a B3.
No final de fevereiro, com aumento da pressão governista sobre o Banco do Brasil, a estatal financeira chegou a perder R$ 10,5 bilhões em valor de mercado. Na avaliação de consultor financeiro Adriano Severo, especialista em investimentos pessoais, é um sinal claro dos riscos que têm envolvido os investimentos em estatais. “O investidor precisa ter ciência de que podem acontecer estas interferências em empresas do gênero, e por isso ter uma visão de longo prazo”, aponta.
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Há, ainda, o receio de que o intervencionismo e a redistribuição das cartas no cenário eleitoral para 2022 pressionem ainda mais o câmbio. Desde a crítica de Bolsonaro ao atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em uma live na noite do dia 18 de fevereiro, até o início desta semana, o dólar subiu 4,4% ante o real. Na segunda-feira (8), com a notícia de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin, anulou as condenações de Lula no âmbito da Operação Lava Jato, o dólar subiu 1,67% e o índice Ibovespa caiu 4%.
Adriano Severo aponta que o atual momento político repete outros tempos de turbulência no mercado, atingindo bolsa, câmbio e até renda fixa, e deve servir de estímulo para que o investidor revise suas estratégias. “Este movimento atual já aconteceu no Brasil e acontecerá de novo. Por isso, cabe ao investidor ter calma nos investimentos, entender o que se está fazendo, revisar estratégias, saber o que faz sentido e ter visão de longo prazo”, recomenda.