CENÁRIO EXTERNO

Yellen fala no Senado

Mercados

Mercados asiáticos encerram a sessão de ontem majoritariamente em terreno positivo. Na zona do euro, índices acionários amanheceram com leve viés altista: o Stoxx 600, índice que abrange uma gama de ativos de risco da região, avança 0,20% até o momento. Em NY, índices futuros operam com altas da ordem de 0,80%, enquanto o dólar (DXY) registra baixa contra os seus principais pares. Na fronte das commodities, ativos têm desempenhos positivos. O preço do petróleo (Brent crude) se mantém em alta de mais de 1%, negociado em torno dos US$ 55,45/barril.

Yellen vai ao Senado

Mercados globais abriram a sessão em tom positivo, com investidores de olho no Senado americano enquanto bolsas americanas voltam a abrir após o feriado do Martin Luther King Day. O destaque do dia será a fala da economista Janet Yellen, nomeada para assumir o Tesouro americano na era Biden, diante do Comitê de Finanças do Senado dos Estados Unidos. O evento começa às 12h e deverá abordar inúmeros assuntos desde política cambial à tributação, mas o principal ponto de interesse do mercado é saber como Yellen defenderá o pacote de US$ 1,9 trilhão apresentado pela administração de Biden em 2021.

Tarefa difícil

Como ex-Fed e conselheira econômica da Casa Branca durante o governo Clinton, Yellen tem ampla experiência na costura de políticas econômicas, mas esta será a primeira vez em que terá de atuar como política para angariar o maior número de apoiadores para a causa do governo. A expectativa é de um pedido para que os parlamentares “pensem grande”, principalmente por viverem em um ambiente em que os juros baixos amenizam as consequências de gastos elevados. Ao que tudo indica, a tarefa não será tão simples, pois Senadores de ambos os partidos também vem o dia como forma de avançar suas próprias agendas dentro do Congresso. Vamos acompanhar…

Na agenda

Como principal destaque da agenda no dia, o mercado recebeu o índice Zew de expectativa nas economias alemã e europeia, um importante indicador de confiança divulgado no bloco. Na leitura preliminar de janeiro, a pesquisa apontou para uma leve melhora das expectativas tanto na Alemanha (+6,8 pts para 61,8) quanto na zona do euro (+3,9 pts para 58,3). Segundo os especialistas que administram a pesquisa, a economia tem apresentado sinais de melhora a despeito das incertezas que rondam o futuro da pandemia, principalmente na Alemanha, onde a expectativa é de uma retomada relevante das exportações no curto prazo. Na Europa, o destaque fica para uma alta relevante nas expectativas de inflação, onde a variação do CPI em 12 meses segue abaixo de zero e o BCE sustenta uma política monetária ultra-expansionista.

CENÁRIO BRASIL

Bolsonaro sofre novo revés em pesquisa

Perda de popularidade

Uma pesquisa produzida pela XP/Ipespe referente à aprovação do governo Bolsonaro apontou para o enfraquecimento político do presidente da república. Saltou de 35% para 40% o percentual de indivíduos que avalia o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo, enquanto decaiu de 38% para 32% o percentual de indivíduos que vêm o governo como ótimo ou bom. Pela primeira vez desde julho do ano passado, a avaliação com teor negativo supera àquela com cunho positivo. Sem grandes surpresas, a piora de percepção pública decorre da gestão inadequada da pandemia: entre os entrevistados, 52% consideraram a gestão do presidente nesta fronte como ruim ou péssima; aumento de 4 pontos percentuais em relação a dezembro.

Motivos adicionais

A atitude negacionista do presidente, acoplado à sua incessante vontade pela inação, seja para seguir protocolos de saúde adotados internacionalmente, seja para adquirir uma vacina amplamente disponível, cobra seu preço frente ao eleitor. Ainda, vale relembrar que, da mesma forma que o instalação do auxílio emergencial turbinou sua estima – principalmente entre os mais pobres –, sua retirada causa o efeito contrário em maior magnitude. Isto é, retirar o auxílio sem colocar algo em seu lugar que respeite as restrições impostas pelo teto de gastos tenderá a subtrair suporte de uma base conquistadas durante os momentos mais agudos da crise. Caso Bolsonaro não mude de atitude frente à pandemia e comande a implementação de medidas concretas que contornem o quadro deteriorado da economia, ele continuará dificultando suas chances de reeleição em 2022.

Falta de insumos

Após a euforia causada pela aprovação emergencial das vacinas por parte da Anvisa, a falta de insumos para sua produção marca as dificuldades que vem pela frente. Diversos centros de imunização ao redor do país têm reportado falta de ingredientes para impulsionar a produção local dos imunizantes. Em São Paulo, por exemplo, o estoque de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) só permitirá a produção da Coronavac até o fim de janeiro. A falta de insumos é indicativa de um possível atraso na condução da campanha de vacinação e consequente extensão dos efeitos recessivos proporcionados pela covid-19 sobre a atividade econômica. Como mencionamos outrora, o atraso na campanha de vacinação agora corresponde ao maior risco a ser enfrentado pelos formuladores de políticas públicas.

Gastos com covid-19 em 2021

A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado – uma espécie de cão de guarda das contas públicas – reportou que os gastos públicos com covid-19 devem alcançar R$ 36,1 bilhões em 2021. Parte da cifra (R$ 16,1 bi) faz referência à determinadas pendências que ainda devem ser pagas pelo governo, como o auxílio emergencial a vulneráveis e trabalhadores informais (R$ 2,3 bi) e o benefício emergencial para a trabalhadores formais (R$ 8 bi). O restante dos valores (R$ 20,0 bi) está disponível única e exclusivamente para financiar a campanha de vacinação.

Efeito duplo da volta à austeridade

A projeção do gasto público para 2021 teve redução abrupta quando comparado à magnitude do dispêndio público efetuado em 2020. Em essência, o menor gasto ocorre devido ao retorno da agenda de austeridade, cujo principal objetivo é equilibrar as contas públicas via redução de gastos, já que um aumento da tributação é econômica e politicamente inviável. Se por um lado esta redução de gastos coloca o déficit público em direção ao superávit, contribuindo para a queda da relação dívida/PIB, por outro tende a subtrair da atividade econômica. Em um ambiente de desemprego nas máximas históricas com contínua pressão do vírus – principalmente no setor de serviços e no mercado de trabalho – a contração fiscal tende a amplificar as sequelas deixadas pela pandemia. Neste cenário, recai quase que integralmente sobre o Banco Central o ônus de puxar o crescimento econômico de curto prazo. É proeminente que Governo e Congresso equalizem as restrições do teto com a implementação de um novo auxílio para evitar um cenário desastroso. Afinal, o que se aconselha pelo FMI e Banco Mundial é que a retirada precoce de estímulos pode ser extremamente contraproducente.

Na agenda

O principal destaque da agenda local será a 2ª prévia do IGP-M de janeiro, divulgado pelo Ibre/FGV às 8h. Mais tarde, o investidor se atenta a mais um leilão de NTN-B do Tesouro Nacional, com início previsto para às 11h30. Paralelamente, o Copom dá início à mais uma reunião de política monetária, com decisão a ser divulgada amanhã à tarde.

E os mercados hoje?

Bolsas globais têm manhã positiva em volta de feriado nos EUA, onde atenções se voltam para a fala da economista, Janet Yellen, no Congresso americano. No Brasil, o destaque ficou para a pesquisa da XP/Ipespe que apontou para uma queda de aprovação relevante do presidente Jair Bolsonaro. No pano de fundo, segue a expectativa pelo início da campanha de vacinação federal e a decisão de taxa de juros do Copom, ambos previstos para esta 4ªfeira. Desta forma, esperamos um dia de viés positivo para ativos de risco locais, que poderão dar sequência ao movimento de recuperação iniciado ontem na esteira do bom humor em que bolsas americanas estão voltando às negociações.

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