Poucas vezes viu-se um horizonte de tantas incertezas no contexto brasileiro de investimentos. Mesmo com as vacinas no radar, o coronavírus ainda causa turbulências no mercado, como se viu após a divulgação de uma segunda cepa, ainda mais contagiosa, no Reino Unido. Já a Renda Fixa, hoje apertada, poderá ter um cenário de maior valorização em razão da pressão inflacionária.
No meio disso tudo, o câmbio permanece como uma grande incógnita, que refletirá diretamente a complicada situação fiscal brasileira. Veja o que dizem dois analistas sobre os principais tipos de investimentos em 2021, e relembre o desempenho de câmbio, renda fixa e Ibovespa até aqui neste tumultuado 2020.
Renda Fixa: Dados os efeitos devastadores da pandemia sobre o orçamento público e as dificuldades que o governo vem demonstrando para lidar com o aumento da dívida, os preços dos ativos vêm refletindo negativamente a perspectiva de um contínuo desajuste fiscal. Na renda fixa, a cotação do Tesouro IPCA+ 2045 no mercado secundário já caiu -11,04% no ano até início de dezembro. “Obviamente o risco aumentou, mas a questão a ser colocada é quanto os preços já estão refletindo este risco”, comenta Marcelo Guterman, especialista de investimentos da Western Asset. Se atual cenário-base prevalecer, a Taxa Selic, atualmente em 2%, deve permanecer nos atuais patamares por ainda muito tempo (pelo menos até o final de 2021), e as taxas mais longas deveriam recuar. “Este cenário abre uma janela de oportunidade muito interessante para investimentos em renda fixa de prazos mais longos”, projeta Guterman.
Bolsa de Valores: O risco fiscal influencia todos os ativos de risco brasileiros, e não seria diferente com a bolsa. Neste ano, a perda acumulada é de 2,3% no Índice Ibovespa. A análise de especialistas é que o atual problema fiscal do governo atinge a precificação das ações, sob fatores como fluxo de lucros futuros e taxa de juros exigida pelos agentes econômicos e seus efeitos na economia. De acordo com o analista-chefe da Geral Asset, Carlos Müller, a situação do Brasil preocupa, pois está entre os países que mais incentivos colocaram na economia em função da pandemia. “Isso piorou a situação fiscal do Brasil, que já vinha numa trajetória de endividamento crescente”, comenta. Por outro lado, o atual cenário revela uma evidente retomada nas principais economias mundiais, ainda que haja incerteza de como se dará a continuidade dessa recuperação. “No mercado financeiro vemos claramente esse cenário de recuperação, mas ainda com um potencial grande. Há um claro desconto na bolsa de valores”, aponta Müller.
Cambio: Até o início de dezembro, o dólar contava com valorização de 33,2% no ano e 26,1% em 12 meses. Ao lado da taxa de juros, o câmbio foi a variável que mais refletiu a deterioração das expectativas em relação ao cenário fiscal interno, de acordo com Marcelo Guterman, da Western Asset. Tendo começado o ano em R$ 4,03, o câmbio se desvalorizou até a máxima de R$ 5,94 no dia 14/05. “Aparentemente, a bolsa passou a precificar uma recuperação em V da atividade econômica, enquanto o câmbio sempre esteve mais relacionado com a questão do desequilíbrio fiscal”, compara o especialista. Ele observa que o câmbio reflete a capacidade do país de manter o valor de sua moeda. Ou seja, seu direcionamento em 2021 irá se ajustar para incorporar a expectativa de uma inflação futura maior e, também, o nível necessário para atrair capitais que ajudem o país a pagar as suas contas.