Investidores e gestores de recursos não gostam de surpresas. Sabendo o que se espera acontecer as decisões podem ser tomadas com algum grau de segurança. Quando a situação é indefinida aparece a aversão ao risco e os mercados sofrem. Hoje, esses agentes do mercado tiveram algumas certezas. O colégio eleitoral sacramentou a vitória de Joe Biden como próximo presidente americano, as vacinas para imunizar as populações já começaram a ser aplicadas ou liberadas pelos órgãos de controle e o próprio primeiro-ministro britânico declarou trabalhar com Brexit sem acordo.

Aqui, o relatório da LDO foi anunciado já incorporando a nova expectativa do governo sobre déficit e pode ser votado ainda amanhã. Com isso, depois de uma madrugada fraca na Ásia, os mercados da Europa terminaram o dia com altas (exceto Londres) e o mercado americano foi consolidando progressivamente a alta. Aqui, ainda tivemos o efeito da nova alta do minério de ferro puxando as ações de siderurgia e mineração.

No exterior, os dados de conjuntura anunciados pela China para o mês de novembro no geral vieram bem e deram alguma alegria para as commodities, principalmente as metálicas. Isso foi complementado pela divulgação nos EUA da produção industrial de novembro com expansão de 0,4%, quando o esperado era que ficasse em +0,2%. Porém, o índice de atividade de NY mostrou retração para 4,9 pontos, vindo de anterior em 6,3 pontos e com previsão de ficar em 5,4 pontos. O BCE (BC europeu) recomendou prudência extrema para as instituições financeiras com pagamentos de dividendos e recompra de ações, pelo menos até setembro de 2021, para absorção de perdas que irão ocorrer.  

Dentre os países emergentes de maior importância, Rússia, China e Coreia do Sul são considerados os menos vulneráveis em 2021, enquanto Brasil, África do Sul e Turquia vão seguir considerados como os mais vulneráveis. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY, mesmo com as previsões da AIE- Agência Internacional de Energia, operou com alta de 1,38%, com o barril cotado a US$ 47,64. O euro era transacionado em leve alta para US$ 1,21 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,91%. O ouro e a prata negociado na Comex mostravam altas e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro recuperou parte das perdas de ontem na China, fechando com alta de 0,45% e tonelada cotada em US$ 155,07.

No cenário doméstico, o Copom divulgou a ata da última reunião de política monetária, contendo tom mais duro já identificado no comunicado pós-reunião, falando das incertezas internas e externas, a segunda onda, a inflação acima do previsto nos últimos meses a fraca atividade de serviços, a boa recomposição da renda pelos programas criados e, ainda, citando a necessidade de reformas e ajustes. Com isso, mantemos a expectativa de que forward guidance possa ser retirado em janeiro, ou no mais tardar em março, abrindo espaço para elevação da taxa Selic nos meses seguintes, mas sem grande pressa, dependendo do comportamento da inflação.

Tivemos também a divulgação do relatório do orçamento de 2021 já incorporando o déficit de R$ 247,1 bilhões previstos pelo governo e restringindo o mesmo a executar somente despesas inadiáveis até que a LOA (Lei Orçamentária Anual) esteja aprovada. A prioridade é o programa Casa Verde e Amarela. O presidente Bolsonaro fez declarações iradas sobre quererem privatizar a Ceagesp para amiguinhos, sobre o Queiroz e dinheiro na conta de sua esposa e sobre processo contra seu filho que, segundo ele mesmo, não estava ocorrendo. Isso ainda vai repercutir. Já Rodrigo Maia disse que o governo desistiu de incluir gatilhos de teto de gastos no PLP 101.

No mercado, dólar fechando com queda de 0,66% e cotado a R$ 5,09, mas oscilou bastante ao longo do dia. Na B3, na sessão de 11/12, os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 365,4 milhões e, com isso, as entradas líquidas do mês estão em R$ 7,89 bilhões, mas no ano, as saídas ainda montam a R$ 43,7 bilhões. Juros encerrando o dia em queda para todos os vencimentos mais líquidos.

No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 0,28%, Paris com +0,04% e Frankfurt com +1,06%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,14% e 0,81%. No mercado americano, dia de alta do Dow Jones de 1,14% e Nasdaq com +1,25%. Na Bovespa, mercado em alta de 1,34% e índice em 116.148 pontos, perto da máxima do dia.

A agenda de amanhã traz o fluxo cambial pelo Bacen, indicadores de atividade PMI de dezembro em diferentes países, as vendas no varejo dos EUA em novembro, a decisão do FED sobre política monetária, estoque de petróleo, derivados e coletiva do presidente do FED, Jerome Powell.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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