Resumo da semana – 11/12/2020
A semana ainda foi positiva para os mercados de risco no mundo, como consequência da enorme liquidez global, e do prenúncio de ainda maior liquidez decorrente de novos estímulos no Japão, Europa e a novela do pacote fiscal americano. Os investidores reduziram a aversão ao risco por conta do início de imunização das populações de países mais desenvolvidos, e foram as compras em ações, com índices batendo recordes no Japão e EUA, e, na Bovespa, quase zerando as perdas do ano, com índice batendo acima de 115 mil pontos, como vínhamos projetando. Aqui, o Congresso voltou a trabalhar após passado o segundo turno das eleições municipais, mas, por enquanto, sem aprovar medidas substantivas, e basicamente liberando recursos escassos.
A segunda onda de contaminação pela covid-19 seguiu grassando no mundo, com países importantes como os EUA e a Alemanha batendo recordes de contágio e também de óbitos. Isso ensejou declaração consternada da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e mais medidas de restrição de contato em diferentes países, além de lockdown parcial em regiões. Isso também aflorou a necessidade de novos estímulos fiscais e monetários na tentativa de evitar nova desaceleração ou duplo mergulho em economias.
Tanto isso é verdade que o BCE (BC europeu), em sua reunião de política monetária, optou por manter juros estabilizados, mas ampliou o QE (quantitative easing), engrossando a compra de títulos em 500 bilhões de euros, estendendoprazos de compra de títulos e de refinanciamento. Na sequência, Christine Lagarde fez menção que o fundo de recuperação da região deve ser operacional rapidamente, coro engrossado por Merkel. Também falou em maior flexibilidade para ordenar compras de títulos, e pode ir recalibrando ferramentas.
Outra situação difícil flagrada durante o período, foram as marchas e contramarchas no pacote fiscal americano e o Brexit. O pacote fiscal virou uma novela sem fim, onde Republicanos e Democratas não conseguem chegar a um acordo. Num momento pacote pode sair, e em outro, não. Pelo menos durante o período, os Republicanos pediram uma votação bicameral e bipartidária para aprovar estímulos de US$ 908 bilhões, e as últimas notícias indicam boas chances de sair, mas sem precisar data.
Já sobre o Brexit, temos a mesma novela. Vamos ter acordo, seguido de notícias de que não haverá. Durante a semana, se falou em controle de fronteira, área de pesca, medicamentos, carnes, etc. Logo em seguida, tivemos notícias sobre divergências profundas relatadas pela União Europeia, seguida de declarações do primeiro-ministro britânico Boris Johnson de que possivelmente não haveria acordo, ou não haveria acordo ainda em 2020. O presidente do BOE, por conta disso, falou que o sistema financeiro está preparado para Brexit sem acordo.
Na semana, tivemos as questões diplomáticas entre a China e os EUA, envolvendo também Hong Kong. Ações de 21 empresas chinesas não terão mais acompanhamento do índice S&P, chineses restringiram viagens de autoridade americanas a Hong Kong, sanções contra chineses e também sanções contra a Turquia endossadas pela União Europeia, por provocações no mar Mediterrâneo. Tudo isso constou do cardápio da semana e trouxe forte oscilações em commodities e mercados acionários, além de dólar fraco no mercado internacional em muitos dias. Destaque para alta do petróleo em algumas sessões e destaque absoluto para o minério de ferro nas negociações. Qingdao, incorporando sequência de 10 pregões de alta e a tonelada do minério vazando para cima a cotação de US$ 160.
Em termos de indicadores, as exportações chinesas cresceram 21,1% em novembro, as importações com +4,5% e superávit na balança comercial crescendo para US$ 75,4 bilhões, vindo de anterior em US$ 58,4 bilhões. Segundo o PBOC (BC chinês), as reservas cambiais estavam em US$ 3,18 trilhões, engordando US$ 51,8 bilhões em novembro. Lá, a inflação medida pelo CPI de novembro desacelerou para 0,5%. No Japão, foi anunciado um pacote de estímulos de 73,6 trilhões de ienes, e o PIB do terceiro trimestre expandiu 5,3%, com taxa anualizada de 22,9%. Na África do Sul, o PIB cresceu com taxa anualizada de 66,1% e, na zona do euro, o PIB do terceiro trimestre teve aumento de 12,5%, mas no ano, ainda encolhe 4,3%.
Na Alemanha, o superávit na balança comercial de outubro foi de 18,2 bilhões de euros, fruto de exportações crescendo 0,8% e importações com +0,3%. A produção industrial de outubro cresceu 3,2%, quando o previsto era alta de 1,5%. A deflação pelo CPI foi de 0,8% em novembro e taxa anual também em deflação de 0,3%. No Reino Unido, a produção industrial encolheu anualizada 5,5%, de previsão de -6,6%.
Nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego da semana atingiram 137 mil posições para 853 mil pedidos, quando o esperado era que ficasse em 730 mil. A inflação medida pelo CPI (consumidor) de novembro foi de 0,2%, assim como o núcleo, perfazendo inflação anual de 1,2% e núcleo de 1,6%. O PPI (atacado foi de 0,1% e núcleo igual.
No cenário doméstico, passada as eleições municipais de segundo turno, os parlamentares voltaram ao trabalho e deram algum adianto em votações pendentes. O senado aprovou a nova Lei do Gás, mas com mudanças, retirando do texto base as térmicas inflexíveis e tendo que voltar para votação na Câmara. A Câmara votou o texto-base sobre o Fundeb com a divisão de recursos entre os Estados e o Congresso marcou votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para o próximo dia 16/12, e seria muito positivo se fosse aprovada, pois, liberaria o Tesouro para execução.
Já a divulgação do relatório da PEC Emergencial ficou para o início de 2021, o que gera atraso significativo de matéria importante. Temos que considerar ainda que com o STF proibindo as candidaturas de Alcolumbre para o Senado e Rodrigo Mais para a Câmara, o processo volta à estaca zero, e daqui a até fevereiro vai gerar muito ruído e barganhas. Rodrigo Maia “falou grosso” nessa semana contra o governo, dizendo ter“ livro de 3 volumes” com promessas da equipe econômica e dizendo querer votar os temas realmente importantes. Já Bolsonaro, disse que a pandemia está no “finalzinho”, quando a contaminação e óbitos cresceram, e o ministério da Saúde não tem a menor ideia sobre vacinas, com baixa disponibilidade para compras, o que deve atrasar muito a imunização.
Na economia, o IBGE anunciou as vendas no varejo de outubro com alta de 0,9%, contra igual período de 2019 com +8,3%. O varejo ampliado expandiu 2,1% no mês e 6% contra igual período. A expansão dos últimos seis meses foi de 32,9%, mas em 12 meses, ainda mostra contração de 1,4%. Também anunciou o volume de serviços prestados em outubro com +1,7% e +15,8% nos últimos 5 meses seguidos de crescimento. Em 12 meses, temos contração de 6,8% e ainda estamos 16,6% aquém do pico ocorrido em 2014. A inflação oficial de novembro acelerou para 0,89% (anterior em 0,86%)e, no ano, acumula alta de 3,13% e em 12 meses de 4,31%. O índice de difusão segue alto em 66,8%, e alimentos transportes e habitação foram responsáveis.
O Bacen também divulgou sua decisão sobre política monetária fechando a porta de nova quedas da Selic, deixando subentendido que pode retira o forward guidance já na reunião de janeiro, abrindo a possibilidade de mexer a Selic para cima logo no início do segundo semestre. Também anunciou duas operações extras de swap cambial na semana que ajudaria a taxa cambial em queda no período, junto com maior fluxo de ingresso. No mercado acionário, depois de os investidores estrangeiros terem aportado recursos na Bovespa em novembro de R$ 33,3 bilhões, os ingressos seguiram em dezembro e até 9/12, já tinham entrado recursos de R$ 6,54 bilhões, mas com saídas líquidas no ano de R$ 45 bilhões, após terem atingido quase saídas de R$ 90 bilhões. Na B3, o número de pessoas físicas estava em 3,2 milhões em novembro, e o valor de mercado das empresas listadas (407) era de R$ 4,47 trilhões.
Perspectivas
Vamos começar lembrando que existem muitas incertezas rondando o mundo nesse momento, porém com certo viés para o positivo. Só lembrando, o pacote americano de estímulo fiscal virou uma novela que não tem mais data para terminar (mas vai acabar saindo). O Brexit é outra encrenca sem resolução e possivelmente não terá desfecho solucionado em 2020. Há ainda as retaliações mútuas dos EUA e da China, envolvendo agora também Hong Kong, sanções contra a Turquia endossadas pela União Europeia.
Há vacinas que precisam chegar em diversas populações e, com todos os problemas de logística, e contaminações recordes e óbitos também em diferentes países. Mais restrições de contato estão sendo impostas também, lembrando que os frutos do contato social no dia de Ação de Graças estão sendo colhidos agora, e o das eleições municipais por aqui, também.
Mas aparentemente existem boas perspectivas para quase todos esses temas elencados (e mais alguns), e permeando tudo isso, a liquidez internacional tende a reduzir a aversão e ampliar o apetite ao risco. Portanto, é só uma questão de se ter cautela.
Aqui, o fluxo de recursos canalizado faz a diferença e propicia a recuperação do mercado acionário, quase zerando a conta de 2020. Mas além das incertezas externas, temos todas as nossas domésticas, que também indicam prudência. Governo e Congresso precisam ser ágeis em encaminhar e discutir propostas de reformas e ajustes que são duras, num prazo bem curto para sinalizar que queremos acertar o país.
Mas temos eleições para o Congresso que podem atrapalhar e a vontade mais populista impressa no governo.
Em função disso, pensamos que os mercados podem desacelerar um pouco e trabalhar em zona de acumulação entre 113 mil e 116 mil pontos, semelhante ao que aconteceu em meados de dezembro de 2019 a meados de fevereiro de 2020. Porém, se houver fluxo, o objetivo pode ser novamente a faixa de 120 mil pontos.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado