Vivemos um eterno dilema. A busca pela hora certa de vender uma ação é a preocupação de muitos enquanto percorrem a trilha. Nas perguntas que nos chegam, vemos um maior receio sobre o que fazer em um determinado momento do que algo mais técnico na busca pela exatidão.
Tal receio se eleva quando a alta volatilidade no mercado se apresenta. Assim, uso como referência o livro Rápido e Devagar: duas formas de pensar de Daniel Kehneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia.
“Investidores individuais gostam de aplicar seus ganhos a longo prazo, vendendo posições vencedoras, ações que valorizaram desde que foram adquiridas, e ficando com ações que estão em baixa, perdedoras. Infelizmente para eles, vencedoras recentes tendem a se sair melhor do que perdedoras recentes no curto prazo, de modo que os investidores individuais negociam as ações erradas”.
Muitas vezes agimos por impulso, com o desejo de vender o quanto antes algo que subiu e alimentando a “esperança” para que volte a subir àquelas que ficaram para trás. Ou seja, vender muito cedo algo que é bom e ficar por muito tempo com algo que é ruim.
Sim, você pode ter sorte em comprar uma ação arriscada (ou ruim) e ganhar com isso, mas o processo dessa escolha foi prudente? Cada um escolhe a trilha que deseja percorrer. Por isso no Clube Acionista apresentamos diversas categorias para você escolher a que mais interessa.
O bom senso se aplica em optar por aplicações que você considera como algo de qualidade. Bem como, se isso é capaz de lhe gerar lucro, ou seja, o dia em que isso deixar de ser uma realidade, este ativo deve ser removido.
Cautela na compra evita que você tenha que vender precocemente
Destacando uma frase de Warren Buffett, aclamado por muitos como o melhor investidor de todos os tempos:
“Quando compramos porções de um negócio excelente, com gestão excelente, nosso horizonte de tempo favorito para o investimento é para sempre”.
Antes de qualquer conclusão, é bom deixar claro que Buffett não quis dizer que nunca vende uma ação. A ideia por trás da frase é que, contanto que a ação apresente fundamentos sólidos e seu preço não esteja muito acima de seu valor, ele manterá a empresa na carteira.
A hora de vender tem muito mais a ver com o momento que você comprou do que você pensa. O mercado se movimenta todos os dias, as ações que você comprou são negociadas livremente, flutuando de preço. Você pode até tentar, mas dificilmente conseguirá prever o preço de uma ação no futuro.
Algumas vezes andará na direção que você deseja, outras na oposta. Talvez você erre por centavos, talvez supere suas estimativas. Neste sentido, saber o momento exato para vender em busca do máximo retorno se torna quase impossível.
Contudo, existe uma melhor forma de vender sem que você tenha o receio – ou dúvida – se é ou não o melhor momento.
Olhe para as empresas que você possui na carteira e responda estas duas perguntas:
Os fundamentos que fez com que você comprasse tal empresa seguem fazendo sentido?
Caso você venda hoje, existe alguma outra opção de investimento melhor para você colocar o seu dinheiro?
Se você respondeu “não” para a primeira e “sim” para a segunda, então provavelmente esteja na hora de vender.
Seja prudente com seu dinheiro
Se quando você comprou uma ação, desconhecendo o que faz ela se valorizar ou desvalorizar, provavelmente você vai sentir que a hora de vender é quando ela começar a ficar no vermelho lhe dando prejuízo.
Um exemplo rápido:
Como você se sentiria caso comprasse hoje aquela dica quente do amigo, e no dia seguinte quando você abre o home broker essa mesma ação está caindo 12% por conta de rumores macroeconômicos?
Se você não conhece a empresa e os porquês do investimento, a consequência mais provável seria só vender e aceitar o prejuízo.
Porém, se você conhece o negócio e está ciente dos riscos, confiando nos fundamentos da empresa, a queda pode até virar um momento para comprar mais a ação, por um preço mais barato.
Outro exemplo:
Meramente hipotético, ilustrativo, sem motivo algum para validar como sugestão de investimento.
Suponhamos que você tenha comprado ações da Embraer, uma fabricante de aviões, se você já viajou de avião, provavelmente já voou em algum produzido pela empresa.
Deste modo, você avaliou o segmento e percebeu que a empresa está em um ótimo momento. Ganhando da concorrência, preço atrativo, com planos de crescimento e por aí vai. Então, por conta disso, resolve comprar as ações, acreditando que a Embraer pode se tornar uma empresa ainda mais importante em seu setor.
Anos depois, a empresa resolve anunciar em Fato Relevante, meio oficial usado pelas empresas que estão na Bolsa para comunicar os investidores, sobre uma mudança. O anúncio informa que deixará de fabricar aviões para se dedicar à locomoção terrestre (carros, motos, ônibus e etc).
Não somos contra a inovação, de certo modo somos grandes incentivadores, colocando diversas fontes na plataforma como o Clube Acionista. Nele reunindo em um só lugar e promovendo a liberdade e independência da informação. Porém, neste caso, sob olhos de um investidor, não parece fazer muito sentido para uma empresa especialista em transporte aéreo passar a dar foco em transporte terrestre.
Fundamentos mudam, teses de investimentos mudam e este é um exemplo bastante esdruxulo para explicar a hora de vender uma ação. Estando no lucro ou no prejuízo, se as coisas mudam com relação ao que você espera, é hora de vender para buscar algo melhor e de sua confiança.
E se fosse diferente?
Aqui o objetivo é que você entenda a necessidade de ter um bom motivo para comprar a ação. Por outro lado, se este motivo deixar de existir, então é hora de se desfazer das ações.
Todos cometemos erros de escolher algo que possa nos levar ao prejuízo, por isso, defendemos tanto a diversificação por ser algo que protegerá suas escolhas como um todo. Ou seja, enquanto uma ação pode estar caindo; outra pode estar subindo cobrindo tal queda.
Ao mesmo tempo, as quedas – como explicamos acima – nem sempre significam um motivo para vender. Se fosse diferente, em caso de ver a ação subindo, pode surgir a dúvida se já é a hora de colocar o lucro no bolso.
Já sabemos que dificilmente acertaremos a hora certa de comprar, isso também se aplica para a hora de vender. E por isso, voltamos para aquelas perguntas no início deste material:
A empresa continua fazendo aquilo que motivou você a investir nela? Hoje, você ainda vê possibilidade de crescimento? Caso você decida vender, há outra alternativa melhor para colocar seu dinheiro?
Se a resposta for “sim” para as duas primeiras e “não” para a terceira, então você deve seguir com as ações.
Lembre-se do risco
O motivo da diversificação é justamente equilibrar o risco. Se você me acompanha por aqui ou pelo Clube Acionista, perceberá que reforço como ideal que você tenha uma combinação de aplicações para a parcela da renda variável. Assim, diluindo riscos e equilibrando o potencial de retorno.
A renda variável, varia. Uma ação pode subir 50% e cair outros 50%. Se você encontrar outra ação com uma relação risco/retorno melhor, então começa a fazer sentindo substituir o que você possui atualmente.
Lembre-se de ter sempre um motivo para vender. Caso contrário, se você decide manter na carteira, então significa que hoje as ações que você possui são as melhores alternativas para carregar neste momento.
Apegue-se ao que importa
Algumas vezes, temos que alterar a rota para alcançar os objetivos. Reconhecer que o cenário pode mudar e que surpresas acontecem.
O poder de adaptação é algo que o mercado nos impõe todos os dias.
Realizar prejuízos pode ser algo que algum dia você venha a ter que fazer. Isso por identificar que aquilo que você esperava mudou e precisa ser readaptado.
Em alguns casos “comprar mais” para baixar o Preço Médio, esperando um dia poder vender e recuperar o prejuízo, pode fazer você se submeter ao risco de carregar por muito tempo ações com prejuízo, como explica Daniel Kehneman.
A dor da perda é sentida com muito mais intensidade do que o prazer do ganho. Essa “tendência” nos leva realizar pequenos lucros e a carregar por mais tempo posições perdedoras. Claro que na prática é muito mais difícil do que na teoria aceitar o prejuízo. Mas o importante é que você fique atento aos fundamentos da empresa. Contanto que ela ainda tenha suas vantagens competitivas, bem como formas para continuar crescendo, uma grande queda não deve ser um problema estrutural e sim temporário.
No entanto, se outro ativo, que oferece maior potencial de recuperação. Ou seja, mais resiliente, com gatilhos que podem levar à uma valorização de 20%, 30% ou mais. Não seria melhor substituir por essa nova com maiores chances de reaver parte da perda ou até de ultrapassar tal situação?
Quando algo lhe gera desconforto, você precisa cortar esse mal pela raiz, é o ponto principal para novos ganhos, novas oportunidades, novos horizontes.
A trilha continua
O importante aqui é o bom senso, seja racional. Dessa forma, não tenha excesso de “apego” com uma ação. Se hoje o ativo já não atende ao que você deseja, talvez seja hora de considerar desfazer da posição para aportar em melhores oportunidades.
Portanto, seja seletivo na hora de escolher onde você vai colocar o seu dinheiro. Sem seguir as dicas quentes de ação, mas sim focando em fundamentos que se resumem em bons motivos para investir. Pois lembre-se que o preço de uma boa ação converge para o lucro no longo prazo.
Este pensamento vai ajudar na hora do pânico. Com o mercado caindo 40% é difícil ter estômago pra ver seu patrimônio derretendo. Do mesmo modo, é difícil não vender quando um lucro esperado começa a aparecer. Por isso, é extremamente importante se manter racional e analisar se você precisa mesmo realizar uma venda ou se é hora de comprar mais.
Se você tem dúvidas e deseja conversar com alguém sem conflito de interesse, pode contar comigo. Direto pelo Clube Acionista há um canal direto para você enviar as suas dúvidas.