Hoje foi mais um dia de mercados com forte volatilidade e mudança de sinais intraday. Certamente os investidores no mundo estão divididos entre o aumento da contaminação e testes bem-sucedidos de vacinas, também entre a continuidade de Trump e Joe Biden na presidência com debate televisivo hoje, às 22 horas (horário de Brasília) e, isso, acaba mexendo com preços dos ativos, pois interfere nas previsões de recuperação da economia global.
Aqui, nem precisamos lembrar que isso também causa impacto desmensurado na economia desequilibrada, que necessita de reformas e ajustes urgentes para agregar segurança, e agora, afetado pelo que se está sendo chamando de nova “pedalada” com recursos do Fundeb (fora do teto) e precatórios (com pagamento apenas adiado) para formatar o programa Renda Cidadã e ainda o espectro da nova CPMF para desonerar folha de pagamentos. Isso, como lembrado, representa o desafio antigo grego da quadratura do círculo. Ou pedala, ou não tem Renda Cidadã, ou institui a CPMF, ou tem desoneração.
Na fala de Bolsonaro, hoje, ele pediu sugestões e isso foi interpretado como possibilidade de desistência de pedalar. Mas, logo em seguida, o senador Márcio Bittar veio dizendo que não vai desistir do Renda Cidadã. Os mercados acompanharam esses movimentos, com melhora, seguida de piora. Bem verdade que o mercado americano também piorou, o que ajudou a derrubar a Bovespa e puxar novamente o dólar.
No exterior, a deflação de setembro pelo CPI na Alemanha surpreendeu com -0,2% (anual e mensal), quando o previsto era estabilidade. O BOE, por seu presidente Bailey disse que há ainda muito trabalho antes de adotarem juros negativos, pois existem outras ferramentas que podem ser acionadas antes. Nos EUA, o presidente do FED de NY (John Williams) disse que a resiliência do sistema bancário americano tem sido fator-chave forte da recuperação. Já Kaplan, do FED de Dallas, pediu mais medidas para ajudar desempregados (está no programa anunciado por Nancy Pelosi) e estimou PIB em contração nesse ano de 3%.
O índice de confiança do consumidor do Conference Board de setembro subiu acima do previsto para 101,8 pontos, de esperados 99,1pontos. No mercado internacional, o petróleo WTI chegou a cair mais de 5% em NY, e trabalhava no final do pregão com queda de 3,94% e cotado a US$ 39. Isso se deve ao temor com a nova contaminação pela covid-19 afetando a demanda por óleo. O euro era transacionado em alta e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,64%.
O ouro e a prata, como em todos os momentos de maior aversão mostravam altas na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago.
No cenário doméstico, além das confusões sobre Renda Cidadã e CPMF, tivemos a inflação pelo IGP-M de setembro subindo para 4,34% (anterior em 2,74%) gerando inflação em 12 meses de 17,94%, ao maior desde 2003. O IBGE também anunciou o IPP (Preço do Produtor) de agosto com +3,28% (anterior em 3,22%), com todas as 24 atividades pesquisadas em alta. O IPEA também indicou em estudo que, durante o mês de agosto, 4,2 milhões de domicílios sobreviveram apenas com o auxílio emergencial.
O déficit primário do governo central de agosto foi de R$ 96,1 bilhões, o pior da série desde 1997. A receita real cresceu 1%, enquanto despesas subiram 74,3%. O resultado primário dos oitos meses do ano está negativo em R$ 601,3 bilhões e em 12 meses em R$ 647,8 bilhões, algo como 8,96% do PIB. A meta atualizada de déficit para o ano é de R$ 871 bilhões, algo como 12% do PIB. As despesas do Tesouro sujeitas ao teto de gastos cresceram 7,8%, quando o limite era de 6,%.
O dólar teve dia de grande volatilidade e, no final dos negócios, operava próximo da estabilidade e cotado a R$ 5,637. Na Bovespa, na sessão de 25/9, os investidores estrangeiros aplicaram recursos no montante de R$ 91,7 milhões, deixando o saldo de setembro negativo em R$ 2,7 bilhões e o ano de 2020 com saídas líquidas de R$ 88,1 bilhões.
No mercado acionário, dia de Bolsa de Londres em queda de 0,51%, Paris com -0,23% e Frankfurt com -0,35%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 1,15% e 0,52%. No mercado americano, tensões com o debate deixaram o Dow Jones com queda de 0,48% e Nasdaq com -0,29. Na Bovespa, dia de nova queda de 1,15% e índice em 93.580 pontos.
Na agenda de amanhã, dados da PNAD contínua de julho, a nota de política fiscal de agosto e fluxo cambial da semana anterior. Nos EUA, a nova pesquisa ADP sobre criação de vagas no setor privado em setembro, nova avaliação do PIB do segundo trimestre e PCE (deflator de preços do consumo), as vendas pendentes de imóveis, estoques da semana de petróleo e mais discursos de dirigentes do FED.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado