A semana foi marcada por decisões de bancos centrais espalhados pelo mundo, atingindo o consenso de quase nenhuma mudança depois de toda flexibilização monetária dos últimos meses em função da pandemia. As eleições americanas de 03/11 também preocupam, pelo potencial de ruídos que pode causar entre os candidatos, além da proximidade do primeiro debate, marcado para 29/09. Aqui, continua a celeuma envolvendo o presidente Bolsonaro e a equipe econômica por mudanças e a sensação de que o Congresso vai parando em termos de decisões cruciais para colocar as finanças do país em ordem.
Como afirmado, o período embutiu a decisão de diversos bancos centrais sobre política monetária. Indonésia, Rússia, África do Sul mantiveram juros básicos inalterados. Dentre os países principais, o BOJ (BC japonês) também manteve a ultra frouxa política monetária estabilizada, mas melhorou a percepção de recuperação da economia. Por lá também tivemos a renúncia formal de Shinzo Abe de primeiro ministro por motivo de saúde, sendo eleito para o lugar Yoshihide Suga, que deve manter a mesma linha de Shinzo. Porém, Suga quer atuar fortemente no combate a pandemia e prometeu recuperação econômica.
Outro que fez reunião sobre política monetária foi o BOE, também mantendo inalterada, o que significa juros de 0,10% e compra de ativos no montante de 475 bilhões de libras. Porém, ficamos sabendo que os membros discutiram a adoção de juros negativo, mas não seria para agora, além do reforço no QE (quantitative easing) de mais 100 bilhões de libras. Por lá há ainda a preocupação com Brexit problemático nas discussões com a União Europeia e o problema com a Irlanda do Norte sob jurisdição aduaneira de Londres, muito criticada por diferentes países, inclusive os EUA, que negociam acordos comerciais com os britânicos.
No entanto, a decisão que mais mexeu com os mercados foi a do FED, ao manter inalterada a política monetária, com o presidente Jerome Powell dando as mesmas explicações sobre inflação média na meta de 2,0%, podendo andar bom tempo acima disso, pelo passado longo que ficou aquém. Isso traz muito maior flexibilidade para agir em prol do emprego e crescimento, mas investidores acharam pouco, pois entendem que o país precisa de mais estímulos. Apesar disso, as projeções são de juros estabilizados entre zero e 0,25%, pelo menos até 2023.
Mas, a percepção de muitos no mundo e nos EUA, é de que a economia começa a mostrar sinais de desaceleração na recuperação, com indicadores divulgados abaixo do previsto. Com isso, comungam alguns dirigentes regionais do FED, como Raphael Bostic do FED de Atlanta. No mundo, também existe essa preocupação principalmente pelo aumento da contaminação pelo covid-19 e vacinas que, na melhor das hipóteses, só estarão disponíveis a partir de novembro, como indica o presidente Donald Trump, e a China.
Em que pese isso, as instituições financeiras globais e organismos multilaterais estão revendo projeções de PIB para melhor reduzindo quedas previstas, como a OCDE- Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, projetando agora encolhimento global de 4,5%, contra previsão anterior de -6,0%. A mesma OCDE para o Brasil trabalha agora com projeção de -6,5%, de anterior em -7,4%, mas por aqui já começam a pipocar projeções de contração abaixo de 5,0% para 2020.
Os EUA também seguem pressionando aliados sobre a tecnologia 5G e vai impedir baixar plataforma do TIKTOK a partir de 20/09. Está banindo ainda o WECHAT, ambas plataformas chinesas. A alegação é que podem coletar dados confidenciais e interferir nas eleições. Também confusões entre a União Europeia e o Reino Unido e União Europeia e acordos do Mercosul.
A OPEP e a AIE reduziram suas projeções de demanda por óleo em 2020, ao mesmo tempo em que os EUA mostravam redução dos estoques na semana de 4,4 milhões de barris. A OPEP também convocou reunião extraordinária de seus membros ainda para o mês de outubro, para medidas adicionais, mas circularam notícias de que estenderiam cortes de produção até dezembro. O certo é que o petróleo tece intensa volatilidade no período, recuperando queda recente também em função de um furacão e uma tempestade, que resultou em outro furacão no Golfo do México, interrompendo produção em plataformas.
Em termos de indicadores de conjuntura, dados positivos da China, com a produção industrial de agosto expandindo, anualizada em 5,6% (Julho +4,8%); vendas no varejo com +0,5% (Julho -1,1% anualizada); investimentos em ativos fixos até agosto com -0,3% (até julho -1,6%) e vendas de moradias com +4,1% nos oito meses do ano, de anterior em 0,4%. Na zona do euro, a produção industrial de julho expandiu 4,1%, e superávit comercial, em julho, de 20,3 bilhões de euros. Na Alemanha, o índice Zew de expectativas econômicas em alta para 77,4 pontos em setembro, vindo de 71,5 pontos e inflação pelo PPI (atacado) de agosto estável e deflação anualizada de 1,2%. No Reino Unido, vendas no varejo de agosto com alta de 0,8%, a quarta expansão seguida e anualizada crescendo 2,8%.
Nos EUA, o importante indicador de atividade de NY registrou alta para 17 pontos em setembro, saindo no mês anterior de 3,7 pontos. Já a produção industrial cresceu 0,4% em agosto, mas a previsão era de alta de 1,0%. A construção de novas residências encolheu 5,1%, e novas permissões em queda de 0,4%. Os pedidos de auxílio desemprego da semana anterior com -33000, para 860000 pedidos (em queda maior), enquanto pedidos continuados encolhem no total 12,6 milhões. No mercado americano, no último dia da semana, vencimento quádruplo de derivativos, o que sempre agrega muita volatilidade.
No segmento doméstico, o presidente Bolsonaro ficou indignado com proposta da área econômica de congelar o salário mínimo e aposentadorias para viabilizar o Programa Renda Brasil, gravou vídeo postado em redes sociais acabando com o programa e ameaçando cartão vermelho para quem falar disso em seu governo. Na verdade, não durou muito tudo isso, pois o presidente deu atribuição ao Congresso de elaborar novo Renda Brasil. Tudo isso foi interpretado como nova baixa no protagonismo do superministro Paulo Guedes, e foram esperadas mais baixas em seu Dream Time.
Mas, a preocupação dos investidores e agentes do mercado, seguiram voltadas para os números ruins das contas públicas (por mais que a equipe fale em grande recuperação), endividamento, orçamento irreal 2021 e balões de ensaios sobre cortes na Educação, programas sociais e agricultura para viabilizar obras do Pró-Brasil. O líder do governo, Ricardo Barros, disse que o Renda Brasil depende da desvinculação e desindexação do orçamento, e acrescentou que se não for aprovado novo imposto não haverá desoneração da folha de pagamentos.
O vice-presidente Mourão disse, com relação à tecnologia 5G, que o Brasil deve respeitar sua soberania, privacidade de dados e a relação custo/benefícios. Mas também é fato que os EUA pressionam, dizendo que entregarão tecnologia eficiente e competitiva. A nova lei de saneamento aprovada ameaça contratos de 60% das empresas estatais que operam no segmento. O Copom interrompeu a sequência de queda da Selic, mantendo estabilizada em 2,0%, mas deixou porta entreaberta para talvez nova queda. Também ficou claro que vai demorar para voltar a aumentar os juros, pois a inflação segue bem ancorada.
Em termos de indicadores de conjuntura, tivemos o IBC-Br de julho, uma prévia do PIB, com expansão de 2,15% (anterior em +5,32%), menor que o previsto, mas em expansão pelo terceiro mês seguido. Contra julho de 2019, apresenta queda de 4,89% e, no ano, encolhendo 5,7%. O saldo da balança comercial até a segunda semana de setembro estava acumulando superávit no ano de US$ 39,6 bilhões. A FGV anotou que a confiança empresarial subiu 0,8% em setembro para 95,3 pontos e o IGP-10 de setembro mostrou alta de 4,34% (anterior em 2,53%), com a inflação do ano em 13,98% e em 12 meses com +17,03%. Já o IGP-M da segunda previa de setembro, subiu 4,57, deixando o ano com inflação acumulada de 14,66% e, em 12 meses, com 18,20%.
Na B3, segmento Bovespa, o volume diário de agosto cresceu para R$ 31,4 bilhões, com expansão sobre igual período de 2019 de 59,1%, e a quantidade de investidores atingindo 3,0 milhões. Segundo cálculos realizados, a rotatividade na carteira dos investidores atingiu 184% (no segmento varejo 406%) e, pelo volume depositado na central, de R$ 383 bilhões, é possível inferir aporte de R$ 14 bilhões. Contudo, os investidores estrangeiros, até a sessão de 16/09, tinham sacado em setembro da Bovespa R$ 2,18 bilhões, deixando o saldo do ano de 2020 com saídas líquidas de R$ 87,5 bilhões. Durante o período, tivemos muita volatilidade e mudanças de sinais, mas em muitos momentos as ações líderes impediram maiores quedas.
INDICADORES DO PERÍODO
BOVESPA -0,07% (98289)
DOW JONES (Estável)
NASDAQ -0,55%
DÓLARR$ 5,38 (+0,74%)
PERSPECTIVAS
É certo que estamos diante de muitas incertezas, principalmente com relação ao curto prazo, tanto nos mercados de risco do exterior, quanto local. Além disso, encontramos muita volatilidade externa no comportamento do dólar e petróleo. Contudo, o maior problema está relacionado à desaceleração da recuperação em alguns países, incluindo os EUA, pelos indicadores mais recentes e percepção dos membros do FED.
A ampliação da contaminação pelo covid-19 assusta dirigentes de diferentes países e indica que nova rodada de estimulo fiscal deve ser utilizada. Porém, neste momento, os bancos centrais optaram pela prudência na política monetária, ao mesmo tempo em que pacotes fiscais estão encruados nos governos e parlamento, com o melhor exemplo disso nos EUA. Com vacinas, na melhor das hipóteses, programadas para novembro, os mercados de risco podem se ressentir disso.
Mas, temos certeza que com a percepção de que os juros vão permanecer baixos por muitos e muitos meses e a liquidez podendo, inclusive, aumentar, a busca por ativos reais seguirá firme e quedas nos mercados devem ser aproveitadas para formação de posições de mais longo prazo.
Aqui, além de sermos influenciados pela conjuntura global, ainda temos que conviver com o risco político de um viés mais populista, eleições de final do ano paralisando o Congresso em temas e votações importantes para ordenar o país e disputas internas entre ministros enfraquecendo, no limite, todo o governo, reduzindo assim, a chance de aportes significativos de recursos.
Como ressaltamos, há muito giro de posições, mas os fluxos careados vão minguando. Do ponto de vista da análise técnica, voltamos para uma zona perigosa em 98000 pontos do Ibovespa, que se perdida pode acelerar pressão vendedora. Melhora mesmo, só e se conseguirmos ultrapassar a faixa dos 102000 pontos e 104000 pontos com consistência, para reforça a recuperação.