Em nossos comentários de abertura, falávamos que os mercados estavam com comportamento indefinido, aguardando dados da agenda que poderiam mudar a postura dos investidores. Mas, acabou valendo o ditado que diz que “na dúvida, a decisão é para o réu”. Ou seja, os investidores podem adiar compras, mas tem sempre alguém precisando vender. Então, tivemos dia de mercados em queda.

Logo cedo, o BCE (BC europeu) anunciou a manutenção da política monetária, o que significa taxa de depósito de -0,50% e refinanciamento zero, além do volume de compras emergenciais em 1,35 trilhão de euros. Mostrou também disposição de ajustar os instrumentos. A presidente Christine Lagarde indicou melhora do PIB, de contração de 8,7% para 8,0% em 2020, bem como inflação subindo (até por conta do euro mais forte), de 0,8% para 1,0%. Os investidores esperavam por essas sinalizações, mas os efeitos não aconteceram.

A queda do preço do petróleo no mercado internacional e a inversão de tendência das bolsas americanas, complementaram o quadro negativo e empurraram as bolsas europeias para o campo negativo, bem como a Bovespa. Nos EUA, a inflação medida pelo PPI (atacado) de agosto subiu para 0,3%, com núcleo em 0,4%, maior que o previsto; os pedidos de auxílio desemprego ficaram estáveis em 884000, enquanto pedidos continuados com +93000, para 13,4 milhões (defasado uma semana). Os estoques no atacado de julho encolheram 0,3%.

Um pouco mais tarde, ficamos sabendo que senadores Democratas impediram em votação a aprovação do pacote fiscal republicano de US$ 300 bilhões, que queriam US$ 3,5 trilhões. Um pouco antes, Nancy Pelosi, presidente da Câmara, tinha acenado com a possibilidade de pacote menor, ao redor de US$ 2,0 trilhões. Apesar disso, uma pesquisa realizada nos EUA indicou que a economia está recuperando mais rápida que o previsto.  A demanda por títulos leiloados nos EUA de 30 anos foi mais fraca que em anteriores com yield de 1,47%, e mexeu mais com os mercados.

A OMS – Organização Mundial da Saúde — declarou que não está conseguindo o melhor cenário na busca por vacina contra o Covid-19. Já a União Europeia acusa o Reino Unido de não engajar de forma recíproca em formatar acordo sobre o Brexit. A Fitch, uma das três maiores agências de classificação de risco, destacou que o Brexit, sem acordo, trará grande impacto na retomada britânica.

No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 2,44%, com o barril cotado a US$ 37,12. O euro era transacionado em alta para US$ 1,182 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,68%. O ouro em alta; a prata com queda na Comex; já as commodities agrícolas, com viés de alta na bolsa de Chicago. O minério de ferro, por sua vez, teve mais um dia de queda de 0,36% na China, com a tonelada em US$ 126,09.

No segmento doméstico, o IBGE mostrou as vendas no varejo de julho com expansão de 5,2%, e varejo ampliado com expansão de 7,2. O varejo restrito, ainda mostra queda de 1,8% em 2020, enquanto o ampliado mostra contração de 6,2%. Muito da recuperação é explicada pelo auxilio emergencial distribuído pelo governo. A expectativa é de alguma desaceleração nos próximos meses. O IBGE também justificou a expectativa da safra agrícola de 2020, com 251,7 milhões de toneladas de grãos, uma expansão de 4,2% sobre a anterior.

No ambiente político, Simone Tebet disse que, sem dinheiro, a reforma tributária não vai incluir Estados e a percepção é de dificuldades de aprovar em uma das casas do Congresso ainda em 2020. Na reunião ministerial, onde decidiu-se que o ministério da Justiça noticiaria supermercados sobre aumentos de preços, o ministro Paulo Guedes foi voto vencido, dizendo que isso causaria muitos ruídos.

Na sequência dos mercados, o dólar oscilou bastante entre positivo e negativo durante o dia, fechando com +0,33% e cotado a R$ 5,318. Na Bovespa, na sessão de 08/09, os investidores estrangeiros alocaram R$ 195,8 milhões, deixando o saldo de setembro ainda negativo em R$ 342,7 milhões, e o ano com saídas líquidas de R$ 85,7 bilhões.

No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 0,16%, Paris com -0,38% e Frankfurt com -0,21%. Madri com -0,31 e Milão, destoando, com +0,25%. No mercado americano, o Dow Jones com -1,45% e Nasdaq com -1,99%. Na Bovespa, dia de queda de 2,43% e índice em 98834 pontos, voltando a trincar a faixa de 98000 pontos, onde existe maior risco de precipitação.

Na agenda de amanhã, teremos o IBGE apresentando o volume de serviços prestados em julho. Já nos EUA, a inflação medida pelo CPI (consumidor) de agosto e o resultado fiscal de agosto.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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