Em nosso comentário de abertura de hoje, dizíamos que o dia poderia ser melhor, e foi, apesar dos problemas de testes da vacina pesquisada pela Astrazeneca. Isso, depois das fortes quedas seguidas das ações ligadas ao setor de tecnologia, mais especificamente as gigante do segmento.
Também contribuiu para o melhor desempenho dos segmentos de risco, a expectativa com a reunião de política monetária amanhã pelo BCE (BC europeu), além da reabertura de possibilidade de negociações entre Republicanos e Democratas sobre um novo pacote fiscal para a economia americana. Vamos ver nos próximos dias se as apostas estavam certas.
Do BCE, apesar das pressões por mais estímulos, o que se espera é uma visão positiva sobre a recuperação da economia da região do euro, e a constatação que o fundo de emergência criado depois de muita disputa foi acertado. Contudo, o BCE aumentou a pressão sobre os grandes bancos da região com relação aos planos sobre o Brexit, já que as negociações entre a União Europeia e o Reino Unido estão mal encaminhadas.
No Reino Unido, o parlamento aprovou a lei colocando a Irlanda do Norte na jurisdição alfandegária de Londres e isso, segundo a União europeia, viola o acordo do Brexit. A União Europeia pediu uma reunião extraordinária com o Reino Unido sobre o Brexit. Nos EUA, o relatório Jolts mostrou a criação de 6,6 milhões de vagas em julho, saindo no mês anterior de 6,0 milhões. Perguntado em entrevista, o secretário do Tesouro americano, Mnuchin, disse não saber se haverá ou não novo pacote de estímulos fiscal, mas que seria importante para boa parte da população.
No Canadá, o banco central manteve a taxa de juros básica estabilizada em 0,25%. Já o petróleo, que ontem tinha registrado queda forte, hoje teve dia de boa recuperação. Na Rússia, o PIB do segundo trimestre encolheu 8,0% anualizado. O petróleo WTI, negociado em NY, mostrava alta de 3,48%, com o barril cotado a US$ 38,04. O euro também se recuperava, e era transacionado em alta para US$ 1,18. O ouro e a prata mostravam altas na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na bolsa de Chicago. O minério de ferro, por sua vez, encerrou o dia na China com queda de 2,0% e a tonelada cotada a US$ 126,54.
No segmento local, dia de divulgação pelo IBGE da inflação oficial medida pelo IPCA de agosto, com alta de 0,24% (anterior em 0,36%, com a inflação do ano em 0,70% e em 12 meses de 2,44%, conforme estava sendo previsto). Preços administrados tiveram alta de 0,78% e livres de 0,05%. Destacamos o setor de serviços, com deflação de 0,47%, muito em função da queda no grupo educação de 3,47%, decorrente de descontos concedidos na pandemia.
A grande preocupação com o preço dos alimentos parece ser pontual, e o governo deve agir. Isso não muda a expectativa de inflação para o ano na casa de 2,0%, mas retira um pouco da probabilidade de queda da Selic em outubro, com setembro estável.
O governo divulgou que pode retirar tarifas sobre a importação de alimentos e, pela alta ocorrida, o arroz é o primeiro nessa lista. O Bacen mostrou que o fluxo cambial até 04/09 estava negativo em US$ 15,9 bilhões, as perdas com swap cambial em agosto foram de R$ 14,3 bilhões e os bancos seguem vendidos em câmbio em US$ 27,4 bilhões.
Já a Anbima divulgou que as ofertas de ações no mês de agosto foram de 62,2 bilhões, e ainda existiam na fila da CVM cerca de 40 pedidos de IPOs. O volume de debentures até agosto já está em R$ 64,9 milhões. O STF é que confirmou a incidência de ICMS sobre a revenda de automóveis feita por locadoras, e isso é ruim para o segmento. Também circularam notícias dando conta que a China poderia aplicar sanção ao Brasil, se houver impasse nas negociações da tecnologia 5G. Os EUA seguem pressionando.
No mercado, dia de dólar em queda de 1,30% e fechando em R$ R$ 5,30. Os DIs encurtaram um pouco a queda do dia em função do leilão de amanhã. Na Bovespa, na sessão de 04/09, os investidores estrangeiros alocaram recursos de R$ 365 milhões, deixando o saldo de setembro ainda negativo em R$ 538 milhões, e o ano de 2020 com saídas líquidas de R$ 85,9 bilhões.
No mercado acionário, dia de alta da Bolsa de Londres de 1,39%, Paris com +1,40% e Frankfurt com +2,07%. Madri e Milão, com altas de respectivamente 0,95% e 2,02%. No mercado americano, o Dow Jones com +1,60% e Nasdaq com +2,71%. Na Bovespa, dia de alta de 1,24% e índice em 101292 pontos, com boa performance do setor energia e siderurgia.
Na agenda de amanhã, termos as vendas no varejo de julho e o levantamento da produção agrícola de agosto, além da primeira prévia do IGP-M de setembro e o IPC da Fipe da primeira quadrissemana de setembro. No exterior, a decisão do BCE sobre política monetária. Nos EUA, a inflação pelo PPI de agosto, os pedidos de auxílio desemprego e estoque de petróleo.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado