Os resultados das empresas brasileiras de capital aberto no segundo trimestre confirmaram as expectativas de especialistas: segmentos como aéreo e o turismo mergulharam em prejuízos históricos, enquanto empresas de varejo, tecnologia e saúde tiveram bons desempenhos.
Uma análise atenta aos resultados, divulgados entre julho e agosto, mostra quedas abruptas nos resultados da maior parte das companhias em geral causados pelo congelamento da atividade econômica em meio à pandemia.
“Com o impacto das medidas de distanciamento social e da desvalorização do real eram esperados desempenhos abaixo da média no trimestre”, avalia o analista Eduardo Vogolino, do The Cap.
Ele explica que, em linhas gerais, os resultados foram ruins: houve uma redução média de 81,9% no lucro das empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado.
Por outro lado, fatores macroeconômicos como a alta do dólar e a queda nas taxas de juros foram generosas com empresas exportadoras.
Vale, Susano, Klabin, Gerdau, JBS e Marfrig conseguiram deixar os investidores satisfeitos (ou não tão decepcionados) com seus relatórios trimestrais. Também Magazine Luiza, Via Varejo e Lojas Americanas apresentaram resultados relativamente bons, sobretudo por seus desempenhos no e-commerce.
Um levantamento apresentado por Vogolino mostra que mesmo companhias fora do varejo aproveitaram bem as oportunidades digitais.
A incorporadora JHSF Participações teve crescimento de 5.035% no lucro no trimestre passado em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a R$ 254,7 milhões. “A empresa teve nas vendas digitais um dos principais fatores a impulsionar este resultando, com lucro de R$ 94,9 milhões apenas nesta modalidade”, detalha o analista.
A segunda empresa a ampliar mais o lucro no período, conforme a comparação do especialista, foi a química Unipar, com evolução de 4.500% nos resultados, alcançando um lucro de R$ 19,1 milhões.
Outras companhias com ampla expansão dos resultados foram Cyrela (3.300%), Atom (571%), Enauta (526%), Marfrig (450%) e Eneva (445%).
A XP estruturou um levantamento mostrando quais segmentos tiveram melhores ou piores desempenhos trimestrais.
A corretora coloca no topo a lista o varejo, com 78% das empresas com resultados acima do esperado, companhias de commodities, beneficiadas pelo dólar, companhias imobiliárias e de bens de capital e, por fim, de saneamento, que não viram queda na demanda – pelo contrário.
Por outro lado, ficaram no vermelho boa parte dos segmentos aéreo, financeiro, de geração de energia e o varejo de vestuário, que dependia das lojas abertas para lucrar em razão de este ser um segmento que ainda tentar abrir mais espaço no comércio digital.
Nestas listas, a XP indica que decepcionaram os resultados de Lojas Renner, Equatorial Energia, Banrisul, Ultrapar, Banco do Brasil, RaiaDrogaSil, Cielo e Azul.
Esta última, por sinal, mereceu atenção especial de analistas, em razão de ter sido, até pouco tempo, uma das queridinhas de investidores, e agora estar ao centro do furacão. A receita líquida da empresa caiu 85% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, puxado principalmente pela queda na demanda dos passageiros.
João Paulo Azevedo, diretor da JP Azevedo Investimentos, lembra que a Azul depende dos voos nacionais para gerar caixa e ao mesmo tempo sofre com a alta do dólar, que encarece combustíveis e outros custos operacionais.
“O grande problema aqui é o setor, pois o aéreo é um dos mais atingidos pela atual crise. E muitas empresas do segmento já quebraram pelo mundo. Então, por melhor que seja a empresa, é muito arriscado você investir no longo prazo em qualquer companhia aérea que seja”, analisa.