A tônica das preocupações dos investidores reside no temor fiscal e ajustes que seriam necessários. Citamos dois exemplos para ilustrar isso. O presidente do Bacen, Campos Neto, disse que o início da recuperação estava sendo em formato de “V”, mas perdeu força com alguma suavização, e que, comparando com um avião, o piloto era o lado fiscal e a política monetária a passageira. O outro exemplo, fica por conta da não divulgação do programa Renda Brasil, permite leitura de divergência entre ministro e equipe econômica.
Os mercados certamente sentiram, com a volta da pressão sobre o câmbio e juros durante algum tempo e a Bovespa reagindo em queda, num dia em que mercados no exterior começaram bem, diante da notícia de que China e EUA tinham se falado sobre o acordo comercial e a avaliação era positiva.
Falando de exterior, na Índia a avaliação é que a recuperação da economia perdeu força com a retomada de medidas para evitar nova propagação da contaminação pela covid-19. Já na Coreia, vem ocorrendo nova elevação de contágio, as escolas foram fechadas e isso certamente terá repercussão sobre a economia, caso tenha que ser ampliada.
Nos EUA, a confiança do consumidor pelo Conference Board referente ao mês de agosto caiu para 84,8 pontos, vindo de 91,7 pontos, quando o esperado era alta para 92,5 pontos. Já as vendas de imóveis novos de julho cresceram surpreendentes 13,9%, quando as previsões indicavam alta de somente 1,4%.
Ainda nos EUA, a aérea American Airlines anunciou a demissão de 19 mil empregados, em função da queda demanda por assentos.
O secretário de política econômica de Trump, Larry Kudlow, disse que o plano do governo não é eliminar impostos sobre a folha salarial que financia a seguridade, mas só substituir. Mas disse que a classe média foi a grande beneficiária da redução de impostos que poderiam subir num eventual governo democrata de Joe Biden.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 1,64%, com o barril cotado a US$ 43,32, por conta de furacão no Golfo do México e, nem isso, foi suficiente para manter as ações de Petrobras em alta na Bovespa. O euro era transacionado em alta para US$ 1,183 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros em 0,68%. O ouro e a prata tiveram dia de quedas na Comex e commodities agrícolas em alta na Bolsa de Chicago.
O minério de ferro teve mais um dia de queda de 1,79% no mercado da China, com a tonelada encerrando em US$ 122,99.
No segmento doméstico, o fluxo cambial até 20/8 estava negativo em US$ 165 milhões e o pagamento de juros até essa data estava em US$ 303 milhões. O superávit em conta-corrente de julho foi de US$ 1,63 bilhão e os investimentos diretos no país foram de US$ 2,69 bilhões. Os investimentos em ações em julho montaram a US$ 303 milhões e remessa de dividendos em lucros em US$ 669 milhões. A dívida externa era de aproximadamente US$ 309 bilhões no final de julho.
Também tivemos a prévia da inflação oficial medida pelo IPCA-15 de agosto em 0,23% (anterior em 0,30%) acumulando alta no ano de 0,90% e em 12 meses de 2,28%. O índice de difusão subiu para 52,9% e destaque negativo para o item educação com queda de 3,27%. O governo também lançou o programa Casa Verde Amarela, com diferenciação justificável para o norte e nordeste em termos de taxas. Os bancos projetam crescimento da carteira de crédito em 2020 de 6,3%.
A agência de classificação de risco Moody’s manteve sua projeção de encolhimento do PIB do Brasil em 2020 de 6,2% (2021 com +3,6%), e do G-20 em -4,6% (2021 em +5,3%). No mercado, dia de dólar fechando com queda de 1,16% e cotado a R$ 5,527. Na Bovespa, na sessão de 21/8, os estrangeiros sacaram recursos no valor de R$ 405,6 milhões, deixando o saldo de agosto ainda positivo em R$ 2,53 bilhões, mas 2020 com saques líquidos de R$ 82,38 bilhões.
No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 1,11%, Paris em alta de 0,01% e Frankfurt com -0,04%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 0,01% e 0,41%. No mercado americano, o Dow Jones com -0,21% e Nasdaq com +0,76%. Na Bovespa, dia de -0,19% e índice em 102.117 pontos.
Na agenda de amanhã teremos o INCC de agosto (construção civil) e a confiança do setor de construção. Sairá também a nota de mercado aberto e o relatório da dívida pública de julho. Nos EUA, as encomendas de bens duráveis de julho, os pedidos de hipotecas MBA e os estoques de petróleo e derivados da semana anterior. Na China, o lucro industrial de julho.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado