Bottom line:
- O COPOM opta por não adicionar mais ímpeto na discussão de novos cortes imediatamente, mas não fecha a porta para nova atuação.
- O maior gradualismo comentado na ata parece mais pertinente ao timing do que à magnitude do corte (que será mantido em 25bps).
- Como condicionantes a futuros movimentos entram ponderações fiscais (há preocupação), de inflação (há tranquilidade) e de dinâmica da pandemia (há incerteza).
- Assim, mantemos a expectativa de mais um ajuste final da taxa de juros, mas não na reunião de setembro e sim ao longo do último trimestre do ano.
Comentário:
A ata da 232ª reunião do COPOM traz informações relevantes sobre as ponderações que levaram à decisão de corte de 25bps na última reunião.
Em termos de inflação realizada, o COPOM pondera que a alta de julho não deverá se sustentar ao longo do prazo, ressaltando que as projeções de curto prazo se mantém estáveis e que efeitos dos preços de commodities e de depreciação cambial são compensados por revisões na inflação de serviços.
O comitê se mostra evidentemente preocupado com as consequências para o cenário econômico da pandemia, indicando o elevado grau de incerteza decorrente do fator sanitário.
Em termos de atividade, destaca-se explicitamente a preocupação com a retomada difusa dos diversos setores da economia, consequência novamente da economia, adicionando-se a incerteza sobre como setores mais afetados reagirão ao “arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”.
Sobre o cenário externo, o BC destaca que os dados já disponíveis sobre o segundo trimestre não surpreenderam, reforçando que também nas principais economias globais a discrepância na retomada entre os setores de bens e de serviços.
Em termos prospectivos, o comitê relevantemente entende que efeitos desinflacionários tendem a prevalecer por mais tempo do que em recessões anteriores (parágrafo 13). Por outro lado, a existência de limitações fiscais e a assimetria do balanço de riscos não foram suficientes para impedir o BC de cortar a taxa novamente, sendo que as projeções de inflação abaixo da meta preponderaram na decisão (parágrafo 14).
Relevantemente, o COPOM considera o seu fowrward guidance como uma ferramenta de política monetária que tem um componente assimétrico. Neste sentido, o BC indica que as prescrições futuras são condicionais ao cenário de inflação do cenário básico e das expectativas de inflação. Ao mesmo tempo, “satisfeitas as condições necessárias, o Copom não elevaria a taxa de juros, mas poderia reduzi-la.” (parágrafo 18).
Ainda mais importante, dada as características da economia brasileira, o COPOM considera que há necessidade de adicionar condicionantes fiscais (teto de gastos) e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo. A reversão de ambos poderia levar ao rompimento da assimetria imposta pelo forward guidance (i.e. juros não devem subir, mas podem cair).
Finalmente, o COPOM considera que caso exista mais espaço para ajustes monetário, questões prudenciais e de estabilidade financeira levariam a adoção de maior gradualismo e dependem mais fortemente das novas informações que são adquiridas ao longo do período entre reuniões.
Em suma, o COPOM opta por não adicionar mais ímpeto na discussão de novos cortes, mas não fecha a porta para nova atuação. O maior gradualismo comentado na ata parece mais pertinente ao timing do que à magnitude do corte (que será mantido em 25bps). Assim, mantemos a expectativa de mais um ajuste final da taxa de juros, mas não na reunião de setembro e sim ao longo do último trimestre do ano.
Felipe Sichel
Estrategista do banco digital modalmais
Fonte: https://www.modalmais.com.br/blog