A nebulosidade diante do impacto do coronavírus no país ao longo deste segundo semestre ainda coloca muitos economistas e analistas de mercado na defensiva para indicarem os melhores investimentos para os próximos meses. No entanto, algo parece trazer poucas dúvidas: a renda variável continuará revelando boas oportunidades, enquanto a renda fixa atrelada à Taxa Básica de Juros (Selic) terá que esperar um pouco mais para voltar a ser atraente.
O mercado projeta uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,62% neste ano e a Selic mantida em 2%, apenas um pouco acima da projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve ficar em 1,63%. Os números estão no Boletim Focus do Banco Central divulgados no dia 10.
Este cenário de encolhimento na economia e de Taxa Básica de Juros levemente acima da inflação sinaliza que investimentos conservadores e rentáveis se tornarão ainda mais raros. A analista de Renda Fixa da XP Investimentos, Camilla Dolle, acredita que a redução da percepção de risco por parte dos emissores de títulos, como empresas, bancos e fundos, já tem se refletido sobre os prêmios de risco, que estão em queda.
“Continuamos esperando retomada gradual da economia, com reflexo sobre o mercado de renda fixa. À medida que tenhamos melhor visibilidade da situação, emissores sentem maior segurança para investir e tomar novas dívidas”, explica ela. “Ainda enxergamos boas oportunidades neste sentido, porém a janela para encontrar a combinação de altos prêmios e baixo risco de crédito fica cada vez menor”, indica.
Camilla sugere que os investidores mais cautelosos busquem diversificação para suas aplicações. Olhando para o longo prazo, a analista vê melhores oportunidades em títulos públicos ligados ao IPCA. Por outro lado, alerta que a Caderneta de Poupança, embora tenha apresentado captação líquida de R$ 27 bilhões em julho e R$ 112 bilhões no acumulado do ano, é cada vez menos atraente em razão da Selic magra.
O economista-chefe da Geral investimentos, Denilson Alencastro, reconhece que o segundo semestre será duro para a bolsa de valores, mas que os investidores mais atentos poderão encontrar ações a bons preços, esperando uma valorização em 2021 ou 2022.
“Algumas companhias terão impacto da inadimplência dos clientes, outras, de um recuo na demanda, ainda assim, são efeitos temporários”, acredita. “Boas empresas negociadas a bons preços seguem sendo bons investimentos”, insiste, lembrando da importância em se analisar o histórico de resultados da companhia e sua qualidade de governança.
Em relatório projetando a macroeconomia para os próximos meses, a Toro Investimentos enxerga como vetores positivos o Exterior, aparentemente mais seguro em relação ao coronavírus do que o Brasil, e a Reforma Tributária que o governo tenta passar no Congresso. O ponto de atenção fica para a divulgação dos resultados corporativos referentes ao segundo trimestre do ano, que já estão sendo divulgados. Estes devem ser os que melhor refletirão os impactos da quarentena no país até agora, analisa a Toro.