Nesses últimos dias estamos assistindo à volta do comportamento de manada dos investidores no mundo. Como as incertezas nesse momento são enormes (vacinas, segunda onda, resultado de empresas no trimestre, etc.), basta a opinião de um formador importante e/ou a direção dada por algum parceiro de peso nos diferentes segmentos de risco; para que todos fluam para a mesma postura. Além disso, temos que considerar que os gestores não querem assumir postura muito descolada, para eventualmente não comprometer o comparativo de performance.

Ao contrário de ontem, o dia foi marcado por quedas nos principais mercados do mundo, detonada a partir de indicadores de conjuntura divulgados durante a madrugada na China (vide comentário de abertura), trazendo dúvidas sobre a recuperação consistente, depois de queda nas vendas no varejo e investimentos em ativos fixos. Resultado disso, queda nas Bolsas asiáticas, europeias, nos EUA e também na Bovespa.

Também é possível detectar que os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos da Bovespa de forma consistente, os IPOs retiram parte da pressão compradora e investidores locais estão fazendo troca de posições, sem prestar muita atenção ao maior volume de risco que estão tomando em empresas mais arriscadas e de menor liquidez.

Hoje tivemos a divulgação das vendas no varejo de junho nos EUA em alta de 7,5% (previsão era +5,2%) e os pedidos de auxílio-desemprego encolheram bem pouco com 10 mil posições para 1,3 milhões. Já os pedidos continuados caíram 422 mil posições para total de 17,3 milhões (esse dado é defasado em uma semana). Além disso, os estoques nas empresas encolheram em maio 2,3%. Os dados são positivos, mas não melhoraram muito a situação, assim como a volatilidade do petróleo em função da decisão da OPEP de liberar produção de seus membros de forma gradual, prevalecendo o equilíbrio entre oferta e demanda.

Hoje também tivemos decisão do BCE sobre política monetária mantendo-a estabilizada, mas deixando claro que, se necessário, novas medidas poderão ser adotadas. Lagarde, em coletiva posterior, disse que a inflação deve seguir em queda e a recuperação parece incipiente e incerta. Segundo ela, a economia da região ainda precisa de estímulos e a política atual deve permanecer até que a inflação se aproxime da meta, o mesmo acontecendo com a compra de ativos. O BIS- Bank of International Settlement apurou que o uso de swaps cambiais atingiu pico em maio, mas que ainda pode ser necessário.

O IIF (Institute of Internacional Finance), divulgou que a dívida global (privada e pública) atingiu 331% do PIB global no primeiro trimestre, algo como US$ 258 trilhões. Nos países desenvolvidos já atinge 392% e nos emergentes 230%, com US$ 72,5 trilhões. O FMI diz que o esforço coletivo do G-20 é essencial para atravessar a crise e introduzir a recuperação. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 1,09%, com o barril cotado a US$ 40,75. O euro era transacionado em queda para US$ 1,138 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,61%. O ouro e a prata com quedas na Comex e commodities agrícolas com leve viés de queda na Bolsa de Chicago.

Internamente, as declarações de Paulo Guedes sobre tributar transações no e-commerce e discussões paralelas sobre a reforma tributária, assustou e mexeu com segmentos do mercado. O presidente do Bacen também disse que hoje devem sair quatro medidas para destravar o crédito para pequenas e médias empresas. A Confiança empresarial divulgada pela FGV subiu 7,3 pontos para 87,7 pontos em julho e o IPC-S da segunda quadrissemana de julho mostrou inflação de 0,56%, contra anterior de 0,50%. O secretário de política econômica Sachsida disse que projeções de queda de mais de 6,5% provavelmente não acontecerão e o UBS alterou a deles de -7,5% para -5,5%.

No mercado, dia de dólar oscilando muito para fechar em queda de 1,20% e cotado a R$ 5,325. Na Bovespa, na sessão de 14/7, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos no montante de R$ 485,2 milhões, com as saídas em julho acumulando R$ 5,5 bilhões e no ano de 2020 com saídas líquidas de R$ 82 bilhões.

No mercado acionário, dia de Bolsa de Londres em queda de 0,67%, Paris com -0,46% e Frankfurt com -0,43%. Madri e Milão perderam respectivamente 0,17% e 0,37%. No mercado americano, o Dow Jones em -0,50% e Nasdaq com -0,73%. Na Bovespa, dia de queda de 1,22% e índice em 100.553 pontos.

Na agenda de amanhã teremos o IPC da Fipe da segunda quadrissemana de julho e a segunda prévia do IGP-M de julho. Nos EUA, a construção de novas residências e permissões de junho e a confiança do consumidor de Michigan de julho.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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