As minutas da reunião do FOMC de junho ajudam a esclarecer alguns pontos fundamentais em relação a projeção de política monetária ao longo do futuro próximo, principalmente em relação a discussão sobre utilização de forward guidance e/ou yield curve targets (YCT) como próximo passo na implementação de política monetária expansionista.

Na discussão apresentada, os participantes favorecem a adoção de forward guidance com métricas claras (outcome based) em termos de indicadores econômicos para a retirada dos estímulos. Entre as métricas sugeridas estão indicadores de inflação, de mercado de trabalho ou então guidance baseado em calendário. Dada a colocação da minuta, a preferência pende evidentemente para indicadores de inflação. Como ressalva, note-se que dois integrantes do comitê alertam para o fato de forward guidance poder amarrar excessivamente as ações futuras do FED ante os desenvolvimentos macroeconômicos.

A linguagem sobre utilização deste instrumento indica que o FOMC deve adotá-lo em uma de suas próximas reuniões, usando a taxa de inflação como referencial (“many noted that the Committee could, at upcoming meetings, further clarify its intentions with respect to its future monetary policy decisions as the economic outlook becomes clearer. In particular, most participants commented that the Committee should communicate a more explicit form of forward guidance for the path of the federal funds rate and provide more clarity regarding purchases of Treasury securities and agency MBS as more information about the trajectory of the economy becomes available.”)

Já sobre YCT, fica evidente a relutância do comitê em adotar este instrumental (“nearly all participants indicated that they had many questions regarding the costs and benefits of such an approach”). No entanto, destaca-se que a experiência australiana é vista como mais factível de ser replicada nos EUA caso o FED opte por este tipo de instrumento.
Em relação a descrição da conjuntura econômica, vemos poucas novidades, com diversas passagens da minuta repetindo o teor (quando não parafraseando diretamente) das minutas da reunião do final de abril.
Especificamente, o FOMC ainda vê (como esperado e comunicado amplamente) com preocupação o cenário econômico, acreditando que o impacto da pandemia pode se desdobrar ainda de diversas formas e ressaltando a incerteza em torno da trajetória de recuperação para os diversos agregados macroeconômicos.

O FOMC vê positivamente a leitura do último payroll (maio), mas ressalta, como o próprio Powell fez na conferencia após a reunião, que desde o começo da crise o saldo permanece absolutamente negativo. Como no restante das discussões, as projeções de mercado de trabalho são encaradas como altamente incertas e dependendo essencialmente da continuação da reabertura da economia. Ao mesmo tempo, mantém-se a perspectiva de que novos surtos possam retardar o processo de recuperação e que postos de trabalho em diversas industrias possam ser eliminados definitivamente.
Em termos de inflação, o comitê reforça a visão de que o choque é desinflacionário, visto que o choque sobre a demanda agregada compensaria pressões altistas consequentes de rupturas pelo lado da oferta. Já em termos de expectativas de inflação, surge novamente a preocupação sobre deterioração das expectativas longas.

Somando-se o teor das discussões e a comunicação recente do FED, reforçamos nossa expectativa que forward guidance seja adotado explicitamente no futuro próximo, mais provavelmente na reunião de setembro. De resto, esperamos manutenção da taxa de juros e dos parâmetros de expansão do balanço inalterados por longo período de tempo.

Felipe Sichel
Estrategista do banco digital modalmais
Fonte: https://www.modalmais.com.br/blog

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