Incertezas nos cenários nacional e internacional levam empresas a ser mais conservadoras e a pagar menos dividendos, retendo dinheiro em caixa. Ao menos é esta a explicação encontrada pela plataforma Meu Dividendo, a partir de estudo que aponta a queda de 31% do pagamento de dividendos nos primeiros 10 meses do ano, em relação a igual período de 2022. “O mercado de dividendos está em transformação este ano”, justifica Wendell Finotti, CEO da plataforma (única, no país, a antecipar dividendos aos investidores, mediante taxa entre 2% e 2,5%).
A taxa de juros, discussão da reforma tributária, desaceleração econômica da China, mudanças políticas na Petrobras e as duas guerras em andamento são os pontos explicitados por Finotti para mostrar que os R$ 176 bilhões pagos neste ano (jan-out) são os menores desde o início da pandemia. Em 2021 foram pagos – no mesmo período, de 10 meses – R$ 211 bi e no ano seguinte (2022) R$ 254 bi, em números redondos. “Na incerteza, empresas preferem manter dinheiro em caixa”.
A extensão de prazos (facultada pela lei) afeta os investidores, com forte desvalorização de seus proventos, mostra a pesquisa, destacando que, à exceção do Banco do Brasil, não há correção monetária. “O prazo de 117 dias é o mais longo dos últimos seis anos”, diz o CEO da Meu Dividendo. Antes, o prazo maior estava em outubro de 2020, com 70 dias. Sobre as mudanças, ele sublinha as ações de Vale e Petrobras que, juntas, respondiam por 57% dos proventos pagos aos investidores em 2022, caindo para 38% do total este ano. O período comparado é o mesmo acima, ou seja, janeiro a outubro de 23 contra jan-out de 22.
Para o investidor que pretende um quadro mais amplo da Bolsa brasileira, destaque-se os setores que internamente a plataforma batizou de “EGS” (fazendo referência aos ovos que não devem ficar em uma mesma cesta) e que, somados, representam 85% dos dividendos pagos: energia, gás/petróleo, saneamento e telecomunicações, além dos bancos.
JCP
O pagamento da rentabilidade de ações pela modalidade Juros sobre Capital Próprio (JCP) continua na berlinda. Lembrando que ao receber dividendos, o investidor embolsa o dinheiro livre de imposto e no caso de JCP paga 15%, ônus que a empresa lhe transfere.
VIÉS
De acordo com a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), os Juros sobre Capital Próprio assumem o papel de reduzir o que se chama de `viés pró-endividamento`.
Em suas redes sociais, a associação destaca que o instrumento “tornou as empresas mais saudáveis e resistentes a crises”. E justifica: “Quando uma companhia pega um empréstimo, por exemplo, com um banco, os juros que ela paga são considerados uma despesa (não paga imposto de renda em cima disso). Mas se ela pega esse valor com um dos sócios, esses juros não são vistos como despesa e a empresa acaba sendo tributada. Assim fica mais caro para a empresa se financiar com o próprio sócio do que com um banco”.
CONCLUSÃO
Ao tomar a decisão de aportar dinheiro em determinada empresa, o investidor precisa conhecer a forma de pagamento (se dividendos ou JCP) e calcular quanto poderá receber pela remuneração do seu capital. Uma pesquisa no histórico da companhia é sempre útil.
MUDANÇA
Graficamente a Coluna tem alterações já nesta semana. Junto vem a preocupação editorial em fornecer cada vez mais “munição” ao investidor para que conheça empresas e fundos com pegadas ESG mais forte (seja na geração de valor de longo prazo ou na valoração de imediato). Em outras editorias você também encontrará o realinhamento. Com isto, o Portal Acionista fortalece o vínculo com aquele que é sua razão de ser: o investidor.
NOVIDADES ESG
R$ 50 Bi — A JBS planeja investir R$ 15 bilhões até 2026 para expandir operações no Brasil, disse, na última sexta, o CEO global Gilberto Tomazoni durante inauguração de duas fábricas (de produtos de valor agregado), no Paraná.
Já o Grupo J&F anunciou um total de R$ 38 bilhões em investimento para os próximos três anos. “Quero dizer que nós da JBS estamos com um projeto de dupla listagem. Se esse projeto for bem sucedido, o investimento não será de R$ 38 bilhões, mas de R$ 50 bilhões no Brasil, disse Tomazoni, dando um incremento à materialidade da organização.
A ação JBSS3 fechou em R$ 19,88 na sexta, dia 27/10.
Ouro – A Iguá Saneamento recebe o Selo Ouro do Programa Brasileiro GHG Protocol, pelo terceiro ano consecutivo. A certificação é da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para empresas que alcançam o nível mais alto de qualificação e transparência nos Inventários de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE).
Neste ano, a novidade é que o inventário apresenta a redução das emissões de GEE no consumo de energia, como reflexo positivo dos projetos de geração de energia elétrica renovável via geração distribuída, iniciada em 2022. Isto é fruto da estratégia de sustentabilidade da companhia.
A ação IGSN3 fechou em R$ 7,00 , na sexta, dia 27/10
Mulheres – Enquanto o número de mulheres em escalões de governo e de companhias abertas estaciona, ou encolhe, a Melhoramentos comemora os 30% de presença feminina no quadro de colaboradores.
Mais que isso, a companhia informa que 38% dos cargos de liderança e 50% das cadeiras da Diretoria são de mulheres.
A ação MSPA3 fechou em R$ 46,25 , na sexta, dia 27/10
AGENDA
Livro – Anote: dia 5 de dezembro, às 19h, haverá o lançamento do livro Mulheres no Conselho, da Editora Leader, no térreo da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, à av. Paulista 2073.
Convite é de Debora Santille, coautora da obra, conselheira de empresas e colaboradora deste Portal, a quem agradecemos e estendemos aos leitores.
Afinidades – João Pedro Nascimento, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), teve agenda com seu colega Luís Laginha de Sousa, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em Portugal, dia 24 último. Encontro versou sobre experiências na atuação dos órgãos reguladores. Ideia é estabelecer cooperações futuras.
Foto/Divulgação – Finotti explica estratégia das empresas com dividendos.