Por Henrique Luz , Especial para Plurale (*)

O IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa celebrou, com gáudio, os seus 25 anos em 2020. Na verdade, em essência, e de forma meritória, o ano de 1995, acabou por ser considerado o ano em que se iniciou a disseminação de boas práticas de governança no Brasil.

Um grupo de abnegados, liderado pelo Bengt Hallqvist, com suporte de Joao Bosco Lodi, fundou o Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração para, dois anos depois, converte-lo em IBGC. A razão para isso foi a enorme carência do conhecimento sobre governança em nosso País. E aí, não somente os conselheiros de então mas também acionistas-sócios, diretores executivos, auditores externos, auditores internos, conselheiros fiscais, investidores institucionais, analistas de investimento, banqueiros, advogados, políticos, reguladores, enfim…toda a sociedade civil.

Pessoas como José Candido Senna, Lelio Lauretti, Leonardo Viegas, Paulo Villares, Ronaldo Veirano, Roberto Faldini e Sandra Guerra, que estiveram juntos com o inspirador Bengt Hallqvist na fundação do Instituto, compõem a sua história, e a da própria governança em nosso País. E continuam no Instituto, contribuindo com seu propósito.

O IBGC segue cioso de suas responsabilidades como a “Casa da Governança”, como muitos agentes do sistema de governança, e do mercado como um todo, carinhosamente o intitulam. E sua razão de ser – construir uma sociedade melhor por via de uma melhor governança – é tangibilizada por meio da disseminação de melhores práticas de governança. Uma sociedade melhor é a que consideremos mais justa, transparente e responsável, denotando, de forma inequívoca, o diapasão que ajusta a “nota de referência” do Instituto em suas atualizações de estratégia e mesmo nas ações no cotidiano de sua operação.

Em todos estes 25 anos, o IBGC tem sido coerente com os 4 princípios básicos da governança: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Aliás, coerência é mesmo um de seus valores, juntamente com o proativismo, a diversidade, independência e soberania em suas ideias e princípios em face de quaisquer grupos de interesse.

De fato, o IBGC é único em sua personalidade. E a sociedade nos reconhece, em pesquisa recente, por um DNA muito diferenciado, composto de 4 elementos fundamentais.

O IBGC é (1) “relevante”, pela história que logrou construir junto aos seus associados e agentes de governança do mercado, com enorme coerência e sem nunca ter negligenciado ou mesmo se distanciado dos princípios básicos da governança: Equidade, Transparência, Prestação de Contas e Responsabilidade Corporativa; (2) o IBGC é curador, porquanto trabalha em rede colaborativa e considera os mais diversos pontos de vista para a construção e a gestão de conhecimento. Com enorme respeito e, mais do que isso, com valorização, da diversidade; (3)é “mobilizador”, uma vez que, com proativismo, bem engaja a sua rede para transformar a sociedade por meio das melhores práticas de governança nas organizações, e é (4) “visionário”, porque seu olhar consciente e assertivo sobre o presente, faz com que esteja sempre preparado para o futuro.

Foi a partir dessa reflexão a respeito do papel relevante que o IBGC tem desempenhado na sociedade brasileira, assim como de sua própria visibilidade e percepção pública que, nos últimos 2 anos, o instituto vem imprimindo um pensamento estratégico contínuo, de forma a antecipar-se às mudanças da sociedade, em um cenário cada vez mais cheio de volatilidades com transformações em velocidade exponencial, cheio de incertezas, o que gera grande angústia e ansiedade, multicomplexo e pleno de ambiguidades. O conjunto disso, convenhamos, torna as organizações muito mais sujeitas a fragilidades.

Todas as profundas mudanças que vivenciamos em 2020 – por motivações econômicas, sociais, políticas e sanitárias – não somente reforçam a necessidade da adoção de princípios e melhores práticas de governança corporativa, mas também nos levam a lançar um movimento no mercado para que os líderes das organizações exerçam um papel protagonista na resposta às aspirações humanas que vão além dos resultados econômicos e financeiros.

Fiel e firme no seu propósito de contribuir para a construção de uma sociedade melhor, o IBGC propõe uma Agenda Positiva de Governança (www.agendapositivadegovernanca.com.br) para os principais líderes das organizações: sócios, acionistas, conselheiros e executivos.

Para chegar a isso, o IBGC, nos últimos meses, reuniu uma plêiade de especialistas – líderes incontestes em seus segmentos – que debateram a respeito de ações que as lideranças das organizações podem, e devem, tomar agora para que mudanças estruturais e de impacto positivo aconteçam no país. Essas medidas estão apoiadas por seis pilares, a saber:

(1) ética e integridade;

(2) diversidade e inclusão;

(3) ambiental e social;

(4) inovação e transformação;

(5) transparência e prestação de contas, e

(6) conselhos do futuro.

A dimensão da Ética e Integridade, como imperativo moral – e fator decisivo para a continuidade dos negócios – que os líderes das organizações promovam uma cultura de integridade, em que as pessoas pratiquem a confiança, o respeito, a empatia e a solidariedade.

Na Diversidade e Inclusão, propugnando a existência de uma cultura corporativa que se fundamente nesses aspectos, assegurando um valor humano fundamental: o “culto” à convivência com o que, e com aqueles, diferentes de nós mesmos, inclusive como fonte permanente de criatividade e longevidade. Os líderes devem agir com urgência e comprometer-se a assegurar tratamento justo e oportunidades iguais para todos.

No Ambiental e Social, preconiza-se que a atuação dos líderes na gestão dos impactos ambientais e sociais deve ir bem além da agenda institucional. É fundamental integrar essas questões ao modelo de negócio e promover a articulação da organização com os diversos setores da sociedade.

Já no que toca Inovação e Transformação, considerando que a inovação deve ser a base de uma visão de futuro que objetiva o desenvolvimento sustentado da organização. Os líderes devem tomar decisões coerentes com o propósito e a estratégia do negócio, gerenciar os riscos do processo e ter disciplina para colher os resultados das ações no tempo certo e gerar valor para todas as partes interessadas.

Na bandeira da Transparência e da Prestação de Contas, sugerindo que os líderes devem promover a transparência e prestar contas de sua atuação a partir de um diálogo aberto com as diferentes partes interessadas, identificando seus interesses e expectativas, a fim de obter mais confiança e melhores resultados.

E, com relação ao debate sobre os Conselhos do Futuro, recomendando que estes lideres atuem como agentes de transformação e catalisadores da adaptabilidade e da agilidade de suas organizações, compondo seus conselhos com maior foco em diversidade e lastreados, além dos critérios objetivos, no mapeamento de atributos socioemocionais, importantes na condução dad dinâmicas de conselhos. A disposição para questionar, ouvir ativamente, respeitar outras visões, ousar, desaprender e reaprender são condições essenciais para explorar novas formas de gerar valor e viabilizar as transformações necessárias.

Acrescente-se que este posicionamento público contou com o apoio de 33 entidades grandemente representativas da sociedade civil, não somente aquelas mais de perto interessadas no desenvolvimento e disseminação de melhores práticas de governança.

A “agenda positiva de governança” é a própria materialização – cristalina – do posicionamento do IBGC frente a suas “raison d´être” e visão. E é coerente com sua história de inarredável defesa dos 4 princípios básicos de governança, ao mesmo tempo em que endereça questões em debate na sociedade hodierna, assim como os desafios a serem impostos nas reconfigurações de conselhos de administração prospectivamente.

*Membro independente de conselhos de administração, Presidente do Conselho de Administração do IBGC, Vice-Presidente do Conselho do MAM-SP. Colunista colaborador de Plurale.