Quem enxerga o índice Ibovespa, principal termômetro da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), em seus altos e baixos em meio a um cenário tão adverso pode esquecer de um princípio básico nos investimentos em ações. A compra e venda de papéis, para quem não é especulador, devem perseguir visões de longo prazo, amarradas à análise da qualidade das empresas, sua capacidade de gestão e o contexto macroeconômico de longo prazo.

Analistas de investimentos alertam para a necessidade de se olhar os fundamentos das empresas antes de tentar antecipar o movimento na semana, no mês seguinte. Ou seja, ver como está seu endividamento, seu poder de investimento, sua posição de mercado, seus diferenciais em relação à concorrência, sua transparência com o mercado. Também é fundamental enxergar se o segmento de atuação é favorável no decorrer dos anos. Esta é uma estratégia que costuma ser certeira no longo prazo.

“Com o atual cenário econômico, o investidor precisa ter visão de longo prazo e diversificar as opções escolhidas para minimizar riscos e potencializar oportunidades de ganho”, afirma Gabriel Kallas, cofundador e CEO da Toro Investimentos. Estar atento a um horizonte mais extenso, preenchendo a carteira com ações realmente sólidas, é uma tática que pode gerar mais ganhos e também evitar que o investidor deixe de participar de setores prósperos, ainda que em momentos difíceis.

Tome-se o exemplo do setor financeiro, que tem sido punido pelo mercado em razão do freio na economia e do risco na inadimplência, mas que dificilmente analistas fundamentalistas recomendam distância, mesmo agora. O mesmo se pode dizer de segmentos como commodities e tecnologia, por exemplo, ainda que outros sejam mais reluzentes no prazo mais imediato.

“As dinâmicas particulares de crescimento de médio/longo prazo dos setores não mudaram. Ainda que a vacina contra a covid-19 abra boas perspectivas de normalização das economias no curto prazo e justifique a recuperação de setores como companhias aéreas e shopping centers, outros segmentos, como o de tecnologia, ainda irá se beneficiar de taxas de crescimento superiores em relação aos setores mais tradicionais no longo prazo”, exemplifica Frederico Sampaio, responsável pela Renda Variável da Franklin Templeton Investimentos Brasil. “Acreditamos que o fluxo deve continuar sustentando essa rotação por mais tempo, mas os fundamentos de longo prazo voltarão a prevalecer em algum momento”, reforça.

Analistas reconhecem que o noticiário de curto prazo é, muitas vezes, tentador. Portanto, o desafio do investidor é dosar o que a bolsa oferece de imediato e o que realmente faz a diferença para as ações para o futuro. “Os anúncios dos resultados dos testes das vacinas da Moderna e da Pfizer dispararam um abrupto movimento de rotação de carteiras em novembro”, ilustra Sampaio. “Isso foi acompanhado pelo retorno dos investidores estrangeiros na ponta compradora da B3. É difícil prever a duração deste movimento. Decerto, o diferencial de valuation entre os setores de crescimento versus os de valor estava a um nível historicamente muito alto”, completa.

Caio Fernandez, CEO da Ivest, consultoria de investimentos, analisa que atualmente, com a crise do Coronavirus, investidores com muito tempo no mercado estão “acostumados” com essas oscilações da economia mundial. Entendem, portanto, que é uma oportunidade de obter ganhos financeiros nos próximos cinco anos. “Indico os investidores às compras de ações, porém de forma moderada, comprando aos poucos e tendo ciência que pode cair ainda mais, mas que ao longo prazo pode ser um excelente ponto de compra”, avalia o consultor de investimentos.

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