As debêntures definitivamente entraram no radar dos investidores brasileiros e gestores de fundos. Entre os principais ativos de renda fixa que compõem as carteiras dos fundos de investimento, as debêntures apresentaram em 2017 o maior avanço: cresceram 34,7%, contra recuo de 5,1% em 2016, conforme levantamento da Anbima. O resultado chega a ser maior do que aumento de 32,3% dos títulos públicos, que ainda detêm a maior participação nos fundos.

As razões, aponta a Anbima, são a perspectiva de melhora do ambiente de negócios no país desde o final do ano passado e que se prolonga neste ano (as emissões de debêntures já subiram 1,06% até fevereiro, dado mais recente da entidade) e a busca dos investidores por maior rentabilidade, decorrente da baixa dos juros que puxa para baixo aplicações mais simples atreladas ao CDI.

A parcela dos papéis corporativos na composição dos fundos, que estava em queda desde 2014 como efeito do agravamento da crise econômica, mostra sinais de estabilização, mantendo, desde o fim de 2016 até o início deste ano, o patamar de 12%. Os títulos públicos ainda representam quase a totalidade das carteiras, com 75%, enquanto os bancários totalizam 13%. A maior participação das debênturesnas carteiras dos fundos tem sido possibilitada pelo aumento das emissões de empresas brasileiras no mercado de capitais.

Eis um exemplo: em meados de abril, a Movida concluiu a primeira rodada de sua nova emissão de debêntures, não conversíveis em ações, que totalizou o montante de R$ 250 milhões. E os negócios foram bons tanto para a empresa, que deve se manter ativa na Bolsa, quanto aos investidores, levando em conta a taxa de remuneração.

“Os juros remuneratórios desses títulos de dívida corresponderão à variação do CDI acrescida de 2% ao ano, com prazo de vencimento em 2023”, detalha Sandra Peres, analista-chefe da Coinvalores.

Esta condição de promessa de pagamento superior à totalidade do CDI em títulos como fundos de renda fixa, CDB, LCI e LCA é bem mais rara.

A debênture é um investimento de renda fixa emitido por uma empresa, que por sua vez, pode ser privada ou estatal. Basicamente, ela funciona como um empréstimo do seu dinheiro para a companhia. Em troca, a pessoa recebe uma taxa de rentabilidade que é acertada na hora da compra. Enquanto isso, a companhia faz a captação necessária para financiar projetos, aquisições ou pagar dívidas. Para comprar debêntures, é preciso ter conta em uma corretora, e o mais comum é obter este título dentro de uma cesta em fundos.

Especialista em investimentos pessoais e analista de mercado (CNPI), Daniel Nigri explica que, embora as debêntures paguem mais do que a renda fixa atrelada ao CDI, há de se observar os riscos. Estes títulos não possuem garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), portanto há o risco do emissor não pagar a dívida no prazo. Por outro lado, as debêntures incentivadas possuem isenção de Imposto de Renda, mas são direcionadas a investidores qualificados.

“Para avaliar se a debênture vale mais do que um título do tesouro, por exemplo, é importante levar em conta três fatores: o prazo de vencimento, o risco de inadimplência levando em conta o grau de risco da empresa emissora e a diferença entre a taxa de pagamento da debênture e do Tesouro Nacional”, afirma.

Quando a debênture prevê juros e amortização, esclarece, este risco se reduz, pois se a empresa falir na data do vencimento, o investidor já terá recebido várias parcelas de amortização além dos juros.

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