PERSPECTIVAS 2020-21: ENTUSIASMO NÃO É PÁREO PARA PREPARAÇÃO.
Victor Penna, Wesley Bernabé, CFA. Com o time do BB Investimentos Research

Pontos relevantes para 2020-21 devem impactar a estrutura atual do setor financeiro e o papel histórico dos bancos, independente do avanço da agenda regulatória.

RESUMO
Grandes Bancos: – NEUTRO -TOP PICK: BRADESCO – Pelo lado positivo, acreditamos em: (i) crescimento forte da carteira de crédito, tanto para PF quanto para PMEs; (ii) continuidade na estratégia dos bancos de melhorar o mix, aprimorando suas margens. Entretanto, como consequência dessa segunda estratégia, projetamos uma piora nos índices de inadimplência. Um segundo ponto negativo em contraponto e que coloca 2020 como um ano neutro é a possível continuidade na redução da taxa Selic, que geraria mais pressão nos spreads praticados.
Bancos médios: – POSITIVO -TOP PICK: BANCO ABC 2019 ficou marcado pelo crescimento exponencial dos bancos digitais na bolsa de valores (Banco Inter +146,1% e BTG Pactual +213,1%). Para 2020, projetamos um cenário otimista para bancos de médio/pequeno porte, com crescimento sólido de clientes, carteira de crédito e lucro líquido. Corroborando com a nossa tese, o BCB tem demonstrado intenção em aumentar a concorrência via redução de barreiras de entrada e spreads. Esses pontos, na nossa visão, poderão ser benéficos para fintechs e bancos menores.
Seguros: – NEUTRO -TOP PICK: N.A – Apesar da atividade econômica não ter correspondido às expectativas do início do ano, projetamos crescimento dos prêmios emitidos para 2019 próximo de 9%. Para 2020, continuamos com perspectiva de crescimento dos prêmios, entretanto, em uma velocidade menor (~5%). Para o mercado de resseguros, projetamos crescimento próximo de 20%, porém, acreditamos que é algo já precificado na ação do IRB. Por outro lado, acreditamos que as receitas financeiras possam reduzir, visto a queda da Selic, dependendo do cenário econômico.
Meios de Pagamento: – NEGATIVO -TOP PICK: N.A – Esperamos que 2020 seja um ano de intensa transformação no setor de meios de pagamento, com crescimento das carteiras digitais, regulamentação do pagamento instantâneo, entre outros pontos, como o surgimento de novas tecnologias. O fato é que toda essa disrupção trará muitas facilidades para o consumidor final, além de uma queda de preços e melhora nos serviços prestados. Por outro lado, as companhias terão grandes desafios, tendo que se reinventar, visto que suas fontes de receitas podem estar sob ameaça.

Confira as perspectivas para o setor de BB Investimentos

Open Banking

Assunto que vem ganhando mais importância a cada dia, o Open Banking é visto por nós como uma das principais apostas dos reguladores para impulsionar a concorrência bancária e diminuir o custo do crédito no Brasil.

Basicamente, o modelo consiste na adoção de uma tecnologia padronizada (conhecida como API – application programming interface) por todas as instituições financeiras, para simplificar o compartilhamento de dados. Como consequência desse processo, o cliente passa a ser dono de suas informações, e não mais a instituição financeira com a qual ele mantém relacionamento.

A ideia do BCB é dividir a implementação em quatro etapas, com a intenção de iniciar a primeira nas próximas semanas. Isso traria algumas vantagens para o sistema financeiro nacional:

  • Os clientes teriam mais facilidade para mudar de instituição;
  • Produtos mais baratos, visto que o sistema seria mais integrado e simples, com menos intermediários;
  • Menor barreira de entrada, aumentando a competição e consequentemente, elevando a qualidade dos produtos/ serviços.

Apesar dos bancos tradicionais dizerem que estão se preparando para essa “nova era” do sistema financeiro, acreditamos que o Open Banking traz mais vantagens para as fintechs e bancos de médio/ pequeno porte, visto que o grande gap entre os players do mercado é a quantidade de informações que cada um detém, algo que acabaria ou, pelo menos, diminuiria consideravelmente.

Cadastro Positivo

Apesar de existir desde 2011 (lei 12.414), o cadastro positivo ainda não é muito utilizado pelas instituições financeiras visto que o cadastro de uma pessoa depende de sua autorização. A partir de 2019, a abertura desse cadastro passa a ser automático, cabendo ao interessado pedir sua exclusão.

Na nossa opinião, o cadastro positivo trará uma maior transparência da situação econômico-financeiro do cadastrando, diminuindo a assimetria de informações que existe hoje entre as instituições e o cliente. Como resultado do cadastro positivo, poderíamos ter uma redução dos spreads praticados, visto que o risco seria melhor calculado, e as barreiras de entrada seriam menores visto a facilidade de conseguir informações.

Atuação do Banco Central

O BCB tem tomado algumas medidas para diminuir o custo do crédito no país e incentivar a concorrência, como: (i) redução do custo do cheque especial, com o limite de 8% a.a. a partir de Jan/2020; (ii) autorização para participação de capital estrangeiro em instituição financeira brasileira; (iii) regulamentação das fintechs; (iv) criação da TLP para empréstimos do BNDES; (v) lançamento da agenda BC#.

Além das medidas já anunciadas, o BCB já anunciou que pretende rever as regras de outras linhas de crédito que possuem taxas elevadas, como o cartão de crédito. Além disso, pretende revisar as regras de empréstimos com garantia, com especial atenção para o home equity.

Grandes bancos

Resultados em 2020 impulsionados pela contínua melhoria de mix e crescimento da carteira. Por outro lado, inadimplência e redução da Selic podem pressionar margem líquida.

Pontos Positivos: crescimento da carteira e melhoria de mix

Acreditamos que 2020 será um ano de avanço da carteira de crédito acima de 10%, principalmente se as expectativas positivas para a economia forem confirmadas. Conforme gráfico ao lado, 2019 foi um ano positivo para o crédito PF, e apesar do crédito PJ não ter tido o mesmo comportamento, pudemos notar um sinal de recuperação nos dados a partir de agosto.

Outro ponto que deverá impulsionar os resultados em 2020 é a melhora de mix que os bancos vêm adotando a partir de 2019, focando em linhas mais rentáveis ante linhas com spreads menores. Entretanto, projetamos um crescimento para 2020 mais tímido que o visto em 2019 para linhas como cartão de crédito e cheque especial, que segundo dados do BCB, crescem 20,7% e 18,5% em 2019, até outubro.

Fonte: Banco Central (BCB), BB Investimentos Research

Riscos: redução da Selic e aumento da inadimplência

Uma redução da Selic além das expectativas atuais poderia acarretar em uma pressão para redução de juros cobrado , reduzindo ainda mais as margens líquidas. Mesmo que esse cenário pudesse levar a um maior apetite por crédito, nossas projeções indicam que o aumento da carteira não seria suficiente para compensar a redução do spread praticado.

Outro ponto que consideramos como um risco para 2020 é a questão da inadimplência, visto a estratégia de melhora de mix mencionada. Quando olhamos para os dados de 2019, notamos que a Inadimplência se encontra em patamares historicamente baixos, algo que ajudou a manter uma boa entrega de resultado nesse ano. Entretanto, é natural que ocorra uma deterioração das carteiras.

Fonte: Banco Central (BCB), BB Investimentos Research

Banco médios/pequenos

Para 2020-21, novos entrantes continuarão focados em atrair e crescer suas bases de clientes, operando em nichos específicos com alto grau de especialização para gerar receitas via linhas não-tradicionais.

Abertura de contas digitais

Para os bancos digitais seguirem uma tendência de crescimento em 2020 conforme foi visto em 2019, o essencial é que a sua base de cliente continue a crescer de forma acelerada, aliada a um baixo Custo de Aquisição de Cliente (CAC); alta qualidade de UX – User Experience; baixo Custo de Servir (CTS).

Com o número de clientes em patamares elevados, enxergamos que é possível essas instituições começarem a apresentar uma rentabilização consistente de sua base, algo que ainda não conseguimos enxergar. Acreditamos que 2020 será um ano positivo nesse pilar, visto a notoriedade que a conta digital está conquistando, aliado com alto grau de confiabilidade. Entretanto, os bancos tradicionais também estão demonstrando interesse nesse nicho e já lançaram suas contas digitais, a fim de preservar sua base de clientes.

Atuação em segmentos / nichos específicos

O foco em um público sub-atendido, aliado com tecnologias disruptivas (blockchain, big data, nuvem, IOT, etc), resumem a estratégia adotada por instituições de porte menor para ganhar penetração em um mercado altamente concentrado. Enxergamos que o objetivo é preencher uma lacuna deixada pelas instituições tradicionais, seja por questão de restrição de acesso ou de preço, ou mesmo por uma demanda cujo potencial não é conhecido nem priorizado pelos players tradicionais.

Alguns exemplos de concentração: Banco PAN e BMG que disputam classes C, D e E; banco Inter e Nubank que disputam jovens que valorizam a experiência tecnológica; ou o banco ABC que pretende aumentar seu nicho para cliente a partir de R$ 30 MM de FBA..

Receita advinda de fontes não-tradicionais

Uma tendência vista no mercado, que acreditamos que intensificará no ano que vem, é a busca dos bancos por receitas advindas de fontes não tradicionais no setor. O principal exemplo é o movimento iniciado pelo Banco Inter, mas que outros bancos já sinalizaram interesse também, que tangeas receitas de take rate vindas de seu marketplace. Na visão dos bancos, pelo fato deles já possuírem todo o arcabouço de meio de pagamento e uma vasta base de clientes, o sucesso de um marketplace é mais elevado.

Esse movimento é o oposto do que ocorre em países que já possuem SuperApps maduros, onde o surgimento veio de empresas do varejo que incorporaram serviços de pagamento dentro de sua plataforma. Acreditamos que o movimento iniciado pelo Inter é positivo e poderá ser bem–sucedido, se bem feito.

Fonte: Banco Central do Brasil (BCB)

Meios de Pagamento e Seguros

Nosso cenário base implica um ambiente ainda muito competitivo para o setor de pagamentos, reduzindo margens. Quanto ao setor de seguros, acreditamos em crescimento forte de prêmios em 2020.

Meios de Pagamento

Acreditamos que as empresas do setor de meios de pagamento terão um enorme desafio em 2020, em linha com o que foi nos últimos anos, dadas as mudanças que o setor vem passando. Esses movimentos levarão a uma diminuição na barreira de entradas, além da menor necessidade de intermediários, principalmente com a regulamentação do pagamento instantâneo.

Diante desse cenário, projetamos um ano difícil para a Cielo, com dificuldade em manter o seu Market share apesar de sua estratégia declarada de defender sua posição.

Aliado a isso, projetamos mais um ano de perda de margem, consequência da queda de preços que a empresa vem praticando. Por outro lado, reconhecemos como ponto positivo para o ano que vem: (i) melhora da qualidade do seu atendimento, e; (ii) melhora do índice de eficiência.

Seguros e Resseguros

Projetamos um ano de crescimento para a emissão de seguros, entretanto, um pouco menor que o esperado em 2019 (+9% em 2019 e +5% em 2020). Essa redução do crescimento é justificada pela base de comparação, visto que os 9M19 apresentaram um crescimento muito forte (+18,6), com destaque para seguro de vida.

Quanto ao mercado de resseguros, esperamos um ano mais forte que o ramo de seguros, justificado por:

(i) melhora de mix das carteiras, priorizando linhas mais rentáveis ou com menor sinistralidade;

(ii) aceleração do setor rural, dadas as previsões de melhores condições climáticas;

(iii) retomada do setor de construção civil;

(iv) valorização dos bens segurados, o que faz com que os prêmios cresçam de forma orgânica.


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