Em um artigo na Harvard Business Review, Sabina Nawaz e Roberta J. Cordano nos contam como aproveitar os aprendizados que tiveram se comunicando com surdos para a comunicação virtual que se tornou uma realidade neste ano.

Depois de meses trabalhando remotamente de casa, muitos de nós percebemos que a rotina diária de reuniões virtuais consome a nossa energia. É difícil manter a continuidade, a conexão e a coerência. Tendemos a falar demais ou de menos, repetindo muitas coisas desnecessariamente. Nossa atenção vagueia e deixamos de prestar atenção. Não se deslocar de uma sala para outra para começarmos a próxima reunião nos deixa nervosos e entediados com a falta de variedade.

Na verdade, estamos perdendo mais do que apenas o interesse. Não interagir fisicamente com os colegas de trabalho elimina informações não verbais. Estreitar nosso campo de visão para os pequenos detalhes nos faz perder a perspectiva. Isso tem um preço muito alto. Ao perder sinais imprescindíveis e trabalhar em um espaço reduzido, tendemos a gastar mais tempo nos comunicando ao mesmo tempo que nossa compreensão diminui.

Embora reuniões consecutivas e sem fim não sejam uma novidade para nós, fazê-las virtualmente demanda outras competências e habilidades. Reuniões por vídeo não precisam ser desprovidas de entusiasmo e dinamismo. Podemos realizar algumas de nossas melhores reuniões aproveitando lições de comunidades que dependem, o tempo todo, de comunicação visual — especialmente as de surdos ou de pessoas com deficiência auditiva.

Para que haja comunicação é necessário haver duas pessoas: uma que fala e outra que escuta. Existem muitas maneiras de nos expressarmos e de escutarmos. Por necessidade, a comunidade de surdos criou um portfólio de estratégias e dispositivos de comunicação ainda maior do que aqueles utilizados, no dia a dia, pelas pessoas que não têm problemas auditivos. Quando usamos este conjunto de ferramentas, conseguimos reduzir o tempo que leva para nos comunicarmos e, então, corrigir os erros de comunicação.

Como coach executiva que trabalhou com diversos profissionais surdos (Sabina) e a presidente da Gallaudet University (Bobbi, que também é surda), aprendemos a nos comunicar perfeitamente uma com a outra. As técnicas que desenvolvemos também podem ser utilizadas para uma comunicação mais eficiente no mundo virtual, incluindo as reuniões feitas por vídeo — com qualquer pessoa, independentemente de sua capacidade auditiva.

Vá com calma, não se apresse

Em uma videoconferência, acompanhe os olhos dos participantes. Em nossas reuniões, Sabina faz uma pausa quando a Bobbi olha para baixo para anotar algo. Quando o olhar de Bobbi desvia da conversa, o fluxo de informações sofre uma pausa, dando-lhe tempo para fazer suas anotações, as quais levarão o assunto de uma reunião para outra. Prestando atenção nos olhos e entendendo quando e onde a atenção está sendo dividida ajuda a administrar o andamento das reuniões. As informações visuais ampliam as experiências auditivas, permitindo-nos avaliar os níveis de compreensão e responder a possíveis distrações. Diminuir o ritmo dá tempo para que todos processem as informações verbais e faz com que as mensagens sejam compreendidas antes de seguir para o próximo tópico, ou para a próxima pessoa a falar. É mais fácil administrar o ritmo quando as reuniões são entre poucas pessoas e mais curtas.

Cultive a cooperação e não a competição

O áudio do computador é cortado quando as pessoas tentam falar ao mesmo tempo. Na primeira vez que Sabina se reuniu pessoalmente com um grupo de surdos, eles estavam sentados no terraço da Bobbi. De repente, uma das participantes começou a bater seu pé no chão. Embora, a princípio, tenha sido inesperado, logo ficou claro que era um sinal para chamar a atenção de todos. No mundo virtual, pode-se criar uma abordagem similar para quando um participante quiser pedir a palavra. Nomear um facilitador e definir que todos devam levantar a mão — seja em vídeo ou pelo aplicativo de videoconferência quando alguém quiser dar uma contribuição – é uma boa maneira de assim fazer. O facilitador pode, de tempos em tempos, anunciar a ordem das pessoas a falar. Ao estabelecer um protocolo e ter o controle de apenas uma conversa por vez, mais pessoas poderão participar e todos estarão mais engajados integral e equitativamente.

Expanda para solicitar atenção

O objetivo de Sabina em cada reunião com Bobbi era aprender um novo sinal. Bobbi faria um sinal básico como “sim’’ e Sabina a imitaria. Mas quando Sabina imitou o sinal para “de nada’’, Bobbi apontou que o vídeo dela estava configurado para um pessoa com audição, e que a parte inferior do sinal — abaixo do osso esterno — não era visível. A linguagem corporal telegrafa grande parte de nossas mensagens. Muito é perdido quando decidimos mostrar apenas nossa cabeça e pescoço na tela. Pense em como seria se estivéssemos nos encontrando pessoalmente, com a maior parte de nosso torso abaixo do nível da mesa da sala de reuniões. Talvez seja uma ótima estratégia para um jogo de pôquer, mas não para uma reunião. Ajuste o ângulo da câmera, a altura do notebook e a localização da cadeira para que você fique visível do topo de sua cabeça até a altura do umbigo. Deixar a linguagem corporal à mostra faz com que a mensagem seja compreensível para o seu público. Bônus: As reuniões acontecem mais rapidamente quando nossas mãos estão no foco da câmera, forçando-nos a estar totalmente presentes, em vez de estarmos distraídos com nossos dispositivos.

Use linguagem não verbal para aumentar o engajamento

É muito cansativo para as pessoas surdas alternar entre conversas em inglês e na língua de sinais americana (ASL, na sigla em inglês) ao longo de um dia inteiro. Da mesma forma, muitas pessoas estão descobrindo que vídeos consecutivos exigem resistência infinita. Administrar as conversas ajuda a incentivar a participação, maximizar o engajamento e minimizar o cansaço. Faça uso estratégico dos sinais durante uma videoconferência. Quanto mais pessoas envolvidas, mais conveniente é incluir sinais visuais pré-combinados. Conforme mencionado anteriormente, levante as mãos antes de falar. Em reuniões externas como facilitadora,  Sabina combina com os participantes para levantarem um dedão para “sim”, dois dedões para “concordo” ou “mais um”, ou ainda, “adoro sua ideia ’’. Vemos sorrisos por todos os lados quando uma ideia resulta em uma sala virtual repleta de dois dedões para cima. Enfeitar as palavras com sinais deixa a mensagem mais rica, aumenta o entendimento, economiza tempo e é revigorante. Em vez de serem cansativos, estes sinais reduzem a tensão e apoiam.

Use o chat para obter maior clareza

A maioria de nós (e isso não se limita aos surdos ou pessoas com deficiência auditiva) não percebe se perdeu alguma coisa da conversa ou então, não admite o fato. A janela do chat pode ser uma ferramenta para complementar informações quando percebemos que isso está acontecendo em uma reunião. Ao usar informações adicionais, palavras difíceis de escrever, acrônimos ou palavras que não fazem parte do cotidiano, acrescente-as lá. Isso facilitará a compreensão de todos, evitando mal-entendidos ou repetições desnecessárias.

Vista-se de acordo para ser bem-sucedido

Os intérpretes da língua de sinais evitam estampas e usam roupas que contrastam com a cor de sua pele. Isso ajuda seus clientes a enxergar os sinais mais claramente. Da mesma forma, em vídeo, estampas muito fortes podem ser chocantes para os olhos e competem com os sinais gestuais. Escolher propositadamente uma roupa que seja ao mesmo tempo confortável e “tranquila’’ para os olhos, além do cuidado com o cenário atrás de nós, cria uma presença profissional capaz de elevar o ânimo.

Para navegar pelo novo normal através de caminhos imprevisíveis e métodos desconhecidos, podemos aprender com aqueles que já testaram e experimentaram essas estratégias: os surdos e os deficientes auditivos. Ao incorporar sinais visuais e controlar o ritmo das reuniões, transformamos a comunicação em um processo colaborativo ao mesmo tempo que sinalizamos nossa empatia pelos colegas. Compartilhar a responsabilidade pela eficiência da comunicação simplifica a tarefa e multiplica o resultado.


Sabina Nawaz é coach de CEOs mundiais, palestrante sobre o tema liderança, escritora, que trabalha em mais de 26 países. Nawaz presta consultoria para executivos C-level de empresas da Fortune 500, agências governamentais, organizações sem fins lucrativos e acadêmicas. Ela já deu palestras em centenas de seminários, eventos e congressos, inclusive TEDx e escreveu artigos para a FastCompany.com, Inc.com, e Forbes.com, além da HBR.org. 


Roberta J. Cordano é Presidente da Gallaudet University, a mais importante instituição para surdos e alunos com deficiência auditiva. Criada por pais surdos, foi uma das primeiras mulheres nos Estados Unidos da América a obter o diploma em direito, além de ter sido assistente do procurador-geral do estado de Minnesota.

Conteúdo gratuito disponibilizado na https://hbrbr.com.br/.

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