As discussões e movimentos sobre as mulheres no ambiente profissional e sobre os desafios que cercam esta pauta, especialmente quando o tema é sobre mulheres na liderança, tem se intensificado. São questões complexas, desafios históricos, culturais e sociais a serem superados. No entanto, minha abordagem à liderança vai além do contexto de gênero. Acredito que nosso poder de transformação, como líderes, está centrado naquilo que acreditamos sobre nós mesmos, em nossa capacidade de adaptação e crescimento e, acima de tudo, em nossa visão de futuro.

Escolher liderar requer clareza de objetivos pessoais e propósito. Essa é uma posição que carrega consigo uma profunda responsabilidade. Acredito que cada um de nós é definido por sua ambição, preparo e competência para liderar e inspirar mudanças, sejam elas quais forem, em si próprio, no outro ou no meio em que atua. E acredito em alguns caminhos viáveis que podem ocorrer de maneira dual e independente para lidar com os desafios que cercam esta pauta. Não são estudos profundos que me fazem acreditar nessa tese, são resultados reais e a minha própria jornada que me fazem ver o tema sob esta perspectiva.

A minha essência

Começo compartilhando minha essência, minha base, minhas crenças! Minha avó materna, a “Vó Cida”, carinhosamente apelidada de Bibi pela sua bisneta, desenvolveu em mim uma potente crença de autoconfiança. Uma competência emocional certeira para alcançar autorrealização, felicidade e desenvolvimento pessoal. 

Que legal, Juliana, mas como ela fez isso? A Bibi é praticante de uma filosofia japonesa chamada Seicho-No-Ie; em tradução literal, “Casa do Crescimento”. Os elementos da religiosidade nipônica valorizam todas as formas de vida, prezam pelo respeito ao próximo, pela gratidão aos pais e pelo culto aos ancestrais. A construção é baseada em três pilares: 1º) só existe Deus e a imagem verdadeira; 2º) o ambiente é reflexo da mente; 3º) todas as religiões emanam de Deus Universal. 

Se Deus é o bem e a imagem verdadeira, por que existem tantos desafios e coisas ruins que acontecem comigo e ao meu redor? Segundo a crença da Bibi, baseada na Seicho-No-Ie, o ambiente é reflexo da minha mente! E ela repetiu milhares de vezes para mim, meu irmão, meus primos… que absolutamente tudo o que quiséssemos alcançar ou ser dependia do quanto usássemos a nossa mente para criar esta possibilidade. Pois bem, eu testei, tive resultados quando criança, e validei este caminho incrível e me conectei com ele na minha jornada. Hoje acredito que somos o reflexo daquilo que ousamos e nos empenhamos tornar-se.

A minha liderança

Voltando ao tema da liderança feminina e seus desafios, quando assumi o papel de CEO, senti o peso e a responsabilidade de liderar um negócio pujante, em um mercado altamente competitivo, sucedendo meu pai e fundador, que para mim é uma figura ímpar neste negócio. Confesso, no entanto, que meu orgulho por estar fazendo exatamente o que eu queria foi maior do que o peso da responsabilidade. Esse fato dava vida para minha mente, para a minha busca por crescer, aprender e ser melhor. Minha formação é diversa – estudei arquitetura, design, economia, fiz MBA em gestão de negócios e industrial, me especializei em empreendedorismo e comportamento humano – aliás, adoro passar horas do meu dia com gente. 

Cada um desses conhecimentos trouxe uma perspectiva única para minha atuação. Talvez, por isso, eu veja a liderança como uma convergência de competências, que independem de quem as exerce. Meu propósito é liderar a empresa com base em estratégias sólidas e centradas no desenvolvimento das pessoas, independentemente de sua posição ou gênero.

Para mim, a contribuição para o desenvolvimento de outras mulheres se dá por várias frentes. Primeiramente, pela maneira como lidero. Liderança é, em essência, sobre inspirar as pessoas a descobrirem seu próprio potencial e a acreditarem em suas capacidades. Todos somos capazes de grandes feitos quando acreditamos em nossas competências e buscamos, de forma intencional, o aprimoramento contínuo. Minha atuação é voltada para incentivar o potencial de todos na empresa – homens e mulheres. Mas também reconheço a importância de servir como um exemplo de que é possível estar em um cargo de liderança por mérito e dedicação. 

Meu pai, chefe, líder e empreendedor, sem dúvida foi a pessoa que mais me inspirou a descobrir meu próprio potencial. Confesso que não foi “soft”, não foi com feedback estruturado, com expectativas claras, mas despertou minha melhor versão para buscar e desenvolver habilidades e conhecimentos que me levassem aonde eu queria chegar, em quem eu queria me tornar enquanto ser humano. Sim, eu chorei muitas noites, e dias também, pensei em desistir. Alguma coisa, porém, me impossibilitava de seguir este caminho. Era a minha mente, aquela que a Bibi facilitou que eu construísse.

Liderar, para mim, tem relação com alta performance, que tem relação com escolha e dedicação. Quando estudamos o comportamento humano, entendemos que as crenças moldam o modo como vemos o mundo e o que acreditamos ser possível. Liderar é, acima de tudo, inspirar outras pessoas a acreditar em seus talentos e desenvolver o potencial que, muitas vezes, elas mesmas não veem. Por isso, prefiro focar em desenvolver competências e crenças, onde cada pessoa possa se tornar protagonista de sua própria jornada, sem rótulos limitadores.

Os meus aprendizados

Se posso deixar uma mensagem para outras mulheres que também desejam ocupar cargos de liderança, é esta: acreditem em suas capacidades. Invistam no desenvolvimento de suas competências e não limitem seu potencial às circunstâncias. Liderar é uma escolha, e o sucesso é construído pelo trabalho, pelo comprometimento e pela coragem de seguir um propósito. Que cada mulher possa olhar para si mesma e para o seu futuro com a convicção de que o caminho é definido por aquilo em que ela acredita – e não pelas limitações que o mundo, a história, a sociedade ou a corporação, por vezes, tentam impor.

Que o olhar apreciativo sobre si mesmo a faça refletir sobre seus papéis diversos e determinar claramente seus inegociáveis para cada uma destas facetas, seja como profissional, como esposa, como mãe, como filha. Que use estas convicções para conduzir suas escolhas e dormir consciente de que está alinhada com seu propósito, com sua mente. Não haverá um companheiro, um filho que não terá orgulho de alguém que ousou vencer a si mesmo para encontrar sua melhor versão, sendo apenas um ser humano que erra, acerta e não é perfeito.

Um líder, para mim, é alguém que acredita em desenvolver pessoas que tenham o desejo e a coragem de transformar o futuro independentemente de quem seja. Eu tive e tenho um excelente líder que potencializou minhas crenças de autorrealização, para desenvolver desejo e coragem de transformar o futuro. Fica aqui o meu agradecimento à Bibi, à minha mãe Eliana, ao meu pai e líder Fábio, os primeiros incentivadores da minha mente. Obrigada, meus ancestrais!

Juliana Toniolo

Conduz projetos estratégicos, novos negócios, reposicionamento de marca, unificação de site fabril, transformação cultural e governança. Integrante de segunda geração de empresa familiar, ocupa a posição de CEO da Viemar Automotive. É pós-graduada em Gestão Empresarial e Industrial pela FGV SP, Graduada em Ciências Econômicas PUCRS, tem Especialização Entrepreneurship BOS, Conselheira, YPOer.
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