Fundadora da rede de hotéis Blue Tree e uma das principais empresárias do País, Chieko Aoki alcançou cargos executivos quando mulheres em posições de comando eram raridade absoluta no meio corporativo brasileiro. Foi presidente do Caesar Park e da Westin Hotels. Trabalhou nos Estados Unidos, no Japão e na Europa. Estudou administração hoteleira na Cornell University.

Aos 71 anos, pode dizer que vivenciou o que agora aconselha a jovens que querem ter sucesso na carreira. “Toda mulher, não importa o cargo que ocupe, tem de gostar do que faz, investir em si mesma e buscar se diferenciar”, diz Chieko. “Depois da grande felicidade de superar um desafio, haverá outro desafio para enfrentar.”

Integrante do grupo Mulheres do Brasil, que reúne mais de 35 mil integrantes, a executiva defende a importância de políticas públicas e empresariais para reduzir a desigualdade que ainda existe entre os gêneros no País. Tantos de oportunidades quanto de salário. Em todos os setores e as atividades, seja na hotelaria ou nos conselhos das grandes companhias. “Se a mulher é competente, tem de ganhar mais, não menos.”

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Como era a presença feminina na hotelaria quando a senhora começou a atuar no setor?

Ainda não havia muitas mulheres e elas geralmente se concentravam na área de governança. Uma história ilustra bem a situação. Eu era vice-presidente da rede Caesar Park quando a empresa decidiu comprar a Westin Hotels, em 1988. Nessa outra rede não havia executivas. E eu perguntei: “Vocês não têm nenhuma gerente-geral?”. Depois disso, eles se sentiram na obrigação de escolher uma executiva. Foi o primeiro pontapé para que tivéssemos mulheres no topo, na liderança. A mulher realmente tem as características de que precisamos na hotelaria e na posição de gerente-geral.

Qual é a dificuldade de estar em um ambiente profissional prioritariamente masculino?

Olhe para mim: japonesa, pequenininha, magrinha… Comecei como diretora de Marketing do Caesar e, depois, assumi a presidência. Quando eu ia aos eventos do setor, só encontrava homens. Mas nunca me senti excluída. O que eu sentia mais era a minha própria deficiência. Eu queria aprender mais e os homens me ajudaram muito a crescer.

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Percebe mudança no mercado de hotelaria ao longo desse tempo? Quando as mulheres começaram a chegar ao topo?

Eu já havia chegado à presidência quando as mulheres passaram a entrar em mais quantidade. Muitas fizeram escola de turismo e hotelaria. Tudo é um processo: as mulheres procuram as escolas, se formam e assumem cargos melhores. Levou um tempo, naturalmente. Primeiro, entraram em áreas como marketing, vendas, governança, eventos ou recepção. Mas, aos poucos, foram atingindo o nível gerencial. Hoje, na minha empresa, temos um número equilibrado de homens e de mulheres como gerentes-gerais.

Sendo uma das pioneiras, como vê o crescimento da participação das mulheres no ambiente executivo?

A sociedade está exigindo mais mulheres em posição de liderança. E não apenas no meu setor. Cada vez mais, o mercado é de coworking, colaborativo, transparente. Tudo isso tem muito a ver com a forma de a mulher pensar. É o momento de as mulheres acreditarem nessas características, que são muito importantes nesse novo mundo, onde as coisas são tão rápidas que, se você não compartilha e dá autonomia, fica muito para trás. Acredito que vamos ter mais mulheres em cargos de liderança. Assim como imagino que vários homens vão passar ter a forma de pensar mais parecida com a das mulheres, que geralmente são mais ligadas no cuidar, no compartilhar e em ter uma liderança mais livre, aberta e autônoma.

E como aumentar o número de mulheres nesses cargos de liderança?

Faço parte de um grupo criado pela Luiza Helena Trajano, da Magazine Luiza, o Mulheres do Brasil. Já somos mais de 35 mil integrantes. Muitas são executivas, mas outras, não. Todas as mulheres contam, todas fazem parte. Auxiliamos umas às outras, de acordo com o que cada uma busca. Uma quer ser executiva? A gente ajuda a promover. Comparando com o Japão, por exemplo, o Brasil é o paraíso. No Japão, é muito difícil para as mulheres assumirem cargos de direção, mas mesmo lá as coisas estão começando a mudar. Tóquio, a cidade mais representativa do Japão, tem uma governadora (Yuriko Koike).

Como o Mulheres do Brasil trabalha na prática?

Temos núcleos e comitês, que estão buscando assegurar uma cota de 30% para mulheres nos cargos de conselho das empresas, onde a presença feminina ainda é pequena. Esse empurrão é muito importante. Também trabalhamos com as meninas, as jovens, para que elas consigam se projetar até os cargos de liderança. Também é importante definir regras para que as mulheres possam trabalhar de forma mais livre. Uma grávida pode precisar ficar em casa e a mãe recente tem necessidade de cuidar do bebê. As políticas das empresas e do governo precisam acompanhar essas necessidades.

De onde devem partir as iniciativas para que essa transformação aconteça? Das empresas ou do governo?

Tudo conta. Quando começamos algo, não existe fórmula. É preciso experimentar. Políticas públicas são importantes? Sim, porque criam uma regra muito mais ampla. As empresas contam? Claro. Só que, no caso das empresas, ainda hoje a gente tem um maior número de executivos homens. E os homens têm mais amigos. Então, indicam mais homens para cargos de conselho. Conheço mulheres espetaculares. Tenho certeza de que os homens não conhecem essas mulheres. A mudança precisa vir de todas as partes. As empresas, por exemplo, podem estabelecer regras para ter 50% de candidatos homens e 50% de mulheres nos processos seletivos.

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Como lidam com a questão da igualdade de gênero no grupo Blue Tree hotéis? Existe alguma política afirmativa?

Em nenhuma empresa do grupo Blue Tree se olha com discriminação para a mulher. Olhamos com admiração. O importante é dar resultado, é dar certo. Lidamos com a competência, com a capacidade e com as oportunidades que as pessoas querem para si. Há pessoas que amam o que fazem, mas não gostam de liderar. Quando há jeitos diferentes, características diferentes, existe muito mais aprendizado do que quando todo mundo é igual. Os homens aprendem com as mulheres e as mulheres, com os homens.

Existe uma forma para atingir a igualdade salarial entre homens e mulheres?

Acho a diferença injusta. Se a mulher é competente, tem de ganhar mais, não menos. Algumas empresas já são muito conscientes, principalmente dos Estados Unidos. Suas filiais seguem o padrão que estabelece que não pode haver diferença salarial. Na minha empresa, nunca fiz distinção ou percebi situações assim. Acho que algumas dessas diferenças ainda são resquícios de um passado em que as próprias mulheres não pleiteavam a igualdade. Em que elas se sentiam sem direito de pleitear um salário maior, às vezes até por causa da maternidade. Pode demorar um pouco, mas as coisas estão mudando.

O que você diria para as jovens profissionais que buscam crescimento em suas carreiras?

Dificuldade faz parte. Desafio faz parte. Agora, o mais importante é ter vontade de aprender. É saber que, depois da grande felicidade de superar um desafio, haverá outro desafio para enfrentar. Invista em você, aprenda com tudo e com todos – com os homens e com as mulheres. Acredite que esse mundo, agora, é muito mais fácil para as mulheres do que já foi antes. Faça o seu melhor. Toda mulher, não importa o cargo que ocupe, tem de gostar do que faz, investir em si mesma e buscar se diferenciar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Felipe Laurence e Renato Vasconcelos

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