Como já tínhamos antecipado, a semana ultrapassada embutiu uma agenda cheia de dados importantes de conjuntura, tanto no plano internacional quanto local, que mexeram bastante com os mercados de risco intra e entre sessões. Além disso, no plano internacional, passamos todo o período lidando com a dicotomia de atitude pelos investidores, tendo que reverberar a expansão da contaminação pela covid-19 e restrições de contato em diferentes países com a proximidade de aplicação de vacinas.

Importante também as dificuldades de democratas e republicanos chegarem a algum acordo sobre novos estímulos fiscais requeridos pela economia americana e também foram renovadas as pressões americanas contra a China e empresas chinesas que estão fazendo captações no mercado de capitais americano.

Aqui, as discussões da hora estiveram centradas novamente na reforma tributária, preocupação com as contas públicas em grande desalinho, discussões difíceis sobre manter o ou não o teto de gastos e responsabilidade fiscal (há sempre formas de maquiar), as pressões dos “fura-teto” querendo gastar recursos em infraestrutura e obras parlamentares. Ainda tivemos que absorver duas demissões surpresas na equipe econômica de Paulo Guedes, caracterizada pelo próprio ministro como debandada. Do “dream team” montado por Paulo Guedes, só restaram dois profissionais.

Nos EUA, o presidente Donald Trump e seus secretários passaram a semana criticando a China e suas empresas, ampliando o tom e gerando preocupação. O secretário Kudlow, disse que a China é foco subversivo e influência perigosa para as américas, fazendo coro com Mike Pompeo, que também passou a mirar sobre a Rússia e a dependência europeia no que tange ao fornecimento de óleo e gás. Trump, por sua vez, disse não falar há algum tempo com o presidente Xi Jinping e disse que o acordo comercial com a China significa muito pouco. Mas destacou que agricultores americanos estão felizes com as compras chinesas. Trump também não perdeu a viagem para criticar a agora candidata a vice na chapa de Joe Biden, Kamala Harris.

O presidente Trump segue insistindo em reduzir impostos sobre a folha de salários e isso foi confirmado por secretários. Porém, Nancy Pelosi, presidente da Câmara, declarou que republicanos e democratas estão longe de um acordo. Fazendo coro com a necessidade de novos estímulos fiscais, tivemos vários presidentes regionais do FED, preocupados que a recuperação da economia seja mais lenta que o previsto e não mais em formato de “V”, e ainda com a quantidade de dívida contraída pelo governo. Nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior encolheram 228 mil posições para 963 mil pedidos totais, quando o esperado era que ficasse em 1,1 milhão.

Ainda nos EUA, as vendas no varejo e julho cresceram 1,2% quando a previsão era de +2,3% Já a produção industrial expandiu 3%, acima do previsto em 2,8%, mas ainda está 8,4% inferior ao período de pré-pandemia. A confiança do consumidor de Michigan subiu para 72,8 pontos, também acima do previsto que era de 71 pontos. O déficit orçamentário americano subiu para US$ 2,8 trilhões nos 10 meses do ano fiscal, quase três vezes maior que no comparativo com o ano anterior. Mas ainda assim, Trump coloca que os democratas estão impedindo que o Tesouro faça pagamentos aos americanos, além de explicitar que num governo democrata haverá crescimento de impostos.

Na China, a semana embutiu a divulgação de bateria de indicadores de julho, em algumas situações abaixo do esperado. A produção industrial anualizada de julho cresceu 4,8%, quando o previsto era +5% já as vendas no varejo caíram 1,1%, de esperada queda de 1,8%. Os investimentos em ativos fixos nos sete primeiros meses encolheram 1,6%, mas melhorando de queda anterior de 3,1%. As vendas de imóveis cresceram 0,4% nos sete meses de 2020, sendo esse o primeiro período positivo.

Na Colômbia, o PIB do segundo trimestre anualizado encolheu 15,5%, e o da Rússia com -8,5%. Na zona do euro, situação ainda pior com o PIB encolhendo 12,1%. Lá o saldo da balança comercial de junho cresceu para superávit de 17,1 bilhões de euros, vindo de 8,6 bilhões euros no mês anterior, fruto de exportações maiores em 11,25 e importações com +5,2%. Pior ainda para o Reino Unido com contração do PIB de 20,4%, mas com produção industrial de junho expandindo 9,3%.

Na Alemanha, deflação pelo CPI em julho de 0,1%, enquanto o índice Zew de expectativas econômicas subiu para 71,5 pontos, de anterior em 59,3 pontos. O México cortou juros básicos em 0,50% para 4,50%. Citamos ainda que alguns países adotaram novas restrições de convívio social, com o Reino Unido estabelecendo quarentena de 14 dias em pessoas que venham da França e na Austrália voltou o lockdown na região de Auckland.

No mercado local, muitas discussões na semana com relação à reforma tributária e novo imposto sobre transações digitais (ainda sem expectativa de alíquota, segundo a Receita Federal) sobre vetos do presidente Bolsonaro ao marco de saneamento e desoneração da folha de pagamentos, além da discussão mais importante sobre manter ou não o teto de gastos. O presidente teve que dar declarações que o teto de gasto será mantido e a responsabilidade fiscal observada e acrescentando que Paulo Guedes manda em 99,9% da economia. Mas é fato que o ministro ficou fragilizado pela saída de dois secretários e pela postura de outros ministros que querem ampliar gastos públicos.

Outra preocupação ficou por conta do encurtamento do prazo da dívida pública e seu tamanho, com muitos economistas dizendo ser insustentável. Mais para o final da semana, o noticiário dava conta de que o governo estará enviando MP com crédito extra de R$ 5 bilhões para infraestrutura, mas teria que acatar obras parlamentares no valor de R$ 1,3 bilhão.

A semana mostrou pesquisa Focus semanal do Bacen com poucas e melhores alterações, com o PIB agora projetado em -5,62% (anterior em -5,66%) e inflação em 1,63%. O saldo da balança comercial acumulado até a primeira semana de agosto estava em US$ 32,1 bilhões, com estimativa para o ano na Focus de US$ 55 bilhões. Tivemos também a ata da última reunião do Copom que reduziu a Selic para 2%, mantendo os termos do comunicado ainda suave, deixando aberta a possibilidade para mais redução de juros, apesar do balanço de riscos. Porém, achamos difícil que isso ocorra na reunião de setembro. A ata faz menção a necessidade de perseguir reformas estruturantes, mas os investidores passaram a buscar operações com taxas mais longas.

O IBGE anunciou as vendas no varejo de junho com incremento de 8% (maior que o previsto) e varejo ampliado (autos e construção) com 12,6%. Já o Bacen anunciou o IBC-Br de junho com queda de 10,94%e queda no semestre de 6,21%. Mas isso não muda muito as expectativas para o ano que agora gira com quedas pouco superiores a 5%.

A safra de balanços referentes ao segundo trimestre também influiu pontualmente no preço dos ativos, enquanto o preço do minério e petróleo mexeram com ações do segmento siderúrgico e mineração. Bons resultados de empresas do ramo de proteínas (Marfrig e JBS) e varejo também ajudaram as empresas, principalmente se a China não tivesse anunciado ter encontrado contágio pela covid-19 em embalagem de asas de frango impostadas. Os investidores estrangeiros sacaram recursos da Bovespa e, até 12/8, o saldo de agosto ainda estava positivo em R$ 1,88 bilhão, mas no ano, com saídas líquidas de R$ 83,03 bilhões.

Indicadores da semana  

IBOVESPA -0,13% (102.775)

DOW JONES +3,80%

NASDAQ +2,46%

DÓLAR +3,83%(R$ 5,42)

Perspectivas    

Para a próxima semana, continua valendo os vetores que temos abordado em nossos textos. Os investidores vão ter que avaliar a curva de contágio em países e restrições que podem ser impostas de convívio social, cotejadas com as expectativas de aplicação de vacinas no curto prazo. Também vamos ter que avaliar as disputas entre os EUA e a China, além da outra disputa entre democratas e republicanos sobre um novo pacote de estímulos para recuperação da economia.

Com a aproximação das eleições americanas de 3/11, essa situação acaba ganhando maior dimensão com Trump ampliando críticas contra a China e os democratas em jogo bem mais duro no parlamento americano. A agenda da semana contém alguns indicadores que podem influenciar os mercados, mas está bem distribuída ao longo do período, com destaque para indicadores PMI em diferentes países, prevista para o último dia da semana.

Aqui, também valem os mesmos pontos de atenção, principalmente sobre Paulo Guedes irritado, fragilizado e a eventual decaída de Bolsonaro para políticas populistas que vão contra a agenda liberal e os ajustes na economia.

Apesar disso, seguimos estabelecendo como pontos importantes para serem observados, a faixa de 100 mil/ 98 mil pontos do Ibovespa que, se perdida, pode provocar maior realização, e a faixa de 105 mil pontos que, se ultrapassada, coloca o mercado em posição para objetivos mais altos.

Lembramos que vamos precisar de maior fluxo canalizado, já que no último mês os ingressos encurtaram e há quase somente rotação de ações.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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