A semana pode ser considerada como bem positiva para os diferentes segmentos do mercado local, principalmente se compararmos com a performance dos mercados no exterior. Aqui seguimos com problemas políticos, apesar da trégua parcial obtida pelo presidente Bolsonaro com governadores e Legislativo, mas a crise sanitária continuou a bater recordes de contágio e óbitos. No exterior, países seguiram com abertura progressiva de suas economias e de olho na possibilidade de uma segunda onda, mas a situação diplomática com a China e preocupação com Hong Kong se fez ainda mais presente. Destaque positivo para o desenvolvimento de vacina contra o Covid-19 em diversas frentes.

Na economia, muitos posicionamentos de formadores de opinião aqui e no exterior sobre projeções de recuperação das economias, mas os dados coletados e divulgados seguiram fracos, induzindo dificuldades na recuperação rápida das economias, com a possibilidade de ser em “V”, ficando cada vez mais distante, mesmo para os países que fizeram e ainda estão fazendo enormes esforços.

No exterior, a maior preocupação saiu um pouco da problemática da pandemia, agora com inflexão da curva de contágio e óbitos, indo para o problema diplomático entre os EUA e a China. Durante o período, o presidente Trump e vários de seus secretários se posicionaram contra a China (“a praga espalhada pelo país”), a falta de transparência nas informações sobre o vírus e a responsabilidade sobre as mortes em todo o mundo. O Legislativo americano aprovou lei que dificulta a presença de empresas chinesas no mercado americano e estimulam a volta de empresas americanas ao país. Na mesma direção, impuseram mais restrições para a gigante de tecnologia chinesa Huawei em usar tecnologia americana para semicondutores.

Felizmente, ainda não mexeram nos acordos de comércio realizados na primeira fase entre os dois países, mas os chineses também foram duros na resposta das acusações pedindo comprovação e alterando práticas comerciais, mas ainda sem atingir os EUA. Outro ponto de discórdia ficou por conta da decisão chinesa de preparar nova lei de segurança nacional para Hong Kong, com os EUA se posicionando em direção oposta.

Na China, o primeiro-ministro Li Keqiang anunciou que a China não terá meta de crescimento para 2020 (2019 PIB cresceu 6,1%), mas falou em inflação ao redor de 3,5% e na criação de 9 milhões de empregos, com a taxa de desemprego podendo ficar em 6% (2019 de 5,2%)

Durante o período, vários dirigentes de bancos centrais se posicionaram sobre a crise global, passando a sensação de dificuldades na retomada rápida, e também que muito mais será preciso fazer em termos de política fiscal e monetária para dar suporte ao crédito e socorro para as empresas. Citamos, por exemplo, a Alemanha que vai adquirir 25% da aérea Lufthansa, nos moldes dos EUA na crise de 2008.

Aliás, falando nisso, foi anunciado que o tamanho do balanço do FED já passa de US$ 7 trilhões, bem acima dos pouco mais de US$ 5 trilhões da crise de 2008. E deve aumentar ainda bem mais nos próximos meses. Outros bancos centrais também seguem ampliando estímulos como o BOE (BC inglês), que além de colocar títulos com taxa negativa, estuda adoção de juros negativos, depois de avaliar outros exemplos de adoção.

A semana foi de divulgação de atas do FED e do BCE, ambos relatando as dificuldades e os esforços realizados, as incertezas com relação à retomada das atividades e preocupação com a elevação do desemprego e necessidade de amparar os mais vulneráveis.

Só para dar ideia, nos EUA está previsto que o desemprego pode ultrapassar os 20%, quando antes da crise estava no patamar de 3%. Os Bancos Centrais da África do Sul e da Turquia reduziram juros durante a semana em 0,50%, para respectivamente 3,75% e 8,25%, enquanto a Argentina sofre novamente com o peso desvalorizado pelo possível default técnico e negociações estendidas até 2 de junho. Os BCs do Japão e Coreia do Sul anunciaram novos programas de crédito para socorro de empresas.

O FMI é que disse já ter liberado recursos para 59 países, de 102 pedidos acumulados, e que tem US$ 100 bilhões para tal. O IIF (Institute of International Finance) registrou certa estabilidade e melhora na fuga de recursos dos países emergentes, com destaque para o Brasil, o mais sacrificado.

Semana também de divulgação de indicadores de atividade industrial, serviços e composto (indústria + serviços) em diferentes países para o mês de maio. No geral houve boas melhores em relação ao mês anterior em todos os indicadores, mas vindo com fraqueza e ainda mostrando contração das atividades, já que estão muito longe dos 50 pontos limítrofes. Destacamos ainda, quedas acentuadas como as vendas no varejo do Reino Unido em abril com -18,1% e vendas de imóveis usados nos EUA com -17,8%. Nos EUA os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior encolheram, 249 mil posições, mas ainda mostram pedidos da ordem de 2,44 milhões.

No âmbito político, pesquisa divulgada nos EUA mostra o candidato Biden 8 pontos à frente em relação à reeleição de Donald Trump, o que acaba pressupondo maior atitude beligerante de Trump e novas medidas de política fiscal pelo governo, para mitigar sofrimento da população. Destaque na semana para o rali de alta do petróleo, em recuperação no mercado internacional, com a cotação chegando aos US$ 35.

No cenário local, destaque para a reunião entre o presidente Bolsonaro e governadores, incluindo os presidentes da Câmara e Senado, para discutir socorro aos estados e municípios, com o presidente falando sobre veto ao reajuste salarial de servidores. Os governadores acataram o veto, até por conta da demora do presidente em vetar, alguns já tinham antecipado seus aumentos. Além disso, citamos o absurdo do plano de saúde vitalício da câmara do DF, aprovado para parlamentares, ex-parlamentares e famílias; principalmente dado ao momento. O presidente da Câmara Rodrigo Maia é que quer retomar os trabalhos da comissão mista que discute a reforma tributária (seria oportuno), e diz que a reforma administrativa tem que ser revista à luz dos efeitos da Covid-19, com déficit primário e endividamento explosivos.

O presidente do Bacen Campos Neto fez declarações importantes durante o período sobre nova queda da Selic, repetindo que será no máximo de 0,75% (igual queda anterior) e que pode fazer mais interferências no câmbio. Foi o suficiente (junto com atuação mais firme), para reduzir a escalada do dólar e trazer a moeda para posição um pouco mais confortável, na casa de R$ 5,50.

O secretário do Tesouro Mansueto de Almeida deu declarações lúcidas sobre o déficit público na faixa de R$ 700 bilhões e relação dívida e PIB na faixa de 90%, destacando que não existem problemas para rolagem de dívidas curtas, mas que assim que for possível, as reformas estruturantes devem ser endereçadas, para que o país não tenha problemas.

O ministro Paulo Guedes é quem foi cordial com o Legislativo, e ainda vendeu otimismo de possível recuperação em “V” do Brasil, coisa que no mundo todo quase ninguém acredita. Aliás, ao longo da semana, as projeções sobre o país só fizeram piorar, já havendo quem projete encolhimento do PIB em 2020 de mais de 8%.

Essa piora ficou clara logo no início da semana com a nova pesquisa Focus do Bacen indicando PIB em -5,12% (anterior em -4,11%), produção industrial em -3,68% (de -3,0%), inflação em queda para 1,59% e Selic prevista para o final de ano em 2,25%. Com respeito a crise sanitária, o Brasil bateu dramáticos recordes ao longo da semana chegando a mais de 20 mil óbitos e 310 mil infectados, com o estado de São Paulo antecipando feriados desde 20/5 para tentar suavizar o crescimento da curva.

O saldo da balança comercial acumulado até a segunda semana de maio estava em US$ 15,48 bilhões e fluxo cambial ainda negativo em US$ 10,4 bilhões. A posição cambial líquida até 15/5 estava em US$ 300,6 bilhões. A inflação medida pelo IGP-M da segunda prévia de maio estava em 2,51% e em 12 meses em 6,22%.

Na Bovespa, semana positiva e com os investidores estrangeiros voltando a alocar recursos, mas com saldo negativo em maio de R$ 8 bilhões e no ano acumulando saídas líquidas de R$ 77,4 bilhões.

EM TEMPO: O vídeo da reunião ministerial de 22/4, objeto de disputa entre o presidente e seu ex-ministro Moro, foi divulgado no site do STF. Manteve sigilo sobre partes que versam sobre outros países.

INDICADORES DA SEMANA

BOVESPA +5,95% (82.173)

DOW JONES +3,29%

NASDAQ +3,44%

DÓLAR R$ 5,58 (-4,43%)

PERSPECTIVAS

Temos que destacar que na última semana, a Bovespa mostrou um pouco mais de força ao conseguir se manter mais tempo acima da faixa do índice em 80 mil e 81 mil pontos, chegando mesmo a ficar acima dos 83 mil pontos, que tínhamos marcado como importante para dar maior consistência ao processo de recuperação. Também destacamos que os investidores estrangeiros voltaram a alocar recursos pela primeira vez nesse mês de maio, o que pode sinalizar o retorno, aproveitando a desvalorização cambial e queda de preços dos ativos.

No cenário externo, a preocupação segue sendo com as relações diplomáticas entre os EUA e a China (com Hong Kong agora acelerando desavenças), ao mesmo tempo em que a crise sanitária toma contornos mais suaves. Resta ver qual será o resultado das aberturas das economias e se alguns países terão ou não a segunda onda de contágio. O presidente Trump já disse que se houver segunda onda não fechará sua economia.

Aqui, a trégua parcial entre os três poderes pode agregar maior tranquilidade e a equipe econômica pode trabalhar com maior eficiência. Também já atravessamos o pico da safra de resultados do primeiro trimestre de 2020, o que traz maior segurança para projeções de resultados das empresas pelo restante do ano e aprimoramento de preços dos ativos de risco. Fica faltando boas notícias sobre os recursos estarem chegando em quem precisa e retomar conversas sobre reformas estruturantes.

Do ponto de vista da análise técnica, se conseguirmos passar a faixa dos 84 mil pontos, podemos pensar em força para tentar galgar a casa de 92 mil pontos e, depois, teria muito mais espaço para altas. Mas precisaríamos do concurso dos investidores estrangeiros e do governo unido e sem provocar sustos.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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