A semana foi de verdadeiramente conturbada nos mercados de risco de todo o mundo, mexendo com preços de commodities, taxa de juros e mercados acionários. Em boa parcela por conta da contaminação pelo coronavírus (com breves momentos de alívio) e também por indicadores de conjuntura. Aqui, além dos efeitos do coronavírus, ainda tivemos que conviver com indicadores de conjuntura não tão positivos e declarações polêmicas de membros do governo; além de outros acidentes no percurso.

No cenário externo, o grande motivo de estresse dos investidores seguiu sendo a expansão do coronavírus dentro da China e de forma mais suave no restante do mundo, de tal ordem que chegamos a 14/2 com cerca de 63.851 infectados na China, com 1.380 mortes registradas, enquanto no exterior 505 infectados em somente duas mortes. Ao longo da semana, foram divulgadas notícias de que o vírus estava perdendo força (curva de contágio desacelerando), e isso suscitou melhora nos mercados em todo o mundo. Ocorre que logo em seguida tivemos novas notícias dando conta de piora da situação por conta de mudança de método de diagnóstico, e mercados rapidamente voltaram ao estresse.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), fez vários alertas dizendo ser cedo para prever o fim da epidemia pelo vírus, mas também estimando que em cerca de três meses seria possível testar vacina em humanos. Citamos também declarações de vários dirigentes de bancos centrais dizendo não ser possível projetar os efeitos do coronavírus sobre a economia global, apesar das indicações de que a China sofreria impacto no primeiro semestre, algo razoavelmente óbvio para todos. Porém, é certo que tivemos muita variação nos preços das commodities e expectativa de algum desabastecimento de insumos e produtos intermediários, principalmente por conta do prolongamento do feriado e demora dos trabalhadores chineses em voltarem ao trabalho.

O governo de Xi Jinping pediu que empresas e lojas retomem suas atividades e o governo seguiu flexibilizando a política monetária e anunciou retomada de investimentos. O FMI indicou que isso pode acontecer na China caso o coronavírus afete o PIB. O lado positivo é que há tempo para recuperação ainda em 2020, com o ano apenas começando. De certa forma, até por prudência, as projeções de crescimento global estão sendo ajustadas para pior, com a OPEP, por exemplo, projetando em seu relatório mensal que o PIB global de 2020 deve ficar em 3%, levando em conta ainda o menor nível de atividade nos países da União Europeia e Índia. Casualmente, isso também está ocorrendo com as projeções de crescimento do Brasil, por motivos diversos.

No que tange a indicadores de conjuntura, a China divulgou a inflação de janeiro pelo CPI (consumidor) anualizada em 5,4% e no atacado (PPI) com alta de 0,1%. No Reino Unido, o PIB do quarto trimestre ficou estável e a taxa anual em 1,1%. Na zona do euro, a produção industrial de dezembro encolheu 2.1%, de projeção de queda de 1,6%. Aliás, sobre a zona do euro a presidente do BCE (Banco Central Europeu) Christine Lagarde, disse que a região está desacelerando desde o início de 2018, mas a União Europeia manteve sua previsão de crescimento do PIB em 2020 e 2021 de 1,2%, com inflação levemente em alta para 1,3% (anterior em 1,2%). Na Alemanha, deflação em janeiro de 0,6%, mas na comparação anual a inflação está em 1,7%.

Nos EUA, durante o período houve a divulgação do índice de tendência de emprego de janeiro do Conference Board com alta para 110,2 pontos e o indicador Jolts de abertura de vagas encolhendo para 6,4 milhões (anterior em 6,8 milhões) em dezembro. Tivemos ainda a inflação medida pelo CPI de janeiro em +0,1% e na comparação anual em 2,5%, com núcleo em 2,3%. Os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior cresceram 2.000 posições para 205.000 pedidos, abaixo do previsto.

Ainda nos EUA, o presidente do FED Jerome Powell foi sabatinado pelo Congresso e repetiu basicamente os termos de declarações anteriores dizendo que a economia está em boa forma, mas que poderia ser ajudada por orçamento sustentável. Disse que o sistema financeiro está fortalecido desde a última crise e não vê a China como risco sistêmico para a economia global.

Na mesma direção, foram vários dirigentes regionais do FED. O secretário do Tesouro dos EUA Mnuchin, disse que corte de impostos, reformas e acordos comerciais melhoram a vida dos americanos e o governo se compromete a trabalhar com os Democratas para lidar com o déficit público. Acrescentou que o ano de 2021 terá crescimento ainda maior e o presidente Trump quer centrar investimentos em infraestrutura. As vendas no varejo de janeiro cresceram 0,3%, os preços dos importados ficaram estagnados e a produção industrial encolheu 0,3% em janeiro.

Falando de Brasil, na área política a situação fervilhou. Com o Congresso retomando temas adiados pelo recesso. Rodrigo Maia quer votar a autonomia do Bacen logo após o Carnaval, o governo prometeu entregar proposta de IVA (Imposto de Valor Agregado) para ser acoplada à reforma tributária que tramita no Congresso, o relator da PEC (proposta de emenda constitucional) dos Fundos foi criticado, pois, na prática poderia acabar com o teto de gastos e o projeto de orçamento impositivo será discutido também depois do Carnaval (senso de urgência nenhum sobre temas fundamentais). O ministro Moro também falou sobre prisão em segunda instância e governo deve retomar em 15 dias o projeto da reforma Administrativa e o pacto Federativo.

O ministro Paulo Guedes teve encontro duro com governadores sobre reforma tributária tentando contornar declarações do presidente Bolsonaro sobre ICMS nos combustíveis e prometeu discutir isso no projeto da reforma tributária. Paulo Guedes acabou alvo da oposição quando deu declarações polêmicas sobre o câmbio e juros, mas também disse que o custo de energia pode cair cerca de 40% em um ano e meio, e que com dólar na faixa de R$ 4, seria bom para reindustrializar o país.

As declarações de Paulo Guedes e Campos Neto do Bacen produziram ruídos no mercado e obrigaram o Bacen a intervir no câmbio com operações de swap tradicional, quando o dólar chegou a atingir R$ 4,38.

Em termos de indicadores de conjuntura tivemos a ata da última reunião do Copom repetindo termos do comunicado anterior e acrescentando referências ao coronavírus, mas a leitura é que nas próximas reuniões não deve ocorrer mudança na Selic do patamar de 4,25%. A pesquisa semanal Focus do Bacen veio com poucas alterações e piora das contas externas.

Já o IBGE anunciou as vendas no varejo de dezembro com queda de 0,1% e expansão no ano de 1,8%. O varejo ampliado observou expansão maior pela indústria automotiva e expandiu 3,9%. De qualquer forma a queda interrompeu sequência de sete meses seguidos de expansão e estamos 3,7% abaixo do pico ocorrido em outubro de 2014. Já o volume de serviços prestados caiu 0,4% em dezembro e registrou alta em 2019 de 1%. Serviços às famílias caiu em dezembro 1,3%, mas mostrou crescimento em 2019 de 2,6%. Podemos repreender que a liberação de recursos pelo governo de saques de FGTS e PIS/PASEP não teve grande impacto.

Já o IBC-Br de dezembro (prévia do PIB), veio reforçando a tese de fragilidade da recuperação econômica, com queda de 0,27% e 2019 sem ajuste com +0,89%. A média trimestral com ajuste ficou em -0,07%. No mercado, citamos a performance volátil da Bovespa e do câmbio durante a semana, acelerada também por vencimento de derivativos que ocorrem na próxima semana, tendo o Carnaval logo em seguida. Com isso, as ações de maior ponderação no índice tiveram altas e baixas, mas foi possível observar ligeira recuperação das commodities beneficiando ações da Vale e Petrobras, principalmente. Já os estrangeiros seguem sacando recursos da Bovespa e até 12/2 já tinha saído R$ 6,2 bilhões, acumulando saque sem 2020 de R$ 25,4 bilhões.

INDICADORES NA SEMANA

IBOVESPA +0,52% (114.380)

DOW JONES +1,01%

NASDAQ +2,22%

DÓLAR R$ 4,30 (estável)

PERSPECTIVAS

A próxima semana deve ser de desaceleração de negócios por conta da proximidade do feriado de Carnaval. Porém, embute o vencimento de opções para o prazo de fevereiro que sempre gera alguns ajustes de posições.

Apesar disso, o cenário para os mercados de risco está centrado no desenvolvimento da infecção por coronavírus assustando investidores. As expectativas com relação a isso são mais positivas, pois a tendência é de desaceleração da contaminação, principalmente fora da China e com muito menor incidência de mortes. Já na China, o governo anuncia que conseguiram desenvolver tratamento que melhora muito a situação dos pacientes, ao mesmo tempo, em que vacinas já começam a ser testadas em animais, passo inicial para testes com humanos.

De qualquer forma, ainda não é possível estimar os impactos sobre a economia global do efeito coronavírus. Projeções indicam que se a contenção do vírus na China for rápida, o PIB de 2020 pode crescer 5,7%, pouco abaixo do previsto. Mas há espaço para diminuir essa queda com maior flexibilização monetária e investimentos maciços, o que o governo chinês demonstra querer fazer.

Aqui, teremos semana de resultados da Vale e Petrobras dentre outras, e na política, a semana promete não ser de grande valia. Quase todas as decisões e comissões que vão discutir reformas e mudança ficaram para depois do Carnaval, e já terá decorrido dois meses de um ano curto, que promete terminar em julho, quando aparentemente nenhuma medida importante será adotada, já que o processo eleitoral estará em curso. Podemos agregar também as eleições americanas para incorporar maior instabilidade.

Do ponto de vista da análise técnica, diríamos que seria importante retomar patamar acima de 117.000 pontos e depois tentar buscar novos recordes superiores a 119.593 pontos. Para que isso ocorra, será preciso o concurso dos investidores estrangeiros e maior serenidade nos mercados aqui e no exterior.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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