Semana curta e complicada para os mercados de risco em todo o mundo. Curta por conta do feriado de Martin Luther King nos EUA (e no Rio de Janeiro), e complicada por alguns eventos inesperados no exterior que atuaram na precificação dos ativos. Aqui, seguimos sem grandes notícias, já que o Congresso e o Judiciário seguem em recesso.

Começamos a semana com baixa liquidez por conta do feriado americano, exatamente no mesmo dia do vencimento de opções para o prazo janeiro na Bovespa, com volume de exercício alto de R$ 12,7 bilhões, exigindo ajustes posteriores de posições e mexendo com os mercados. Mas o fato que mais impactou o mundo, foi a notificação de um vírus com origem na China (província de Wuhan), o coronavírus.

Durante a semana foi possível detectar que o coronavírus se espalhou por diferentes países e regiões (inclusive da China), como Macau, Taiwan, Japão, Coréia do Sul, Tailândia, Hong Kong, Cingapura, Arábia Saudita e EUA. A última estatística indica mais de 900 infectados e 26 mortos. O governo da China cerceou a população de Wuhan e de mais duas outras cidades e cancelou as comemorações pelo Ano Novo Lunar que começam a acontecer em 24/1. São cerca de 20 milhões de pessoas e cerco também em Xangai e Pequim. Outros países estão adotando providências com relação à imigração.

A grande preocupação dos investidores está em dimensionar que impacto isso traria para a economia global em termos de redução do crescimento e principalmente o que ocasionaria na China que já vem desacelerando o crescimento, apesar de o mês de dezembro ter aparentemente iniciado uma retomada dos investimentos e crescimento. Com isso, não foram só as ações que sofreram durante a semana, mas também o mercado de câmbio e juros, até por conta da busca por maior proteção dos investimentos. Nesse momento é bastante difícil projetar consequências.

Outro fator que mexeu com os mercados foi a reunião anual de Davos, com presenças marcantes de formadores de opinião. Mais que as declarações oficiais, as entrevistas e encontros paralelos trazem maiores expectativas. Foi lá que Donald Trump e seus principais secretários deram declarações. Trump falou dos acordos firmados com Canadá, México e a primeira fase do acordo com a China e anunciou que pretende fazer corte significativo de impostos, a serem anunciados em até 90 dias. Seu secretário Kudlow, chegou a aventar a possibilidade de crescimento de 3% em 2020, enquanto Mnuchin disse já estar trabalhando sobre os cortes de impostos e na segunda fase do acordo com a China. Mas Trump também falou que as negociações com a Europa eram até mais difíceis e ameaçou tarifar carros da região, caso a Europa tarife o setor de tecnologia.

Durante o período, a rainha da Inglaterra assinou o Brexit que agora é lei e Angela Merkel da Alemanha, disse que com o Brexit o Reino Unido terá que se tornar mais competitivo. Já falando da zona do euro, tivemos a reunião do BCE (Banco Central Europeu) sobre política monetária, com a manutenção dos juros negativos em 0,5% e refinanciamento em zero e compra de ativos de 20 bilhões de euros por mês.

A presidente Christine Lagarde disse que a fraqueza da indústria é empecilho ao crescimento e que a política monetária acomodatícia seguirá por longo tempo. Falou ainda do protecionismo e indicou que países com dívida alta devem ser prudentes. Vão seguir sem mudanças no QE (quantitative easing), mas estão promovendo revisões na política para torná-la mais eficiente.

O BOJ (Banco Central Japonês), manteve a política monetária estabilizada, o que significa juros negativos em 0,10% e taxa dos títulos JGBs próxima de zero. Também manteve a compra anual de ativos no montante de 80 trilhões de ienes, mas elevou a estimativa de PIB de 2019 para 0,8% (de +0,6%). O presidente Kuroda vê riscos geopolíticos significativos e diz que relaxará a política monetária sem hesitar, se necessário. Também tivemos ataques de milícias na Líbia e Iraque interrompendo produção de campos, mas os preços acabaram cedendo por conta do coronavírus.

Na economia, a inflação medida pelo PPI de dezembro na Alemanha mostrou alta de 0,1%, mas a taxa anual ficou em -0,2%. O índice ZEW de expectativas econômicas subiu para 26,7 pontos em janeiro, e o de condições atuais em alta para -9,5 pontos.

Nos EUA, o índice de atividade industrial nacional de Chicago caiu para -0,3 ponto em dezembro, vindo de +0,41 ponto. Os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior cresceram 6.000 posições para 211.000, de previsão de 215.000. Já o índice de indicadores antecedentes de dezembro do Conference Board caiu para -0,3 ponto, de previsão de -0,2 ponto. O indicador de atividade de Kansas de janeiro subiu para -1 ponto, de anterior em -8 pontos. Os estoques de petróleo da semana anterior encolheram 0,4 milhão de barris e a utilização da capacidade caiu para 90,5%.

No Brasil, destaque para a presença do ministro Paulo Guedes na reunião de Davos “vendendo” o Brasil para investidores e falando em crescimento de 2,5% (maior que a previsão oficial) e destacou as reformas e ajustes que estão sendo feitos. Diz querer acelerar acordo comercial com o Reino Unido e que o otimismo com o país voltou por parte dos investidores e até mesmo com declarações positivas das agências de classificação de risco. O presidente Bolsonaro também foi para a Índia fechar acordos do agronegócios e tecnologia.

O presidente da Câmara Rodrigo Maia quer aprovar a independência do Bacen e a lei cambial ainda no primeiro semestre de 2020, além disso, quer instalar a comissão mista da reforma tributária na primeira semana de fevereiro. Nos parece pouco, já que o segundo semestre deve ser dominado pela eleição e não deve ser possível aprovar mudanças substantivas. O presidente Bolsonaro convidou Regina Duarte para a secretaria de Cultura.

Aliás, a CNT/MDA divulgaram pesquisa sobre o governo, com a aprovação do presidente crescendo para 47,8% e a avaliação positiva do governo indo para 34,5% (de anterior em 29,4%) a avaliação negativa caiu para 31% e a desaprovação do presidente encolheu para 47%. A pesquisa retrata em boa parte a melhora na economia. Se as eleições de 2022 fossem hoje, Bolsonaro teria 29,1% das intenções de voto e Lula ficaria com 17%. No STF, em recesso o ministro FUX suspendeu por prazo indeterminando a implantação do juiz de garantias e fez outras alterações.

Na economia, o saldo da balança comercial até a terceira semana de janeiro mostrava superávit de US$ 934 milhões, o FMI elevou a projeção de PIB de 2020 para 2,2% (anterior em 2,00%) e a FGV anunciou a segunda prévia do IGP-M de janeiro em queda para 0,57% e em 12 meses em 7,91%. Já o monitor do PIB da FGV de novembro mostra expansão de 1,6% contra igual período. O fluxo de capitais até 17/01 estava positivo em US$ 235 milhões, fruto do fluxo financeiro de US$ 419 milhões.

A prévia da inflação oficial medida pelo IPCA-15 de janeiro mostrou arrefecimento para 0,71% (anterior em 1,15%), acumulando em 12 meses alta de 4,34%. Foi o pior janeiro para a inflação desde 2016. Os preços livres em janeiro expandiram 0,82% e os administrados ficaram em 0,40%. A carne apesar de ter desacelerado ainda trouxe distorções e o etanol subiu 4,98. Já a Receita Federal, anunciou arrecadação em 2019 de R$ 1,54 trilhão com alta real de 1,69% e as desonerações em 2019 chegaram a R$ 96,5 bilhões e em dezembro com R$ 9,5 bilhões. Foi a maior arrecadação desde 2014, apesar de dezembro ter sido fraco. Em 2019, segundo dados do CAGED, foram criados 644 mil empregos, abaixo da expectativa do governo de criação de 1 milhão.

No mercado acionário, muita volatilidade ao longo do período envolvendo as três principais empresas do índice, Banco Itaú, Vale e Petrobras. Bancos de forma geral seguiram em queda e depois recuperaram, Vale sofrendo com o preço do minério de ferro na China e denúncias de Brumadinho e Petrobras com o preço do petróleo no mercado internacional e a oferta de ações do BNDES, que pode atingir R$ 23 bilhões.

Mas, o que mais preocupa é a fuga de recursos de investidores estrangeiros da Bovespa que até 22/1 já chegava a R$ 10 bilhões, depois de saídas líquidas em 2019 de R$ 44,5 bilhões. Pode não estar saindo do Brasil ou mesmo de ações (IPOs e follow on), mas deixa de pressionar a estrutura de preços do mercado secundário.

Mesmo considerando isso, o período cravou novo recorde de pontuação para o Ibovespa em 119.593 pontos.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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