Ontem, foi dia de caos nos mercados de risco em todo mundo, com destaque para a queda na Bovespa de 14,78%, dois circuits breakers acionados (e quase suspensão do pregão), com o índice fechando em 72.582 pontos. O Dow Jones encerrou com perda de 9,99% e o Nasdaq com -9,43%. Desde 26/2, a queda no valor de mercado das ações listadas na Bovespa atinge R$ 1,32 trilhão. Só ontem, o valor de mercado chegou a encolher R$ 489 bilhões.
Certamente são muitas alternativas para serem avaliadas pelos investidores. A expansão do coronavírus fora da China e as ações de governo para evitar propagação e impacto econômico, projeções cadentes do PIB em 2020 (aqui já se projeta abaixo de 1% de expansão), a atitude dos bancos centrais na política monetária, etc.
Para completar temos a guerra fria entre Arábia Saudita e Rússia sobre o preço do petróleo e pressões de países petróleo dependente para suas economias funcionarem. Isso acaba afetando todo o segmento de commodities.
Também temos mercados totalmente desequilibrado na formação de preços gerando pesados prejuízos e perda de sensação de riqueza e Bolsas pelo mundo chamando margem nas operações alavancadas de derivativos e forçando vendas adicionais para fazer caixa. Aqui, como temos liquidez comparativamente bem maior que em outros mercados de países emergentes, acabamos por sofrer mais quando existe a postura de saídas rápidas.
Hoje, mercados da Ásia terminaram a semana absorvendo as fortes perdas de ontem do mercado americano (exceto a Bolsa de Sidney que recuperou), Europa operando em boa alta, mas ainda bem longe de cobrir as perdas da sessão de ontem e mercados futuros americanos com boa alta nesse início de manhã. Aqui não deve ser diferente e a recuperação do petróleo no mercado internacional ainda ajuda mais.
No exterior, o BOJ (Banco Central Japonês) anunciou ajuda para as empresas afetadas pelo vírus, ampliou a liquidez do sistema financeiro com a compra de 500 bilhões de ienes, mas hesita em mexer nos juros já negativos em 0,10%. Nos EUA, o FED está mais ativo com operação de recompra de grandes lotes e prometendo injetar liquidez que atinge US$ 1,5 trilhão. Mas a Câmara americana ainda discute e não votou medidas para a crise, o que deve acontecer somente hoje.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 4,95%, com o barril cotado a US$ 33,06. O euro era transacionado em queda para US$ 1,116 e notes americanos de 10 anos com juros em queda para 0,84%. O ouro e a prata em quedas na Comex e commodities agrícolas em altas na Bolsa de Chicago.
Internamente o governo criou um comitê de crise para monitorar impacto na economia do coronavírus para lidar com as áreas: fiscal, orçamentária, creditícia, a gestão pública e tributária. Liberou também R$ 5 bilhões para a saúde e vai usar o que for possível de folga fiscal. Também antecipou o pagamento de 13º salário do INSS para abril e quer reduzir teto de juros do consignado. Finalmente parece que estamos atuando na crise.
Hoje, não temos agenda de eventos com capacidade de influir nos mercados e, portanto, vamos ficar ao sabor do noticiário de momento. Só temos a confiança do consumidor de Michigan de março.
O dia deve ser de recuperação parcial da Bovespa, dólar ainda pressionado e juros em queda.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado