Bottom line:

  • A reunião de setembro do FED teve resultado dovish, mas praticamente em linha com parte das expectativas. Houve reforço do forward guidance e reconhecimento no comunicado do average inflation targeting.
  • Em termos de implicações da decisão de hoje, vemos a confirmação do que foi comunicado por Powell em Jackson Hole. A adoção do average inflation targeting essencialmente retira amarras do FED e permite um overshooting commitment de forma semelhante ao que foi testado pelo Japão em 2016. De todo modo, a sinalização é de que mantidos os parâmetros atuais (sem riscos de explosão inflacionária), a política monetária dos EUA permanecerá amplamente estimulativa para além do horizonte de projeção.

Comentário:

A reunião de setembro do FED teve resultado dovish, mas praticamente em linha com parte das expectativas. Houve reforço do forward guidance e reconhecimento no comunicado do average inflation targeting.

O comunicado traz informações relevantes que merecem atenção específica. Primeiramente, nota-se a existência de dois dissenters. Robert Kaplan argumenta a favor de manutenção de graus de liberdade para o FED uma vez seja atingido novamente trajetórias consistentes com o pleno emprego e estabilidade de preços. Já Neel Kashkari defende a adoção da inflação subjacente como parâmetro da meta.

Em termos de cenário econômico, mantém-se a perspectiva de que atividade e mercado de trabalho permanecem consideravelmente abaixo (“well bellow”) dos níveis que prevaleciam pré-crise.

O FED reconhece que terá de manter a inflação acima de 2% por algum tempo para compensar o período abaixo deste nível e garantir a média (o que é lógico uma vez que o conceito de média é adotado). Durante a conferência de imprensa, Powell fez questão de frisar que não há um número específico para o que significa “moderadamente acima de 2%” e que o comitê não deseja se ater a uma regra especifica neste sentido. Evidentemente, a sinalização é dovish.

Sobre o balanço, a sinalização reconhece que a compra de ativos ajuda a manter condições financeiras estimulativas. Por outro lado, retira a referência para operações de overnight e repo.

Finalmente, o Comitê reconhece que poderia atuar novamente caso riscos no cenário se materializem e impactem a trajetória em direção aos objetivos do FED. Dentre os riscos, o FOMC indica que está monitorando também aspectos de saúde pública e desenvolvimentos internacionais.

As projeções apresentam revisão no PIB de 2020 para cima com expectativa de uma contração consideravelmente menor do que o projetado em junho. Em contrapartida, as projeções de crescimento foram revistas para baixo em 2021-2022. As revisões no desemprego foram todas no campo positivo, refletindo as surpresas dos indicadores de mercado de trabalho ao longo dos meses. Finalmente, a inflação (subjacente e headline) chega em 2% somente em 2023 (i.e. não fica acima da meta para compensar o período abaixo de 2% ao longo do horizonte de projeção).

Olhando para os dots, a inclusão de 2023 mostra que quatro membros do comitê veem elevação da taxa de juros no final do horizonte de projeção. Há pouca (para não dizer nenhuma) chance de que qualquer dos quatro dots que mostram alta sejam de algum dos membros do board. De resto, há clara indicação de que no período de 2020-2022 não teremos movimentação de juros e a taxa de longo prazo permanece inalterada.

Em termos de implicações da decisão de hoje, vemos a confirmação do que foi comunicado por Powell em Jackson Hole. A adoção do average inflation targeting essencialmente retira amarras do FED e permite um overshooting commitment de forma semelhante ao que foi testado pelo Japão em 2016. De todo modo, a sinalização é de que mantidos os parâmetros atuais (sem riscos de explosão inflacionária), a política monetária dos EUA permanecerá amplamente estimulativa para além do horizonte de projeção.

Felipe Sichel
Estrategista do banco digital modalmais
Fonte: https://www.modalmais.com.br/blog

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