Na semana passada, a Bovespa observou queda de 5,92%, acumulando perdas em 2020 de 15,26% e fechando aos 97.996 pontos. O Dow Jones teve alta na semana de 1,97%. Nada perto da abertura dessa semana na qual todos os mercados desabam.
Além dos impactos já detectados em função do coronavírus, temos agora a “guerra do petróleo”, depois que a Rússia não aceitou a proposta da OPEP de corte na produção da OPEP+ de 1,5 milhão de barris/dia. A AIE-Agência Internacional de Energia está cortando a projeção de demanda por óleo em 1,1 milhão de barris. Durante a madrugada o preço do barril de petróleo chegou a estar em queda de mais de 305, na maior queda diária desde 1991, na guerra do Golfo.
A Arábia Saudita anunciou que vai produzir mais e atingir até novo recorde e concedeu desconto aos clientes. As ações da Aramco caiam forte e já abaixo do preço de lançamento de suas ações. Isso pressionou todos os mercados da Ásia e a Bolsa de Tóquio registrou queda de 5,07% na madrugada. A Europa mostrava quedas da ordem de 6% e os futuros do mercado americano tinham quedas de algo como 5%. Aqui, dada a concentração do Ibovespa nas ações de Vale e Petrobras, não podemos descartar a possibilidade de circuit breaker (interrupção temporária, acelerada pela chamada de margens em derivativos). Os ADRs Petrobras perdiam mais de 14%, e os de Vale com queda de mais de 10%.
Com relação ao coronavírus, a China relatou mais 44 casos novos, o menor nível desde quando o surto começou. Em compensação, no restante do mundo, como previsto, o vírus expande e na Itália cerca de ¼ da população está em quarentena, com foco na Lombardia. No Irã, outro país bastante afetado, as mortes também cresceram no final de semana para 194.
O Japão ajuda a pesar os mercados com a segunda leitura do PIB do quarto trimestre mostrando contração de 7,1%, depois de leitura anterior de -6,1%. O presidente do BOJ (Banco Central Japonês) indicou que pode flexibilizar ainda mais a política monetária, mas as projeções são de que o país pode estar entrando novamente em recessão.
Toda essa situação acaba afetando o volume de investimentos diretos (IED) no mundo e principalmente em países emergentes. Grandes multinacionais consultadas pela UNCTAD indicam mudanças de projeções de resultados em queda de 9% e as que atuam mais fortemente em emergentes com queda de 16%.
Na Alemanha uma boa notícia com relação a produção industrial que expandiu 3% em janeiro, frente a projeção de alta de 1,8%. Mas as exportações permaneceram estabilizadas, quando o esperado era +0,6%. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY tinha queda de 22,8%, com o barril cotado a US$ 31,986. O euro operava em alta para US$ 1,142 e notes americanos com taxa de juros de 0,44%. O ouro e a prata também não resistiam e operavam em queda na Comex e commodities agrícolas em queda na Bolsa de Chicago.
Falando de Brasil, só para complicar um pouco mais as relações entre os três poderes, o presidente Bolsonaro falou novamente na convocação da população para as manifestações marcadas para 15/3, o que vai gerar e está gerando mais ruídos, com a oposição pedindo o impeachment do presidente. A PEC emergencial fiscal passa a ser prioridade de aprovação diante do enorme constrangimento global.
Na economia, o IGP-DI de fevereiro foi de 0,01%, gerando inflação de 0,11% em 2020 e de 6,40% em 12 meses. Lembramos ainda que a partir de hoje, o pregão da Bovespa encerra as 17h no horário de Brasília. Além disso, a chamada de margem em operações com derivativos e resgate de fundos são pressões adicionais.
A expectativa para o dia é de Bovespa em larga queda (não descartar circuit breaker), dólar ainda pressionado, apesar de o Bacen ter anunciado venda de US$ 3 bilhões da moeda e juros em queda.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado