O dia transcorreu da forma que estávamos prevendo desde cedo. Os investidores iriam agir em função da divulgação do vídeo da reunião de 22/4, objeto das demandas de Moro e Bolsonaro e liberada quase integralmente pelo ministro Celso de Mello do STF. A divulgação ocorreu no fim do pregão da Bovespa e não deu tempo para o mercado se ajustar para o que foi interpretado como favorável ao presidente, afastando risco de impeachment.

Além disso, existia uma fala do ministro Paulo Guedes sobre a privatização possível do Banco do Brasil.

A fala de Paulo Guedes também reverberou hoje com declarações no final de semana do líder do governo Fernando Bezerra, muito embora na nossa visão, as chances de que isso ocorra nesse mandato sejam escassas. De qualquer forma, com a recuperação do setor hoje, as ações de Banco do Brasil subiram mais. Isso por conta de não constar da pauta do Senado para a semana o aumento da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e limitação de juros do cheque especial e cartão de crédito. Os investidores ficaram aliviados.

O dia também foi atípico em função do feriado do Memorial Day nos EUA, retirando parte da liquidez e do referencial de preços. Mas ainda assim as principais Bolsas europeias encerraram o dia com forte valorização, apostando na abertura das economias sem trauma, apesar da OMS seguir alertando para os riscos de uma segunda onda. Aliás, a OMS declarou que a transmissão da covid-19 no Brasil é intensa e a quarentena pode ser uma opção, justamente quando algumas regiões se preparam para reabrir a economia.

A Rússia diz acreditar que o petróleo pode atingir equilíbrio entre oferta e demanda entre junho e julho, e também foi anunciado que os produtores americanos de óleo cortaram mais que o previsto. Isso explica o rali de preços da semana passada e também o aumento na sessão de hoje. O BCE se preocupa com a liquidez do sistema financeiro, pois pode se tornar um problema de solvência para o sistema. Os investidores ainda tiveram que ajustar expectativas para os conflitos entre EUA e China, com o agregado Hong Kong (implantação de lei de segurança e fiscalização). A China também falou de maneira mais dura, exigindo que os EUA retirem sanções aos fornecedores de tecnologia.

Na Alemanha, o fundo de estabilização do governo aprovou o resgate da companhia aérea Lufthansa. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 1,41%, com o barril cotado a US$ 33,72. O euro era transacionado em US$ 1,09, praticamente estável. O ouro e a prata fecharam com quedas na Comex e a Bolsa de Chicago permaneceu fechada.

No segmento doméstico, a B3 inaugurou o contrato de opção do Copom que vai dar maior previsibilidade para as expectativas de juros. Em palestra, o presidente do Bacen, Campos Neto voltou a afirmar que na próxima reunião o limite máximo de queda da Selic seria de 0,75%, igual ao movimento anterior. Também afirmou que a conjuntura prescreve estímulos monetários extraordinariamente elevados. Já o Financial Time, em artigo disse que o populismo de Bolsonaro está levando o país ao desastre.

A pesquisa Focus, como esperado veio pior. Inflação oficial em queda para 1,57% em 2020, Selic estável em 2,25% e PIB encolhendo mais par -5,89%, de anterior em -5,12%. O dólar de final de ano foi projetado em R$ 5,40 (de R$ 5,28), e a produção industrial com contração de 3,68%. As contas externas melhorando um pouco com o superávit comercial em US$ 45,50 bilhões e déficit nominal de 12% do PIB.

Na terceira semana de maio, a balança comercial observou déficit de US$ 701 milhões, mas o saldo do ano mostra superávit de US$ 14,59 bilhões.

No mercado, dia de DIs com queda de juros e dólar com queda forte ao longo de todo o dia, para fechar em -2,18% e cotado a R$ 5,46. No mercado acionário, dia de alta da Bolsa de Paris de 2,15%, Frankfurt com +2,87%, Madri com +2,24% e Milão com 2,98%. Os futuros do mercado americano mostraram o Dow Jones com +1,15%, Nasdaq com +1,32% e S&P com +1,24%. Na Bovespa, dia de alta de 4,25% e índice em 85.663 pontos. Máxima do dia chegando em 85.875 pontos.

Na agenda de amanhã teremos o IPC da terceira quadrissemana de maio, o INCC de maio e o IPCA-15 prévia da inflação oficial. Além disso, a nota do setor externo de abril. Nos EUA, o índice Case-Shiller de preço de imóveis de março, a confiança do consumidor do Conference Board de maio, o índice de atividade de Dallas de maio e vendas de casas novas em abril.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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