Hoje foi dia de completo desalinho dos mercados em todo o mundo.
Tudo começa com a decretação de pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o que, na prática não muda muita coisa em relação aos controles da infecção pelo coronavírus. Porém, no início da noite, o governo americano suspendeu todos os voos provenientes da Europa (exceto do Reino Unido) por 30 dias e adotou outras providências para tentar evitar maior contaminação no país. Proibiu também encontros com mais de 500 pessoas e Trump ainda declarou que os democratas estavam aproveitando o momento para incluir “jabutis” no projeto de lei do coronavírus. Trump elucidou depois que essa suspensão não envolvia o comércio com a Europa.
O BCE também fez sua reunião sobre política monetária e manteve a taxa de depósito em -0,50% e a de refinanciamento em zero. Além disso, vão oferecer empréstimos de longo prazo (TLTROs) e fará compras adicionais de 120 bilhões de euros até o final de 2020. Também declarou não ver sinais concretos de tensões nos mercados monetários e não enxerga escassez de liquidez. Repetiu que os juros vão estar no nível atual ou mais baixo durante muito tempo. Os investidores esperavam mais.
O FED anunciou novo cronograma de recompras de títulos (repo), ampliando operações de overnight e títulos de duas semanas. Também incluiu na programação as operações de grandes volumes, acrescentando a injeção nos mercados que passa para US$ 1,5 trilhão. Mas essa notícia veio um pouco tarde, quando os índices futuros e o próprio índice já batiam limites de baixa e o circuit breaker foi acionado.
Já o IIF (Institute of International Finance) divulgou estudo mostrando que a saída de capital de emergentes já supera o ocorrido em 2008. Porém, as condições de mercado eram bem diferentes de agora. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 5,94%, com o barril cotado a US$ 31,02. O euro era transacionado em queda para US$ 1,119 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,90%. O ouro e a prata com quedas fortes na Comex, também pressionados pela necessidade de fazer caixa. Commodities agrícolas com quedas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado na China com dia de alta de 0,78% e tonelada fechada em US$ 90,75.
No cenário doméstico, destacamos a integração entre o Tesouro e o Banco Central, e isso já originando recompra de títulos e suspensão de leilão de colocação. O Bacen também engrossou o volume de operação de venda de dólares, que logo cedo já tinha vazado para cima de R$ 5. Aqui, os investidores ainda tiveram que ajustar postura diante da derrubada do veto de Bolsonaro pelo Congresso, que inviabiliza o teto de gastos com despesas que chegam a R$ 20 bilhões. Os bancos públicos também entraram no esforço de apoiar a recuperação com empréstimos para setores e empresas mais atingidas. Na área fiscal a mobilidade do governo é muito baixa.
Mesmo com tudo que os bancos e governos estão fazendo (aqui também), as projeções de crescimento do PIB só fazem encolher no mundo e aqui. Para o Brasil, já há quem projete PIB de 0,9% e quem projete recessão em pelo menos dois trimestres. Já o governo quer acelerar projetos junto ao Congresso e encaminhar as reformas que demoram.
No mercado, os DIs terminaram o dia com alta de juros e o dólar fechou com alta de 1,41%, com a moeda cotada a R$ 4,789, em novo recorde nominal. Na Bovespa, na sessão de 9/3, os investidores estrangeiros sacaram R$ 2,04 bilhões, deixando o mês de março já negativo em R$ 7,9 milhões e o ano com saídas líquidas de R$ 48,1 bilhões.
No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 10,87%, Paris com -12,28% e Frankfurt com -12,24%. Madri e Milão com quedas de respectivamente de 14,06% e 16,92%. No mercado americano, o Dow Jones encerrou com queda de 9,99% e o Nasdaq com -9,43%. Na Bovespa, dia de queda de 14,78%, com o índice em 72.582 pontos, depois de dois circuit breaker e de ter feito mínima em 68.488 pontos.
Na agenda de amanhã (sexta-feira 13), nenhum indicador importante, exceto a confiança do consumidor de Michigan de março. Portanto, investidores vão se fixar no noticiário de momento.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado