Ontem, a Bovespa teve dia de ajuste técnico em função dos feriados do Carnaval e com mercados no exterior abrindo com pesadas quedas. A Bovespa perdeu 7%, com o índice em 105.718 pontos (queda de 8.000 pontos) e com as três principais ações (Vale, Petrobras e Itaú) encolhendo cerca de R$ 115 bilhões em valor de mercado. O dólar, mesmo com a atuação do Bacen bateu novo recorde nominal desde o Plano Real e fechou com alta de 1,11% e cotado a R$ 4,44. O Bacen já anunciou nova operação de swap cambial tradicional de US$ 1 bilhão (20.000 contratos).
O dia está começando novamente tenso (até mais que ontem), com os investidores ainda buscando proteção no dólar e ouro. Mas a volatilidade dos mercados sugere que começa a aparecer investidores tentando compras de ocasião de ações que caíram muito. Hoje as Bolsas da Ásia terminaram o dia com viés negativo, mas Xangai e Hong Kong tiveram encerramento em alta pequena. A Europa começando o dia com comportamento bem negativo, diferente do comportamento de ontem de recuperação. Índices futuros do mercado americano operando em boa queda nesse início de manhã. Aqui, a Bovespa deve acompanhar tendência externa negativa e a perda do patamar próximo do encerramento de ontem pode acelerar ainda mais vendas.
Motivo da queda nem precisa citar. Claro que o coronavírus e sua expansão para além da China e Coreia do Sul, com possibilidade de a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar pandemia. Na China, são 78.491 infectados e nessa madrugada houve registro de mais 29 mortes. Nos EUA, o presidente Trump disse que o risco do coronavírus é baixo para os americanos e farão o que for preciso para conter expansão. Esperam liberação de recursos pelo Congresso, com a pedida em US$ 2,5 bilhões. Nos EUA, já são 15 infectados e oito já estão indo para casa. Apenas um é caso com tendência fatal.
Ainda nos EUA, o presidente Trump voltou a fazer carga sobre a postura do FED de manter juros estabilizados, dizendo discordar frontalmente dessa postura. Na Coreia do Sul, o banco central manteve os juros básicos estabilizados em 1,25% e a gigante Microsoft está revendo projeções para pior pelo vírus. Na zona do euro, o índice de sentimento econômico de fevereiro subiu para 103,5 pontos, de previsão de 102,3 pontos.
No mercado internacional, dia de queda do petróleo WTUI negociado em NY de 2,13% e com o barril cotado a US$ 47,69. O euro era transacionado em alta para US$ 1,09 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,30%. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas em quedas na Bolsa de Chicago.
A Fipe anunciou o IPC da terceira quadrissemana de fevereiro em desaceleração para 0,15%, vindo de anterior em 0,27% Já o IGP-M de fevereiro encolheu 0,04%, depois de alta de 0,48% em janeiro. Na área política, o Congresso só retoma mesmo as atividades depois da segunda-feira, mas isso não significa que as pressões sobre o presidente Bolsonaro não possam aumentar em função de declarações produzidas durante o Carnaval e convocação para a passeata em 15/3. A oposição está sabendo aproveitar isso.
No mercado, a expectativa é de Bovespa novamente em queda, dólar pressionado e juros em queda.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado
