No ICOMEX de fevereiro foi chamada a atenção para os impactos desfavoráveis sobre o desempenho exportador do Brasil associados a fatores externos: o acordo comercial entre a China e os Estados Unidos; e, o efeito da epidemia do coronavírus sobre crescimento da China, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Em relação ao primeiro impacto, não houve mudanças, mas cresce a preocupação com o escoamento da safra de soja que, segundo o IBGE, deverá ser 8,7% maior do que a de 2019. A redução das compras chinesas de soja associadas às obrigações do acordo com os Estados Unidos, a desaceleração do crescimento da China e a supersafra do Brasil irão pressionar para uma queda no preço do produto, que está entre os três principais produtos de exportação do Brasil. Os resultados do primeiro bimestre do ano registraram uma queda de 13% no valor exportado de soja em relação a igual período de 2019. Para a China, o recuo foi de 29% e para outros mercados foi observado aumentos acima de 100% (Holanda, Tailândia Rússia e Reino Unido). A China representa ao redor de 70% das vendas brasileiras do produto. Não é possível compensar a perda da China com outros mercados.

A epidemia do coronavírus se tornou uma pandemia e as projeções mais pessimistas são de queda no comércio mundial. Além da redução da demanda mundial, ganhou destaque o papel da China como fornecedora nas principais cadeias globais de valor na economia mundial. O Brasil não está imune a esse efeito. No primeiro bimestre do ano, o sexto principal produto importado foram aparelhos transmissores (celulares) e componentes e a China foi responsável por 60% dessas vendas (queda de 6% nas exportações chinesas). A China respondeu por 15% das compras de partes e peças para veículos (8º principal produto importado) e 22% das compras de circuitos integrados, ao lado da Coréia do Sul (28% das compras). Em adição, a China é fornecedora de componentes para fertilizantes. Adicionalmente, notícias veiculadas na impressa por associações de produtores de produtos eletro-eletrônicos e do setor automotivo também apontam problemas de entrega dos produtos chineses.

A queda no superávit da balança comercial brasileira de US&’65129; 4,7 bilhões de 2019 para US&’65129; 1,4 bilhões em 2020 reflete o menor dinamismo da economia mundial. As exportações reduziram 8,5%, em valor, mas as importações aumentaram 1,5%. Na análise dos índices de comércio exterior, porém, observa-se que a queda nas exportações foi puxada pelo recuo nos preços (-8,9%), pois o volume exportado registrou pequena variação positiva (+0,9%), na comparação entre os dois primeiros bimestres de 2019 e 2020. O volume importado aumentou em 2% e os preços declinaram em 10%.

O preço de exportação das commodities cai desde agosto de 2019, mas em fevereiro registrou um aumento associado ao agregado de carnes, minério de ferro e petróleo e derivados. No caso do petróleo, o início de março foi marcado pela reversão desse comportamento e com as perspectivas de piora na economia mundial, não deve haver melhora nos preços das commodities.

A escalada da desvalorização da moeda continuou em fevereiro. Entre dezembro e fevereiro, a taxa real de câmbio efetiva aumentou em 9%. Enquanto escrevemos o ICOMEX de março, piora nas expectativas quanto ao efeito do coronavírus e mais as turbulências no cenário doméstico acirraram a tendência da desvalorização do real. Esta instabilidade cambial e as incertezas quanto à trajetória da moeda criam um ambiente desfavorável para o comércio exterior.

Entre os três principais mercados de destino das exportações brasileiras, somente a China registrou variação positiva entre os dois primeiros bimestres em termos de valor (2,4%) e volume (5%). Para os Estados Unidos houve queda foi de 24% (valor) e de 19,6% (volume); para a Argentina, o recuo foi de 8,8% no valor e 8,5% no volume. No caso das importações, caíram em valor as importações chinesas (3,6%) e da Argentina (-16%). Chama atenção o crescimento das importações oriundas dos Estados Unidos: +33% em valor e +17,5%, em volume. Os elevados percentuais de variação observados nos Estados Unidos, sejam nas exportações ou nas importações, é explicado, em parte, pelas transações de máquinas de terraplanagem e perfuração: queda nas vendas (51%) e aumento nas compras (ao redor de 2.000%). Ressaltam-se também as quedas nas exportações de aviões, celulose e siderúrgicos para os Estados Unidos.

Destaca-se o caso da agropecuária com recuo de 18,7%. Uma das razões é a elevada base de comparação no início de 2019 com as sanções da China em relação à soja estadunidense. Além disso ainda não foi iniciado o período de escoamento da soja no mercado internacional.

Por sua vez, todas as indústrias registraram queda no volume exportado entre os dois primeiros bimestres. O aumento do volume importado na indústria de transformação chamou atenção num momento de desvalorização da moeda. No entanto, as compras podem se referir a expectativas de maior crescimento da indústria para 2020, ao redor de 2,5%, cujo desempenho começou a ser revertido em meados de janeiro. Lembra-se que os contratos de compras de máquinas e bens intermediários não são realizados num mercado “spot”.

A análise por categoria de uso da indústria de transformação mostra que o aumento do volume importado foi puxado pelos bens de capital (16,2%) seguido dos bens intermediários (3%). Observa-se que se forem excluídas as plataformas de petróleo, os bens de capital cresceram 28,4% entre os dois primeiros bimestres. Atribuímos parte desse aumento às compras de máquinas de terraplanagem oriundas dos Estados Unidos, como já mencionado.

Nas exportações de bens capital, se excluirmos as plataformas, a queda diminui para 17%. O recuo registrado de 51% foi, portanto, influenciado pelas exportações de plataformas em 2019.

As importações de máquinas e equipamentos pela indústria aumentaram 48,9% entre os meses de fevereiro e não há influência das plataformas. No caso da comparação bimestral, a variação aumenta de 16,3% para 28,5%, conforme a análise da indústria de transformação mostrou. As compras de máquinas e equipamento do setor agropecuário registraram queda.

As previsões sobre os efeitos e a duração da pandemia do coronavírus não são consensuais. Alguns consideram que a China irá se recuperar no segundo semestre, outros que os efeitos podem levar a uma nova recessão global. No âmbito doméstico, as reformas na área comercial estão em compasso de espera e as turbulências políticas afetam a trajetória cambial. No momento não há sinais positivos no comércio mundial.

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