Grandes empresas ligadas ao setor agropecuário nos Estados Unidos, incluindo Bayer, Nutrien e Cargill, disputam espaço com startups para incentivar produtores a adotar práticas sustentáveis e desenvolver o mercado de créditos de carbono. Varejistas, fabricantes de alimentos e outras empresas buscam, assim, compensar suas emissões de gases de efeito estufa pagando aos agricultores pela capacidade de suas lavouras de retirar o carbono da atmosfera e fixá-lo no solo. Os agricultores têm recebido por “plantar carbono” e são disputados nesse mercado.

Após meia década de preços não muito atraentes dos grãos, eles agora enxergam uma nova fonte de renda, menos dependente do clima e dos mercados de commodities agrícolas. A Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) estimou que o setor agrícola dos Estados Unidos seja responsável por 10% das emissões de gases de efeito estufa no país.

O foco das startups e das grandes agroindústrias e varejistas são as lavouras do Meio-Oeste dos EUA, cujas plantas, por meio da fotossíntese, captam o carbono do ar, incorporando-o ao solo e liberando, em troca, oxigênio. Se não for revolvido, o solo pode reter este carbono por anos. Desta forma, as empresas interessadas na fixação do carbono no solo – há anos criticadas como vilões ambientais – começam a pagar os agricultores para maximizar esse processo natural, aumentando a produtividade numa agricultura moderna e ainda apresentando soluções para as emissões de gases do efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas.

A administração do presidente eleito, Joe Biden, também planeja seguir o conceito. Biden disse este mês que, sob sua administração, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) direcionará os recursos federais voltados à conservação ambiental para os agricultores que adotarem a prática de fixação de carbono no solo.

Não há nenhuma exigência federal dos EUA para as empresas compensarem suas emissões de gases de efeito estufa. Mas, em novos tempos, algumas delas dizem que estão procurando voluntariamente maneiras de reduzir ou eliminar sua pegada de carbono, para atrair consumidores e investidores ambientalmente conscientes.

Em setembro, enquanto fazendeiros de Iowa estavam arando os campos após a colheita para ajudar a controlar o surgimento de ervas daninhas, o agricultor Kelly Garrett saiu para plantar novamente. O trigo e o centeio que ele semeou em sua fazenda perto de Denison, Iowa, não serão, porém, colhidos e vendidos. Manter seus campos cobertos de vegetação durante os meses de inverno, disse ele, enriquece o solo e aumenta a quantidade de carbono que seus campos “sequestram” da atmosfera. Na primavera, ele semeia a cultura seguinte sobre a palhada do trigo e centeio, aumentando, desta maneira, seus resultados financeiros.

No início de novembro, o agricultor recebeu, por um de seus campos de milho, um cheque de US$ 75 mil proveniente da venda de 5 mil créditos de carbono que a fazenda dele gerou por meio de um programa em desenvolvimento pelas startups agrícolas Nori LLC e Locus Agricultural Solutions. “Há muito dinheiro a ser ganho aqui para os agricultores”, disse Garrett, que adotou práticas de captura de carbono há vários anos para ajudar a enriquecer seu solo.

O comprador do carbono de Garrett foi a Shopify, uma plataforma de e-commerce que usa a fixação de carbono ocorrida na fazenda para compensar as emissões dos barcos, aviões e caminhões que transportam mercadorias vendidas por meio da plataforma.

Algumas empresas agrícolas, incluindo Bayer e Nutrien, bem como startups como Nori e Indigo Ag, atuam como intermediários de carbono, oferecendo produtos e serviços para desenvolver plataformas onde créditos gerados por agricultores podem ser comprados e vendidos.

Outras, incluindo Cargill, Corteva e Archer Daniels Midland Co. (ADM), estão facilitando e financiando os esforços dos agricultores como uma forma de aprimorar os compromissos climáticos das próprias empresas e de seus clientes.

Os agricultores que participam dos programas de crédito de carbono até agora geralmente recebem entre US$ 7 e US$ 40 por acre (cada acre equivale a 4 mil metros quadrados), dependendo das práticas dos agricultores.

As empresas afirmam que essas práticas podem ser verificadas por meio de dados transmitidos online a partir das máquinas agrícolas que trabalham no campo para sistemas de gerenciamento de fazendas, e pelo monitoramento dos campos com satélites e testes de solo. Um típico agricultor de milho de Iowa este ano ganhará de US$ 49 a US$ 246 por acre, de acordo com análises da Iowa State University.

“A única maneira de isso funcionar é se houver receita real na mesa para os agricultores”, disse a diretora de Ciência e Sustentabilidade da Corteva, Emma Fuller, que está ajudando a gerenciar os dados de carbono dos agricultores.

(Com Dow Jones Newswires)