Por Marília Carvalho de Melo, Secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais

Também é Colunista Plurale

Dia 22 de março comemoramos o dia mundial das águas. Nesse ano de 2021 a Unesco coloca em pauta o tema Valor da água. A nossa lei fala que a água é um recurso natural limitado e dotado de valor econômico.

Historicamente a relação do homem com a água é diversa e determinou o passado, o presente e determinará o futuro. As comunidades tradicionais têm relações religiosas com a água, que define a sua forma de lidar com a água e a sua preservação. Os agricultores, que no início ocuparam as margens do rio Nilo para produzir, buscaram técnicas e formas de ampliar a produção agrícola fortemente dependente da presença da água. Não diferente foram as indústrias cuja dependência não se dá só pela água enquanto insumo, mas também da água como propulsora de máquinas hidráulicas que aumentam a produção e da água que provê energia pelas hidroelétricas. A dependência da humanidade com a água determinou que as cidades tenderam a se desenvolver próximas a áreas que tinham água disponível.

Entretanto, ao logo do tempo a relação da água se transformou. As cidades começaram a utilizar os seus rios como modais logístico de transporte de esgoto e mesmo lixo, degradando assim sua qualidade e disponibilidade. Além disso, o crescimento populacional gerou um incremento proporcional na demanda pela água para o consumo humano, para alimentos e para a produção de bens e insumos requeridos pelas pessoas. A água se degradou em qualidade, se tornou um recurso mais escasso e hoje a sociedade moderna se questiona, em meio a uma crise hídrica já instalada, como alterar essa realidade.

A base do pensamento econômico é a relação da oferta e da procura, no caso da água pode ser traduzido na relação disponibilidade e demanda. Temos um mundo de disponibilidade escassa, seja por requisitos de quantidade (recurso natural limitado) ou pela restrição imposta pela qualidade degradada de alguns rios, e de demanda crescente. A partir daí estabelece-se o valor da água.

Entretanto, decorrente de uma cultura milenar da gratuidade dos recursos naturais, não damos à água o seu real valor. No nosso imaginário isso poderia ser estabelecido se cada um de nós fizéssemos uma reflexão do custo da falta de água nas nossas vidas. Quanto custaria a um agricultor não ter água para a sua produção? Ou a uma indústria?

A reflexão sobre o valor da água ou o custo da sua ausência culmina no entendimento da sua essencialidade para a sobrevivência da humanidade. A parir daí que se deve definir o olhar para o futuro para a garantia da segurança hídrica. No equilíbrio da oferta pela recuperação das reservas de água, no impulsionamento do saneamento nas cidades e por políticas restauração florestal integrada a técnicas conservacionistas de água e solo nas áreas rurais. Ou aplicação de técnicas consagradas de engenharia conhecidas como infraestruturas hídricas. No campo da demanda, a racionalização do uso deve ser uma busca constante que se materializa com a aplicação da técnica e aprimoramento tecnológico no uso da água nas atividades agrícolas ou industriais. Cabe aqui a máxima: fazer mais com menos. Ou seja, produzir mais com a menor quantidade de água possível. Adicionalmente o incentivo ao reuso de águas servidas, esgoto tratado, efluentes industriais que na perspectiva da economia circular, estabelecem circuitos fechados de produção e produtividade. Pois bem, a essencialidade da água determina o seu valor e determina, em igual proporção, a urgente ação para segurança hídrica da humanidade e para a sobrevivência da humanidade.