Por Luiz Antônio Gaulia, Colunista de Plurale (*)



A sigla ESG vem do inglês Environmental, Social and Governance e ganha, a cada ano, maior relevância e atenção entre as lideranças empresariais. Podemos dizer que foi em 2004 que o conceito ESG começou a conquistar a atenção geral das empresas, a partir do lançamento de um relatório das Nações Unidas cujo título, bastante inspirador, era “Who Cares Wins”. Numa livre tradução, algo como “Quem Cuida, Ganha”. O líder dessa iniciativa foi Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU, que havia convidado os CEOs das 50 maiores instituições financeiras mundiais (apenas 21 participaram de fato) para criar um guia prático e capaz de integrar diretrizes e recomendações de critérios ambientais, sociais e de governança aos mercados de capitais.

A proposta também iria contribuir para preencher a percepção negativa do gap existente entre investidores, o setor financeiro e as questões ambientais, sociais e de governança. Se a iniciativa de construir uma imagem positiva pode ser considerada uma forma de gerar valor e capitalizar a marca de uma empresa, propor soluções para problemas ambientais e sociais, bem como ter uma governança corporativa mais transparente e confiável, facilitaria olhar para bancos e financeiras com mais simpatia.

Grandes instituições financeiras passaram, assim, a integrar fatores ESG materialmente relevantes no monitoramento de desempenho e de medição de sistemas de incentivos para analistas e gestores de fundos. O dinheiro deveria ser empregado em corporações e negócios que fossem mais responsáveis diante de questões sociais, ambientais e até mesmo de honestidade e prestação de contas. Através dessa lupa da ESG, os financiadores e bancos de investimentos ao redor do mundo teriam critérios mais seguros para empregar o capital. A ESG reduziria riscos e crises potenciais no futuro. Faz sentido para você?

Assim, diante de uma preocupação crescente de cidadãos, empregados,fornecedores, ONGs, governos e comunidades com as pessoas e o planeta, bem como das empresas e dos acionistas com os lucros, as diretrizes de uma boa gestão baseada na criação de valor para os acionistas e nos princípios ESG destacam vantagens competitivas, como (1) :


• Identificação precoce de riscos em potencial, bem como ameaças ou possíveis falhas de gestão;

• Novas oportunidades de negócios oriundas da análise de riscos e oportunidades;

• A satisfação e a fidelidade de clientes em diferentes tipos de mercado;

• A reputação da marca como ativo de atração e admiração;

• Novas alianças e parcerias de negócios;

• Redução da intervenção regulatória e de multas;

• Redução de custos em geral, além de menor custo de acesso ao capital;

• Mais simpatia de comunidades para receber investimentos e aprovar a chamada “licença social para operar” (2).

Ao propor caminhos para investimentos em empresas sustentáveis, as instituições financeiras privadas de grande influência no mundo empresarial estavam criando um novo modelo de garantia para seus investimentos e empréstimos.O fato é que as questões envolvendo ESG servem como uma espécie de airbag para proteger a reputação das empresas, uma vez, que ao conhecer melhor variáveis econômicas, ambientais, sociais e de governança corporativa, coloca luz sobre pontos fracos e fortes, temas relevantes e potenciais gerados de lucros ou prejuízos.

Um colchão reputacional pode ser criado quando entendemos o negócio com uma visão mais sistêmica, ampla e mais cuidadosa sobre os temas que podem se tornar grandes dores de cabeça para gestores. A pergunta que fica, em tempos de pandemia e de abalos profundos nas economias dos países, é saber se mais um “E” ganha mais força quando pensamos nas letrinhas ESG. A economia e o dinheiro são as molas que impulsionam investimentos sustentáveis. Quando recursos financeiros são dilapidados, os riscos sociais se ampliam exponencialmente – e,
com eles, os riscos ao meio ambiente também crescem. Se a ESG é o airbag da reputação, a EESG, com o E de “economics”, é a combinação para a prosperidade e para o progresso de povos e nações.

(*) Luiz Antônio Gaulia é Colunista de Plurale. É Mestre em Comunicação e Sustentabilidade pela PUC-Rio, especialista em Comunicação Empresarial. Trabalhou com marcas e empresas de grande porte como CSN, Light, Votorantim, Alunorte, Vale, O Boticário e Ajinomoto e Norsul.

(1). Estas diretrizes estão baseadas nas diretrizes presentes no documento Who Cares Wins. Connecting Financial Markets to a Changing World, acessível em: http://documents1.worldbank.
org/curated/en/280911488968799581/pdf/113237-WP-WhoCaresWins-2004.pdf

(2). A chamada “licença social para operar” não é uma obrigação legal ou exigência regulatória. Na verdade, é uma espécie de aceitação da comunidade para receber um novo investimento no território no qual uma usina, uma refinaria, um porto ou uma mineração pode iniciar novas operações. A comunicação neste sentido também é fundamental para o sucesso de um empreendimento no início de sua instalação e ao longo de suas obras e funcionamento.